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03/11/2009 13:40 - RFID: a internet das coisas

O supermercado Mairinque, localizado na cidade de mesmo nome, a 65 km de São Paulo, queria fazer algo diferente neste ano para homenagear os namorados no dia 12 de junho. Além do tradicional jantar oferecido a um grupo de casais sorteados, o supermercado decidiu proporcionar uma experiência mais interativa utilizando a tecnologia RFID (identificação por ondas de rádio). Ao entrarem no salão de festas, os jovens recebiam uma rosa com uma etiqueta inteligente e pisavam num tapete "mágico" cheio de pétalas. As flores se abriam aos seus pés e os casais podiam visualizar suas imagens e nomes num telão com as saudações do Mairinque. 
 

 

"Eles ficaram encantados, porque isso é uma novidade para todos, especialmente para a população local", afirma o diretor do supermercado, Gustavo Perin. O sucesso da promoção foi tanta, que no começo de 2010 estará funcionando dentro do estabelecimento um projeto utilizando RFID, com gôndolas inteligentes, antenas, etiquetas, coletores móveis e softwares específicos. "Vamos instalar a tecnologia na seção de cama, mesa, banho e vestuário, cujos produtos têm tíquete médio maior e podem comportar uma solução como essa. "Não poderia hoje colocar uma etiqueta inteligente (smart tag) em um produto que custa menos do que ela (custo médio unitário de US$ 0,50)", avalia Perin.
 


O supermercado Mairinque é considerado de médio porte e só tem uma loja na cidade, com 2 mil metros quadrados e cerca de 16 mil itens. O projeto de RFID ficará limitado a uma área de 35 m², com solução da Vip Systems. Serão instaladas antenas sem fio e telas nas gôndolas, e etiquetas com chips que serão lidos pelas antenas conectadas aos leitores em rede. Tão logo o consumidor pegue uma peça da gôndola, ele será "estimulado" a comprar outra coisa relacionada à mercadoria recém-adquirida, pela tela de cristal líquido. "Se um short é retirado da prateleira, o sistema identifica o produto e mostra no computador que ele saiu dali", explica Perin. "Ao mesmo tempo, ele sugere ao consumidor outra peça do vestuário, uma blusa, por exemplo, para combinar com aquela que ele está comprando".
 


Além disso, esse tipo de gôndola eletrônica pode modificar os preços dos produtos nas prateleiras conforme decisão do lojista. O computador mostrará, ao final do dia, se as promoções tiveram o êxito esperado. Por enquanto, o Mairinque terá um custo mínimo com a aquisição do hardware, no máximo de R$ 20 mil, já que a integração toda é feita pela empresa fornecedora da solução. "Seremos uma espécie de laboratório de RFID, mas com funcionamento em um ambiente real", diz Perin.  
 


Em agosto passado, a unidade do Pão de Açúcar no Shopping Iguatemi adotou novos recursos de TI para facilitar as compras de seus clientes do programa Mais (fidelidade). Foram instalados coletores móveis na porta da loja e distribuídos aos consumidores. Os equipamentos fazem a leitura das mercadorias (ainda pelo código de barras) e fornecem informações sobre preços, peso, receitas, pontuação no programa fidelidade e as ofertas na loja. A loja do Iguatemi já etiquetou os vinhos da adega com as tags inteligentes de RFID, cujos chips permitem aos caixas lerem o preço dos itens a distância, sem que a garrafa precise sair do carrinho. A inovação se completa com a inclusão de informações sobre procedência do vinho, tipo de uva e safra que serão visualizadas quando a garrafa é aproximada de um dos quiosques multimídia da loja. São mais de 300 tipos de vinhos.

 


Alta tecnologia surfando nas ondas do rádio

 

Ninguém duvida de que o RFID irá substituir o código de barras. A barreira do custo vem caindo, os sistemas estão mais acessíveis e surgem novas aplicações.

 

O Shopping Center Norte promoveu no mês de outubro o Dia das Crianças interativo, com ajuda do RFID (Radio Frequency Identification) em algumas brincadeiras. As crianças cadastradas na promoção recebiam um crachá com a etiqueta contendo o código eletrônico. Na praça interativa, elas eram fotografadas e, enquanto percorriam o ambiente, suas fotos e nomes eram projetados num telão. Na quadra de futebol, cada menino que fazia o gol tinha sua imagem mostrada na tela com uma saudação.
 


A diretora de Marketing do grupo Center Norte, Gabriela Baumgart, diz que foi a primeira experiência de uso de RFID em shopping center no País. Duas mil crianças participaram do projeto durante 10 dias. "Tivemos um ótimo resultado junto aos pais e às crianças, acho que os lojistas deveriam pensar seriamente nessa nova tecnologia para promover suas vendas". Segundo Baumgart, o principal entrave para a implantação de um sistema sofisticado como este, que são os custos dos equipamentos e das etiquetas, já começam a ficar viáveis.
 


Uma das principais defensoras do RFID é a empresária Regiane Relva Romano, especialista no assunto, mestre em gerenciamento de sistemas de informação e a única pessoa da América Latina convidada pelo Comitê Europeu Internet of Things (internet das coisas) para compartilhar seu conhecimento sobre a tecnologia. O comitê europeu está avaliando o uso de RFID para os próximos 20 anos. Regiane, que concentra seus projetos no atacado e varejo, diz que a tecnologia será tão ou mais revolucionária do que o código de barras foi há 30 anos.
 


Custos - "Estamos vivendo as mesmas expectativas de 30 anos atrás, quando o código de barras começou a ser adotado com muita desconfiança pelo mercado", afirma a executiva, diretora da Vip Systems Informática. "Tudo era caro e inacessível ao pequeno e médio varejista.

 

Hoje, todas as lojas têm condição de ter uma solução de código de barras, até porque virou lei", lembra. Ela observa que os custos para a implantação da tecnologia estão caindo no mundo todo. "Os equipamentos de leitura das tags (ainda em torno de US$ 2.000), passarão a custar, em poucos anos, apenas US$ 100, tornando possíveis projetos a qualquer tipo e tamanho de estabelecimento", estima a executiva. As antenas, que se conectam ao chip das etiquetas e se integram aos sistemas de entrada e saída das mercadorias, são avaliadas hoje em US$ 500; as etiquetas custam em torno de US$ 0,50 (até o ano passado elas tinham preço de US$ 1, e agora estão ficando mais baratas porque começam a ser fabricadas na China). Já existem etiquetas com chips impressos em papel ao preço de US$ 0,15. O software para integrar todos os equipamentos sai por US$ 2.000.
 

 

Apesar de não ser novo, o RFID promete revolucionar todos os segmentos do mercado, atacado, varejo, logística, controle de acesso, serviços de órgãos públicos, agropecuária, segurança e saúde. Para o varejo foi criado o EPC (Electronic Product Code - código eletrônico de produtos), ou seja, um número único que não se repetirá e é capaz de armazenar várias informações: fabricante, país de origem, lote, validade etc. No Brasil, o sistema de pedágio Sem Parar já usa o sistema para identificar os carros. Também são feitos rastreamento de gado e de veículos, controles de acessos e de eventos, e algumas experiências na logística e no varejo no País.
 

 

Além das inúmeras vantagens para a logística e garantia de agilidade no check out, controle de estoques, suprimento, e melhoria do relacionamento entre lojas e fornecedores, um dos focos da tecnologia no varejo é dar ao cliente o produto certo, na hora certa e pelo menor preço possível. "Um dos grandes problemas do comércio é a falta de produtos nas gôndolas, gerando perdas e demora no check out. O cliente leva tempo para comprar, mas ao sair da loja quer atendimento imediato, sem filas", lembra Regiane.
 

 

Mas a ideia também é "encantar" o consumidor. Uma aplicação interessante desenvolvida pela Vip Systems é o provador inteligente. Ele dispõe de uma tela e uma antena para identificar as peças na mão do cliente já etiquetadas com EPC. Ao entrar no provador, o sistema identifica a roupa nas mãos da pessoa e solicita ao vendedor (pelo celular ou outro dispositivo) outra peça ou tamanho diferente. Se o cliente tiver um cartão fidelidade da loja com o chip, o provador já "saberá" quem é essa pessoa e poderá sugerir combinações melhores para a roupa que ele está vestindo, o que aumenta o tíquete médio da compra. Se a pessoa for uma consumista, então, será uma festa.
 

 

O protótipo desse provador foi mostrado na Universidade de Arkansas (EUA) com outros projetos da Vip Systems. Alguns deles foram a gôndola interativa (com inventário inteligente para o controle do estoque dos produtos), o PDV para leitura dos itens sem que eles precisem sair do carrinho, o Wellcome, para controle de acesso e identificação dos clientes com mensagem de boas vindas e um programa de gestão para o varejo, preparado para rodar com o código eletrônico EPC.
 

 

O diretor da Provectus Tecnologia, Rui Freitas, cuja empresa fornece soluções e softwares de RFID, biometria, código de barras e faz integração aos processos dos seus clientes, diz que é só uma questão de tempo para a tecnologia ficar mais popular. Alguns limites físicos que existiam antes – como colocar uma etiqueta EPC num bloco de motor – já foram solucionados. "Estou nesse mercado desde 1979, lembro das dificuldades enfrentadas com o código de barras. Hoje ninguém imagina um produto sem ele". No ano passado, a Provectus foi uma das responsáveis pela leitura de etiquetas inteligentes na Super Casas Bahia (aberta só para o Natal).

 


Veículo: Diário do Comércio - SP

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