Com as altas taxas do rotativo do cartão de crédito (quando o cliente não paga o valor total da fatura, deixando um saldo para o mês seguinte) — os juros chegam a 450% por ano, em média —, o cartão de débito pré-pago ganha mercado no Brasil. Segundo dados da Aceso, uma das maiores operadoras deste tipo de serviço, a empresa emitiu, em 2013, cerca de cem mil cartões do gênero. Em 2015, foram mais de 510 mil (uma alta de 410% em dois anos). Para 2016, a meta é reunir mais de 1,4 milhão de usuários.

Um dos fatores que explicam o crescimento é a facilidade para ter acesso ao cartão pré-pago. Para conseguir um, o consumidor não precisa ter conta-corrente em banco, tampouco se preocupar em caso de furto ou extravio. Se acabar o crédito, não há risco de o usuário entrar no vermelho e gerar uma dívida.

Segundo a Associação das Empresas de Cartões (Abecs), a inadimplência no rotativo do cartão hoje está em 36% e, de acordo com o Banco Central (BC), levando em conta todas as linhas de crédito para pessoas físicas, a inadimplência chega a 4,3%.

Após se endividar com o descontrole nos gastos do cartão de crédito, o publicitário Guilherme Cesca, de 23 anos, resolveu partir para a modalidade pré-paga. Segundo ele, o controle financeiro oferecido pelo serviço é a maior vantagem.

— Conheci o serviço por intermédio de uma amiga, que também teve problemas com o rotativo do cartão de crédito. Hoje, depois que consegui me organizar financeiramente, não penso mais em ter contas no fim do mês.

Para o presidente da Acesso, Sergio Kulikovsky, este serviço atrai diferentes perfis de consumidores, mas principalmente, quem quer evitar dívidas, que podem se transformar numa bola de neve em pouco tempo:

— São vários os consumidores que buscam o cartão pré-pago, dos jovens que querem para fazer compras pela internet até os que pretendem evitar dívidas no fim do mês. Vale lembrar que, com essa modalidade, não existe maneira de gastar mais do que se tem no bolso. Esta é a grande vantagem.

Saiba mais detalhes

Educação financeira

Segundo o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e educador financeiro Antonio Everton, o cartão pré-pago é um facilitador para controlar os gastos, mas não resolve o problema, por exemplo, de quem não se organiza financeiramente. Para ele, este tipo de serviço faz uma restrição no orçamento e ajuda a reservar a quantia de dinheiro que o usuário pode gastar durante o mês. Porém, é preciso listar todas as despesas mensais para saber de quanto pode dispor para carregar no cartão.

Como funciona

O funcionamento do cartão é semelhante ao de um celular pré-pago. O usuário o recarrega com um certo valor e, quando o dinheiro acaba, o cliente só pode voltar a usá-lo após uma nova carga ( que deve ser feita por meio de um boleto bancário ou de uma transferência feita pela internet, dependendo da instituição que oferece o serviço). Há cobrança de uma taxa para inserir o crédito na maioria das instituições financeiras.

Onde encontrar

Os interessados no pré-pago podem ter acesso ao serviço por intermédio de alguns bancos ou empresas que só oferecem esta modalidade. Instituições financeiras como o Banco do Brasil e o Itaú dispõem do serviço, que pode ser solicitado pela internet ou em agências bancárias. No Itaú, com o cartão pré-pago recarregável, é possível pagar mesadas para os filhos e despesas de colégio ou faculdade, enviar dinheiro com segurança para pessoas distantes e controlar gastos domésticos feitos por outras pessoas. É possível ainda realizar as recargas acessando um cadastro na web. O usuário paga a taxa de emissão de R$ 15 e a manutenção mensal de R$ 4,50.

Banco do Brasil

O pedido do cartão deve ser feito numa agência do banco. A instituição oferece o serviço com uma taxa de emissão no valor de R$ 15 e uma manutenção mensal de R$ 5.

Veículo: Portal O Globo