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05/10/2015 12:59 - ‘Tijolões’ caem no gosto do consumidor e se consolidam no mercado de celulares

Aparelhos com tela de 4 e 5" ultrapassaram os celulares menores e abocanharam, em 2014, 52% do mercado brasileiro; neste ano, aparelhos maiores que esses começaram a ganhar espaço e já respondem por 36% das vendas no País

 

 

Trinta e dois anos separam o início das vendas do primeiro celular no mundo – um Motorola que pesava quase 800 gramas e tinha 33 cm de comprimento – do último lançamento da Apple. O iPhone 6s Plus chegou ao mercado há quase um mês com 192 gramas e 15,8 cm. Nessa linha do tempo, os tijolões foram diminuindo de tamanho, até chegar aos 9,8 cm com o famoso StarTak da Motorola, em 1996, que se tornou um dos celulares mais vendidos da época. Nos últimos anos, ainda que mais leves e mais finos, os “tijolões” começaram a voltar.

 

No início, nem todo mundo acreditou que eles fossem vingar. Até Steve Jobs, o fundador da Apple, defendia que o aparelho tinha de ser pequeno, para que o polegar chegasse a todos os cantos da tela sem muito esforço. As estatísticas têm provado, no entanto, que Jobs estava equivocado. Os consumidores estão animados com os novos tamanhos de celulares e as fabricantes, isso inclui a Apple, estão correndo para atendê-los.

 

Segundo pesquisa realizada pela consultoria de tecnologia IDC e cedida com exclusividade ao Estado, 83% dos smartphones comercializados no Brasil em 2012 possuíam telas menores que 4”. Outros tamanhos, nesta época, eram insignificantes. No ano passado, entretanto, os aparelhos com tela de 4” e 5” ultrapassaram os celulares menores e abocanharam 52% do mercado. Agora, no primeiro semestre de 2015, um novo segmento começou a crescer e a tirar espaço dos celulares entre 4 e 5 polegadas, que dominavam as vendas. Hoje, 36% dos smartphones comercializados possuem telas acima de 5’’ – um nicho até pouco tempo atrás nem aparecia nas pesquisas de mercado do setor.

 

A evolução dos tamanhos dos celulares está longe de ser um capricho de design. Tem a ver com funcionalidade e com a quantidade de recursos que eles precisam entregar aos usuários. Segundo dados do relatório Mobile Report divulgado pela Nielsen Ibope, no segundo trimestre deste ano, 72,4 milhões de brasileiros usam internet no celular – número que só avança. Em média, eles instalam 16 aplicativos em seus aparelhos, de acordo com dados da empresa de pesquisas comScore. No México, onde o uso é ainda mais frequente, a quantidade média de apps por celular chega a 22.

 

“A função do celular se alterou com o decorrer do tempo”, comenta Roberto Soboll, diretor sênior de produtos da área de dispositivos móveis da Samsung, a primeira fabricante a apostar em telas maiores. “Antigamente, o celular precisava se encaixar no espaço entre a orelha e a boca. Hoje, precisa encaixar na mão, já que ver vídeos, utilizar aplicativos e acessar sua rede de contatos é mais importante do que telefonar.”

 

O presidente da Sony Mobile no Brasil, Ricardo Junqueira, diz que os smartphones com tamanho de tela superior a 5 polegadas se tornaram bem importantes para o setor e para a empresa. Atualmente, 46% do portfólio da Sony é composto por produtos com telas acima de 5” e 15% acima de 5,5”. No início de setembro, a fabricante lançou o XperiaTM C5 Ultra Dual, com tela de 6”.

 

“Com a tendência de realizar a maior parte das atividades da internet por meio do smartphone, seja na rua ou até mesmo em casa, o consumidor está abraçando cada vez mais a tendência de telas maiores para uma experiência mais completa em entretenimento, como assistir a filmes, jogar games, ler livros e navegar na internet e nas redes sociais”, explica o executivo.

 

Segundo ele, na Sony, as vendas da categoria acima de 5,5” teve um crescimento de 163% em unidades, neste ano, comparado ao mesmo período de 2014.

 

Marcas novas também apostam nas telas grandes. A brasileira Quantum, por exemplo, acaba de lançar seu primeiro smartphone: o Go, um aparelho inteiramente desenvolvido e fabricado no País. A aposta da empresa acompanhou a demanda dos clientes: o novo celular vem com uma tela de 5 polegadas. “Em nossa opinião, este é o tamanho ideal”, comenta Vinícius Grein, diretor de produto da marca, que pertence à Positivo. “É uma tendência celulares maiores e com uma boa ergonomia. E as 5” cumprem essa função. Aqui no Brasil, este tamanho já pegou e é difícil ver lançamentos de smartphones menores do que isso.” Em breve, segundo Grein, a Quantum deve apostar em celulares ainda maiores. “Apesar de estarmos há pouco tempo no mercado, já vemos a possibilidade de lançar produtos ainda maiores”, diz.

 

Mercado

 

O interesse dos fabricantes tem razão de ser. No primeiro semestre deste ano, a venda de celulares caiu 17% no Brasil, segundo dados do IDC. Mas os smartphones com telas grandes não sentiram os efeitos da crise. “Os produtos mais caros e com telas acima de 5,5 polegadas não acompanharam a queda nas vendas”, comenta Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da IDC Brasil. “Esse nicho, ao contrário dos outros, continuou crescendo.”

 

Os smartphones com tela de 5 a 5,5 polegadas caminham para se tornar a maior fatia do mercado de smartphones. “Apesar de ainda não ser o nicho mais comum, os celulares com 5 e 5,5 polegadas devem, até o fim do ano, representar a maior fatia do mercado de celulares”, diz Sakis.

 

Com o sucesso, as fabricantes estão, aos poucos, migrando as grandes telas para a faixa de preço conhecida como “mid”, de aparelhos que custam entre R$ 800 a R$ 1 mil. “A demanda por telas grandes vem de todos os nichos de mercado, inclusive dos usuários que optam por aparelhos mais acessíveis”, diz Fábio Faria, da LG, que acaba de levar a tendência para o Prime Plus, modelo intermediário com 5 polegadas de tela.

 

A Samsung, que está apostando na tecnologia de ponta em celulares mid com a linha de smartphones Galaxy J, vê como uma tendência a movimentação de alta tecnologia para celulares mais baratos. “Depois de atender os top de linha, a tecnologia migra para os modelos mais baratos”, diz Soboll.

 

No exterior, a Xiaomi já faz sucesso na categoria mid com o Remi Note 2, um smartphone de 5,5”, que custa US$ 125. O modelo teve 1,5 milhão de unidades vendidas na China, quebrando recorde no setor.

 

 

Tamanho de smartphones pode ter chegado ao limite

 

 

Os celulares cresceram tanto nos últimos anos, que já não é tarefa tão simples distingui-los dos tablets – cuja definição é qualquer dispositivo com tela sensível ao toque que tenha mais de sete polegadas.

 

Esses aparelhos que ficaram no meio do caminho entre o smartphone e o tablet foram batizados, em 2011, de phablets. O nome passou a ser usado extensivamente por fabricantes ao redor do mundo para designar dispositivos que ficam no limiar entre um e outro.

 

Celulares desta categoria, como o Galaxy Note e o Lumia 1520, por exemplo, criam dúvidas sobre o que é um e o que é outro. E principalmente: fazem o mercado se preocupar com a entrada dos smartphones nas vendas dos tablets. No primeiro semestre deste ano, segundo a consultoria IDC, o mercado brasileiro viu a venda de tablets cair 20%. Foram comercializados 1,7 milhão de unidades no período – 400 mil aparelhos a menos que em 2014.

 

Quando os números foram divulgados, especialistas do setor chegaram a dizer que a queda fora motivada não só pela crise econômica, mas também pela canibalização de mercado, com phablets tomando o espaço que era dos tablets.

 

O consultor da IDC Brasil, Reinaldo Sakis, no entanto, discorda dessa tese. “Um tablet de 7 polegadas é considerado simples e tem características menos avançadas”, diz Sakis. “Já um smartphone de 6 polegadas é top de linha. Os dois produtos não entram em conflito por causa disso.”

 

A dúvida que fica é até quando os smartphones continuarão aumentando de tamanho. Para Sakis, essa evolução chegou ao limite. “Se passarem disso, eles se tornarão aparelhos desconfortáveis e difíceis de usar.” Ele acredita que toda tecnologia voltada para a tela começará a ser empregada na busca de outras inovações, como novos formatos e melhores características técnicas. O próximo é levar a tecnologia de telas dobráveis ao grande público.

 

 

Veículo: Jornal O Estado de S.Paulo

 

 

 

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