Para o sócio-fundador do Grupo ABC, Nizan Guanaes, Rio Grande do Sul poderia se tornar uma potência digital

O Rio Grande do Sul poderia se tornar o estado mais competitivo do Brasil caso se focasse no desenvolvimento de um ambiente de negócios ligados à inovação e à tecnologia. Essa é a avaliação do sócio-fundador do Grupo ABC, Nizan Guanaes. Para o empresário, o Estado já reúne as condições necessárias para assumir a condição de protagonista na área digital. No entanto, ainda esbarra nas próprias características, como a resistência a mudanças e a desunião, para alcançar essa condição.

“O Rio Grande do Sul tem tecido empresarial, intelectual e acadêmico, mas precisa mudar sua mentalidade. O Estado é um ponto fora da curva no meio digital, mas tem um problema que dificulta as coisas: o gaúcho adora conversar com ele mesmo. É o penso, logo hesito”, diz Guanaes, que ontem esteve em Porto Alegre para palestrar no CEO Forum, da Amcham Brasil. Nesse sentido, o publicitário lembra que o Rio Grande do Sul precisa começar a sair da zona de conforto, não tendo medo de arriscar e adotando um pensamento global.

Para Guanaes, “está na hora de o Rio Grande do Sul pegar a vocação que tem para a inovação e tecnologia e se atracar nela”. Para alcançar esse objetivo, na percepção do empresário, o Estado deveria se tornar mais simpático à troca de experiências com quem é de fora da região. Ele acredita que a região Sul, em especial o Rio Grande do Sul, tem um culto a ficar calado. “Vocês (gaúchos) fazem as coisas bem feitas, mas preferem não divulgar para ninguém. Assim, acabam virando centros de excelência anônimos. É algo meio europeu. Mas nesse aspecto é preciso ser mais americano”, compara.

O dirigente destaca que as empresas gaúchas que fazem sucesso além do Estado são justamente aquelas que fugiram dessa “regra”. Guanaes cita que é importante construir marcas sólidas para que aquilo que ocorre no Estado ganhe proporção e seja difundido também no resto do País. “O Rio Grande do Sul tem enorme capacidade para fabricar produtos, mas vocês precisam ser desafiados a fabricar marcas”, analisa.

Inicialmente, a palestra de Guanaes iria abordar aspectos relativos à competitividade do Brasil. No entanto, o publicitário decidiu adotar um enfoque regional na conversa. Circulando pela plateia, com o microfone em mãos, ele afirmava que “tinha fé no Rio Grande do Sul”. Nesse contexto, lembrou que vem reforçando os investimentos do Grupo ABC em solo gaúcho.

Há alguns meses, a empresa se tornou sócia da agência Escala, que passou a ser a maior operação do segmento publicitário no Estado. Mesmo com a ida da agência para o guarda-chuva do grupo, Guanaes não pretende alterar em nada a atuação da companhia. “Estamos muito felizes em sermos sócios da Escala, mas não vai mudar nada. Eu sou o único baiano da agência e o resto continua tudo gaúcho”, destaca.

Em relação ao cenário pós-eleições, Guanaes lembra que o empresariado brasileiro está pedindo mudanças em relação aos gargalos que atrapalham a competitividade do País e se mostra esperançoso em relação ao novo mandato da presidente Dilma Rousseff.



Veículo: Jornal do Comércio - RS