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16/05/2013 11:10 - Por Credicard, Itaú paga múltiplo maior que o seu

Os R$ 2,767 bilhões que o Itaú Unibanco acertou pela aquisição da Credicard embutem um prêmio em relação aos múltiplos a que o próprio banco é negociado em bolsa.

Embora não tenha sido divulgado um balanço pro forma do ativo adquirido, pessoas que tiveram acesso aos números da operação, que inclui uma promotora de vendas e exclui alguns portfólios de cartões, afirmam que o lucro da Credicard em 2012 estaria um pouco acima de R$ 200 milhões, com um patrimônio na casa de R$ 1 bilhão. Ou seja, o valor que o Itaú pagou pela unidade de cartões do Citi representaria um múltiplo entre 12,5 e 13 vezes o lucro líquido da Credicard e de cerca de 2,65 vezes o patrimônio líquido da operação.

São números um pouco acima daqueles que o próprio Itaú exibe. O banco presidido por Roberto Setubal tem uma relação de valor de mercado por lucro líquido anualizado na casa de 12,3 vezes. Já a relação entre preço e valor patrimonial é de 2,0 vezes. Para fins de comparação, para o Bradesco as proporções são 12,2 e 2,0 vezes, respectivamente. Os dados são de levantamento feito pelo Valor Data. Grosso modo, o múltiplo de preço por lucro representa o número de anos necessários para se obter o retorno do investimento. Em geral, é usado para comparações setoriais.

A aquisição da Credicard foi bem recebida pelo mercado. A ação do Itaú Unibanco fechou o pregão de ontem com alta de 1,68%, cotada a R$ 35,10. O Ibovespa registrou avanço de 0,65%.

Para analistas do BTG Pactual e do Banco Espírito Santo (BES), o valor pago pela unidade de cartões do Citi foi "justo" e "razoável", respectivamente. As duas casas ressaltam a necessidade de se explorar sinergias que vieram da aquisição.

"Nós vemos algumas sinergias potenciais para serem exploradas, principalmente: 1) o Itaú realmente precisa dos 96 pontos de venda da Citifinancial?; 2) sinergias de força de trabalho (as despesas de pessoal da Citicard totalizaram R$ 145 milhões no ano passado); 3) oportunidades de venda cruzada na base de 4,8 milhões de clientes da Credicard e 4) potenciais benefícios tributários", escreveu o analista Marcelo Henriques, do BTG Pactual.

Analistas do BES estimam que os benefícios tributários da compra devem trazer um ganho extraordinário de R$ 114 milhões por ano, assumindo que serão seis anos de amortização e alíquota de imposto de renda de 40%.

Embora avaliem que a aquisição "não mude o jogo" no mercado de cartões, os analistas do BTG Pactual enxergam como defensiva a compra. "Uma aquisição estratégica para o Itaú manter sua liderança na indústria de emissão de cartões, impedindo avanço de concorrentes", escreveram.

Já líder em cartões com sua base de 32,8 milhões de plásticos, o Itaú deve agregar cerca de 5 pontos percentuais de participação de mercado, em termos de volume transacionado. Sozinho, o Itaú já tinha uma participação de 30%. Bradesco e Banco do Brasil dividem o segundo lugar, com cerca de 20% cada. Em 2012, o setor de cartões movimentou R$ 724,3 bilhões.

A base de correntistas do banco que é cliente da Credicard também pesou na compra. Embora o banco não tenha divulgado os níveis de sobreposição entre sua base e a Credicard, há quem estime que possa ser superior a 50%.

A razão é histórica. Em 2004, o Unibanco vendeu sua participação na Credicard para os outros dois sócios, metade para cada. Em 2006, Citi e Itaú assinaram o fim da parceria e um algoritmo matemático ficou responsável por dividir a carteira de cartões entre os dois. Sobrou dentro do Citi, então, uma fatia de clientes do antigo Unibanco - hoje correntistas do Itaú - mas que têm cartão da Credicard.

O que o Itaú fará com a marca Credicard é outra dúvida da aquisição. Estudo feito pelo banco mostrou que o nome ainda é importante no mercado de cartão de crédito. Mas não há decisão tomada sobre seu futuro, com uma das possibilidades cogitadas sendo destiná-la aos clientes não-correntistas do banco.

Para um analista que acompanha o setor de cartões, a marca Credicard pode vir a ser combinada com a operação dos cartões Hipercard, também do Itaú. O Hipercard nasceu como um "private label" (cartão com a marca do próprio lojista) na antiga rede Bompreço, do Nordeste, mas, dado o sucesso na emissão, acabou virando bandeira, rivalizando inclusive com as marcas internacionais, Visa e MasterCard. Nos últimos anos, chegou a ser cogitado que o Itaú poderia usar a Hipercard para fazer frente à Elo, bandeira nacional de cartões lançada pelos rivais Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.



Veículo: Valor Econômico

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