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24/04/2013 10:55 - Processadoras perdem banco e miram varejo

As processadoras de cartões são o contra-regra do universo de pagamentos eletrônicos: quase ninguém as vê funcionando, mas sem elas o show não acontece. Longe dos holofotes, as maiores empresas do segmento, que cruzam as informações de débito e crédito pelo lado dos bancos emissores, montam suas estratégias para superar seu maior obstáculo dos últimos anos: a concentração bancária. Até o fim do ano, um dos últimos grandes bancos a terceirizar o processamento de sua base de cartões, a Caixa, vai deixar de fazê-lo. Em 2012, Itaú Unibanco e HSBC também passaram a processar suas unidades dentro de casa.

Dos maiores bancos do país, apenas o Bradesco terceiriza o processamento de sua base de cartões, para a Fidelity Brasil (FIS), empresa em que detém participação acionária indireta. Isso dá à processadora uma importante vantagem competitiva em relação aos concorrentes, lista que inclui CSU Cardsystem, Orbitall, Conductor e Tsys. Com as grandes instituições financeiras fora do jogo, as processadoras passaram a mirar instituições de menor porte, varejistas, cartões pré-pagos e a nova fronteira do pagamento via celular.

A trajetória da CSU, única processadora de capital aberto, exemplifica a mudança no mercado de processamentos nos últimos anos. Desde que abriu capital, em 2006, a companhia perdeu 80% de seu valor de mercado. O maior baque veio quando a Caixa suspendeu o acordo que tinha com a processadora - discussão que foi parar na Justiça.

De lá para cá, clientes bancários importantes, como o Banco CSF, do Carrefour, e o HSBC, também saíram da processadora.

"Nos últimos anos, vimos maior concentração bancária e manutenção do número de processadoras. A disputa por um mesmo negócio é maior", diz Leite. Apesar de ter perdido o HSBC, ele comemora que os cartões da promotora de vendas do banco britânico, a Losango, sigam na empresa. A Losango representa 10% do faturamento da CSU, com 3,5 milhões de cartões dos 23,8 milhões de unidades cadastradas no fim de 2012, afirma. Em 2012, o HSBC tentou vender a promotora, sem sucesso.

Além de renovar com a Losango pelos próximos cinco anos, a CSU fechou acordo com a rede mineira de
supermercados ABC para processar seus cartões de loja e promete novidades nos próximos meses tanto em parcerias com bancos e varejistas, como no de instituições estatais. Em 2012, a CSU ganhou licitações para processar cartões do Banpará e Banco do Nordeste, que se somaram às parcerias com os privados Tribanco e Fibra.

"O varejo é o grande candidato a substituir os bancos nos serviços de processamento", afirma o consultor de
varejo financeiro Boanerges Ramos Freire, da Boanerges & Cia. "A capacidade das processadoras de atender essa demanda é que é duvidosa. Hoje, a maioria das processadoras está muito voltada para atender bancos. O redesenho exigido para o varejo não é trivial."

Maior processadora do país, a FIS corre por fora do cenário difícil enfrentado pelas rivais. Além do Bradesco, conta com outros nomes de fôlego na carteira, como Alelo, maior empresa de vale-refeição e alimentação do país, PanAmericano, Daycoval e Leader Card, da varejista de mesmo nome.

Com receita antes de impostos de R$ 830 milhões em 2012, e 53 milhões de cartões processados, a FIS quer chegar a R$ 1 bilhão no ano que vem, com cerca de 63 milhões de unidades, afirma Reginaldo Zero, presidente da Fidelity. Para atingir essa meta, a processadora aposta nos cartões com a bandeira nacional Elo, criada por Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Outra aposta são as unidades emitidas pelo Bradesco em parceria com o Cencosud, grupo chileno controlador dos supermercados CG Barbosa.

"Os cartões pré-pagos são o próximo grande negócio em processamento. Já estamos nos posicionando para nos beneficiar desse avanço", afirma Zero. Exemplo é o contrato com a MFS, joint-venture entre Vivo e Mastercard, que atuará no segmento de pré-pagos. Segundo o executivo, a Fidelity pode fazer aquisições de empresas que complementem a atividade de processamento, como prevenção de fraudes. E está de olho em oportunidades de processar no Brasil cartões de outros bancos da América Latina.

A Orbitall também busca no universo de cartões de varejo e nos pré-pagos o consolo para a perda de grandes bancos do seu portfólio. A empresa, que já foi controlada e processadora dos cartões do Itaú Unibanco, se prepara para, até o fim do ano, perder também a base de cartões da Caixa. "Em 2015 queremos estar no mesmo patamar de faturamento que estamos hoje. Vamos expandir a oferta de serviços agregados ao processamento", afirma Marcos Monteiro, diretor-geral da Orbitall.

No passado, a receita da empresa foi perto de R$ 600 milhões. A companhia processa atualmente 20 milhões de cartões. "Há oportunidades no mercado com varejistas que hoje já têm uma processadora para seus cartões com bandeira, mas que podem trabalhar conosco no processamento de pré-pagos", exemplifica Monteiro. "O pré-pago será a forma mais imediata de renovação do mercado de processamento."

Em maio do ano passado, o Itaú Unibanco vendeu a Orbitall, que havia "nascido" como uma divisão da Credicard, para o grupo Stefanini, de tecnologia da informação. O banco passou a processar internamente seus cartões, como fazia o Unibanco. Na época, foi justamente os ganhos de escala da fusão que o Itaú usou para justificar o movimento. "Ganhamos escala suficiente para processar somente nossos próprios cartões, com competitividade de custos e eficiência", afirmou o banco na ocasião.

A Fidelity, porém, espera que haja pelo menos uma reversão parcial nesse cenário no futuro. Para Zero, a busca pela eficiência bancária, reforçada em um cenário de juros mais baixos, pode levar os bancos brasileiros a terceirizar o processamento de ao menos uma parte de sua base de cartões. "É um movimento que se observou nos Estados Unidos e não vejo por que não possa ocorrer aqui", afirma.



Veículo: Valor Econômico

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