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04/10/2012 12:24 - Grupo Zogbi vai disputar mercado de cartões de crédito para a baixa renda

Nove anos após vender financeira para o Bradesco, família cria a bandeira Credz, que vai concorrer com empresas como Credsystem e Sorocred no segmento de cartões emitidos por varejistas especializados no atendimento das classes C e D


Nove anos depois de vender sua financeira para o Bradesco, a família Zogbi está de volta ao setor com a bandeira de cartões de crédito Credz, voltada para a baixa renda. A operação, que será lançada na semana que vem, chega para disputar um mercado que não interessa aos grandes bancos - principais emissores dos cartões líderes, Visa e Mastercard -, mas que já é habitado por empresas como a Sorocred e a CredSystem.

Refletindo a estratégia adotada pela concorrência, a Credz concentrará seus esforços no varejo, onde será feita a venda e a emissão do cartão. As parcerias serão firmadas com redes de lojas de médio porte que tenham a maior parte de seus clientes nas classes C e D. É o caso da Tent Beach, cadeia de surfwear que tem mais de 30 lojas na capital e no ABC Paulista, a primeira a fechar negócio com a Credz.

A empresa, que já administrava seu próprio cartão de loja (o chamado "private label") vai migrar as 50 mil unidades já emitidas para cartões que trarão também a bandeira Credz e poderão ser usados em mais de 1 milhão de estabelecimentos no varejo, graças a uma parceria com a credenciadora Cielo. O investimento inicial no projeto é de R$ 25 milhões e a expectativa da empresa é atingir 1 milhão de cartões emitidos em cinco anos.

A bandeira do grupo Zogbi terá, no entanto, de enfrentar a concorrência de empresas que já emitem cartões para a baixa renda há mais de 15 anos. É o caso da CredSystem, detentora da bandeira Mais. Fundada em 1996, a empresa atua no chamado "varejão", de acordo com Paulo Valente, diretor de negócios. Entre os grupos que trabalham com a CredSystem estão redes de calçados e confecções como Shoebiz, Khelf e Torra Torra. A empresa já tem 6,5 milhões de cartões emitidos, embora a maioria deles sejam "private label" e não tragam a bandeira Mais estampada.

Segundo Valente, existe uma certa resistência dos lojistas em fazer a transição para um cartão que possa ser usado em todo o varejo. Isso porque, na baixa renda, o valor médio gasto no cartão é de R$ 700 por ano. Logo, é um risco para o varejista perder a participação "cativa" no limite de crédito do cliente e passar a disputá-lo com supermercados e farmácias, por exemplo.

Apesar disso, o diretor da CredSystem diz que, depois de bastante tempo limitada a uma rede de 20 mil estabelecimentos, a bandeira Mais chegará, até o fim do ano, a 1 milhão de estabelecimentos em parceria com a Redecard. "É uma oportunidade de aumentarmos o volume movimentado em 50% a partir de 2013", afirma o executivo.

Para evitar que a permissão do uso do cartão fora do estabelecimento não acabe em prejuízo para seus parceiros, a Credz está nascendo com um programa de fidelidade adequado às necessidades da classe C. Em vez de distribuir milhas para viagens aéreas, os pontos acumulados em todo o varejo poderão ser trocados por produtos somente no estabelecimento emissor. Assim, explica José Renato Simão Borges, presidente da Credz, o consumidor será incentivado a voltar à loja estampada em seu cartão, gerando novos negócios.

Este mercado também está preocupado em não perder o cliente à medida que ele ganha poder aquisitivo. Por isso, a Sorocred, que está no segmento desde 1993 e contabiliza 5 milhões de cartões emitidos, criou um programa de pontos em que o cliente quase desprezado pelos grandes bancos ganha status de "Gold" ou "Premium". "É uma forma de ele continuar a usar e valorizar o nosso cartão", diz Wilson Justo, diretor de marketing da Sorocred.

Inadimplência. Outro desafio para as empresas que decidem emitir cartões para as classes C e D é a inadimplência, geralmente mais alta do que no segmento premium. "É um fato: a baixa renda é mais afetada pelas intempéries do mercado. Um pintor sem vínculo empregatício ficará sem renda se as pessoas deixaram de reformar suas casas", diz Valente, da CredSystem. "Não é caso de não querer pagar. É impossibilidade mesmo."

Na hora de conceder crédito, explica o executivo da CredSystem, a emissora do cartão precisa estar preparada para lidar com a informalidade, que é bem maior nas classes mais baixas. "Ao longo dos anos, desenvolvemos um sistema de atividades e somos capazes de identificar se a renda não comprovada de uma pessoa corresponde à profissão que ela exerce."


Setor diverge sobre futuro do 'cartão de loja'


A substituição do cartão de loja tradicional pelo chamado "co-branded", que traz uma bandeira que permite seu uso em todo o varejo, é uma tendência que começou há alguns anos em redes de varejo como C&A, Renner, Marisa e Riachuelo. Entre as empresas que atuam nos segmentos mais populares, no entanto, há mais dúvidas do que certezas sobre o futuro dos cartões que só podem ser usados no estabelecimento em que foram emitidos.

A Credz nasce com a proposta de administrar cartões híbridos e só trabalhará com parcerias exclusivas, de acordo com o presidente da empresa, José Renato Simão Borges. Para ele, esse tipo de cartão não tira negócios do varejista. "A emissão do cartão cria uma afinidade com a loja e abre espaço para a oferta de condições especiais de pagamento para o cliente", defende.

A CredSystem, nascida a partir da experiência do empresário Cláudio Kalaigian no varejo popular de calçados, não tem a mesma visão sobre o assunto. Apesar de mais da metade dos novos cartões emitidos pela empresa estamparem a bandeira Mais, o cartão de loja tradicional não deixou de ser ofertado pela CredSystem, especialmente para clientes que tenham um número relevante de pontos de venda.

O diretor de negócios da CredSystem, Paulo Valente, afirma que parte do mercado vive um momento de saudosismo em relação ao velho carnê - por isso, a companhia não deverá abandonar esse modelo consagrado de financiamento no varejo. "Em média, ao migrar para um cartão com bandeira, o varejista sabe que vai perder cerca de 60% do limite de crédito que antes era exclusivamente dele."

No segmento de baixa renda, diz o executivo da CredSystem, é preciso ser didático não só com o consumidor, mas também com o lojista. "O cartão de loja é um produto mais simples. O cliente entende melhor."



Veículo: O Estado de S.Paulo

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