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29/08/2012 12:07 - iPad 'brasileiro' chega sem alarde e com mesmo preço

Em abril do ano passado, quando a presidente Dilma Rousseff viajou para a China, um dos assuntos que ganhou mais atenção foi seu encontro com o empresário Terry Gou, da Hon Hai, e a notícia de que a Foxconn, controlada pelo grupo taiwanês, instalaria no Brasil uma fábrica para produzir o i Phone e o iPad, dois dos produtos mais cobiçados da Apple. Nos meses seguintes, muito se especulou sobre o assunto, inclusive onde essa fábrica seria construída.

Hoje, quem compra um desses produtos no país pode encontrar no verso do equipamento a inscrição "indústria brasileira" logo abaixo do logotipo da maçã. Nem todos os equipamentos à venda no Brasil são produzidos no país, mas uma parte deles foi montada na fábrica que a Foxconn abriu na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo. A unidade, tão aguardada, começou a funcionar a todo vapor há cinco meses, de maneira discreta, sem a fanfarra que se esperava a princípio.

A expectativa era que o início oficial das operações da unidade - uma das poucas da Apple fora da Ásia - seria marcado por uma cerimônia com a presidente Dilma e Terry Gou, mas a dificuldade para acertar as agendas acabou atrapalhando a festa, de acordo com pessoas que acompanharam o assunto.

Segundo a assessoria de imprensa da Foxconn, 2,5 mil pessoas trabalham atualmente em dois turnos na fábrica de Jundiaí produzindo iPads e iPhones. O local onde a fábrica teve seu nome trocado para combinar melhor com o inquilino: a antiga avenida Caminho de Goiás virou avenida Steve Jobs, após a morte do cofundador da Apple, ocorrida em 5 de outubro do ano passado.

Não há dados disponíveis sobre o volume de produção mensal, ou quantas unidades feitas no Brasil já estão no mercado. Os aparelhos começaram a abastecer a loja virtual da Apple entre abril e junho, e chegaram ao varejo em julho.

Quando anunciou os incentivos para a produção de tablets no Brasil, o governo estimava que a redução de impostos proporcionada pelo Processo Produtivo Básico (PPB) poderia baratear em até 30% o preço dos equipamentos.

A frustração, para o consumidor, é que isso não aconteceu. Até agora, os produtos feitos no Brasil seguem a mesma tabela dos modelos importados: entre R$ 1,5 mil e R$ 2,3 mil para o novo iPad, a versão mais recente do tablet, e de R$ 1,3 mil a R$ 1,6 mil para o iPad 2, a versão anterior. Com o iPhone ocorre coisa parecida.

Isso é bem mais do que o consumidor americano paga por um produto semelhante. Para comparar, o modelo mais simples do novo iPad custa US$ 500 nos Estados Unidos, o equivalente a cerca de R$ 1 mil. O mesmo produto no Brasil, no entanto, custa pouco mais de R$ 1,5 mil.

Com o PPB, a intenção é estimular a produção nacional, o que inclui a destinação de recursos pelas empresas para pesquisa e desenvolvimento. Não existe, no entanto, uma exigência de contrapartida no preço dos produtos feitos no país.

Para Luciano Crippa, analista da empresa de pesquisa IDC, custos de produção locais, que não incidem sobre os produtos importados, impedem uma redução de preço mais efetiva. Os encargos trabalhistas seriam um exemplo desses custos.

Outros fabricantes, como Samsung e Motorola, conseguiram reduzir os preços ao aliar a economia obtida com PPB a uma política de venda mais agressiva, eventualmente marcada pela redução de margens de lucro, dizem analistas do setor. A estratégia nesses casos é ganhar no volume o que se perde por unidade.

A Apple não tem essa abordagem. "Se você tem gente interessada em comprar o seu produto pelo dobro do que ele vale, você pode cobrar esse preço", disse um executivo do setor, que prefere não se identificar.

A fábrica de produtos da Apple é apenas parte da recente história da Foxconn no Brasil. A companhia, especializada na produção de bens para terceiros, tem mais de oito mil funcionários no país, divididos em sete fábricas: duas em Manaus (AM), uma em Minas Gerais e quatro em São Paulo.

Na visita das autoridades brasileiras à China, no ano passado, o então ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que a Foxconn tinha planos de investir US$ 12 bilhões no Brasil em até seis anos. O objetivo era tornar o país um centro de produção de telas de LCD, usadas em celulares, tablets e TVs. Ao que se sabe, pouco se avançou nesse sentido até agora. Procurada pelo Valor, a Foxconn informou, por meio de sua assessoria, que não tinha novidades sobre o assunto.

Outros números superlativos foram associados à Foxconn mais recentemente, sem, no entanto, que qualquer plano fosse detalhado. Em abril, o empresário Eike Batista disse que a Foxconn investiria US$ 1 bilhão em uma fábrica de baterias no Porto do Açu, no norte do Rio de Janeiro. Não ficou claro se o investimento faria parte ou não dos planos comentados por Mercadante.

O que se sabe é que a fábrica da Apple em Jundiaí não integra o orçamento de US$ 12 bilhões e já vinha sendo negociada antes da viagem da comitiva do governo.

A previsão inicial era que a unidade começaria a produzir oficialmente no segundo semestre de 2011. A fábrica em Jundiaí tem dois grandes blocos. O prédio onde é feita a montagem do iPhone entrou em operação em agosto do ano passado, mas a Foxconn levou algum tempo para montar a estrutura da linha de produção e concluir os testes de maquinário. Em janeiro, a companhia obteve os incentivos fiscais do PPB para produzir tablets. A montagem dos iPads começou em março.

Segundo o Sindicato de Metalúrgicos de Jundiaí, a maioria dos funcionários das linhas de produção da Foxconn são ex-trabalhadores do comércio e do segmento de telemarketing, que encontraram no segmento de tecnologia melhores salários. Outro atrativo, de acordo com o sindicato, é que a especialização exigida é menor que a dos profissionais do setor automobilístico. "Aqui as condições de trabalho são brasileiras", disse Evandro Santos, diretor do sindicato, referindo-se às notícias sobre as graves condições de trabalho nas unidades da Foxconn na Ásia, onde já houve suicídios de trabalhadores.

Há quase dois anos na Foxconn, a jundiaiense Ana Paula, que prefere não revelar seu sobrenome, trocou o setor de autopeças pelo de tecnologia. Ela trabalha na inspeção de qualidade de produtos da Dell, que são montados em outra unidade da Foxconn, também em Jundiaí. Segundo ela, a companhia taiwanesa trata bem e reconhece os funcionários. "Desde que comecei a trabalhar fui promovida duas vezes. Pretendo trabalhar lá por muito tempo ainda", disse.



Veículo: Valor Econômico

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