Tecnologia
19/10/2011 12:22 - Novo patamar do código de barras para os lucros
Hoje são lidos quase 5 bilhões de linhas de código de barras por dia. Esta marca sinaliza que o uso da tecnologia para identificação de produtos e serviços ganha força como facilitador em empresas de todo o mundo. Além de dar agilidade aos processos logísticos de uma companhia, ajuda a redução de custos. "É impossível viver hoje sem esta tecnologia. A indústria não consegue, não é possível trabalhar sem o código", diz Celso Couto, CEO da Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil). A organização é responsável pela padronização de processos de logística e rastreabilidade na cadeia de suprimentos e demanda.
Hoje, a tecnologia não se restringe ao código de barras, mas possui diversas possibilidades de emprego em vários setores e produtos. Existem leitores que informam o sistema quando a mercadoria sai do estabelecimento e passa pelo caixa. No varejo, é possível saber a quantidade certa de produtos nas gôndolas e prateleiras. Na Alemanha já é possível cobrar os produtos dentro do carrinho, por meio da tecnologia via radiofrequência (RFID).
Entrevista: Tecnologia para a identificação de produtos e serviços vira facilitador para empresa
Hoje são lidos quase 5 bilhões de linhas de código de barras por dia. Esta marca sinaliza que o uso da tecnologia para identificação de produtos e serviços ganha força como facilitador para empresas de todo o mundo. Além de dar agilidade aos processos logísticos de uma companhia, ajuda a redução de custos. - "É impossível viver hoje sem esta tecnologia. A indústria não consegue, não é possível trabalhar sem o código", diz Celso Couto, CEO da Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil). A organização é responsável pela padronização de processos de logística e rastreabilidade na cadeia de suprimentos e demanda.
Atualmente, a tecnologia não se restringe ao código de barras, mas possui diversas possibilidades de emprego em vários setores e em diversos produtos. Existem leitores que informam o sistema quando a mercadoria saiu do estabelecimento e passou pelo caixa. No varejo, é possível saber a quantidade certa de produtos nas gôndolas e prateleiras.
Na Alemanha já é possível cobrar os produtos dentro do carrinho, por meio da tecnologia via radiofrequência (RFID). Na Argentina, já foi implantado o Datamatrix - um código de barras com informações necessárias para atender à agência de saúde argentina e garantir qualidade ao paciente. No Brasil, uma equipe de arquitetura está desenvolvendo um produto voltado à telemetria nas eleições, setor no qual o País é considerado pioneiro. A telemetria permite a medição e comunicação de informações de interesse do operador ou desenvolvedor de sistemas.
"Na Alemanha existem prateleiras inteligentes que possibilitam, quando um produto é retirado, empurrar outro ao mesmo lugar em seguida", afirma o CEO da GS1 Brasil.
No País, a GS1 agrega 55 mil associados, de pequenas empresas familiares a multinacionais. No mundo, mais de 1,2 milhão de empresas são membros da GS1, e 150 países usam os padrões dos seus sistemas. Em entrevista ao DCI, Couto explica a importância da aplicação da tecnologia para padrões de identificação de produtos nos mais diferentes segmentos.
Roberto Müller Filho: Como surgiu a empresa? Em qual cenário? E os investimentos?
Celso Couto: Vou voltar um pouco aos meus anos de faculdade. Tive meu primeiro contato com a antiga Associação Brasileira de Automação Comercial (Abac) em 1983, quando cursava Engenharia Naval na Universidade de São Paulo. A automação sempre foi para a engenharia naval um campo muito importante, principalmente pela evolução da tecnologia. Eu coordenava um grupo de automação no qual tive o primeiro contato com a Abac. Nunca imaginei, depois de 40 anos, que viria a trabalhar na GS1, novo nome da entidade. A associação surgiu com a missão de abastecer toda a cadeia de suprimentos e o consumidor final, principalmente. É muito importante ganhar tempo. Quando o consumidor fica no mercado esperando o caixa passar produto por produto, nós sentimos na pele o quão importante é a tecnologia. Depois a Abac mudou o nome e a partir de 2006 recebeu o nome de GS1 [Global Standard Number 1] e passou a ser reconhecida no mundo todo. Temos um escritório central em Bruxelas, com departamento de tecnologia para novos produtos, novos padrões, para atender o mundo todo. Na Alemanha já é possível cobrar os produtos dentro do carrinho, por meio da tecnologia via radiofrequência.
RMF: E qual o seu primeiro trabalho nesta área?
Couto: Foi na Mercedes-Benz. Lá eu já senti a necessidade do código de barras. Antes da GS1, a Mercedes demorava 40 dias para fazer um inventário. E era um transtorno porque tínhamos que rever o estoque de matéria-prima, materiais em processo ou acabados. Com a implementação, isso passou a ser feito em quatro dias. Atualmente, acredito que com a identificação por radiofrequência (o RFID) isso vai demorar só dois dias.
RMF: Vocês já estão fazendo identificação e telemetria?
Couto: A filosofia da GS1 está baseada no seguinte pensamento: a tecnologia não se restringe ao código de barras, mas possui diversas possibilidades de emprego em vários setores, em diversos produtos. Temos uma equipe de arquitetura desenvolvendo, por exemplo, um produto voltado à telemetria nas eleições, setor no qual o Brasil é tido como pioneiro. Telemetria é uma tecnologia que permite a medição e comunicação de informações de interesse do operador ou desenvolvedor de sistemas. Sistemas que necessitam de instruções e dados enviados a eles para que sejam operados, requerem o correspondente à telemetria. Normalmente, funciona via transmissão sem fio, ou seja, sinal de rádio, daí o nome telemetria. Temos agora um colega em Amsterdã trabalhando em arquiteturas para o setor de saúde. Sabemos que na Argentina já foi implantado o Datamatrix, um código de barras com informações necessárias para atender à agência de saúde argentina e garantir qualidade ao paciente. Esse colega está na Holanda para ver o que tem de novo e apresentar o case da Argentina. Na Fnac [rede de livrarias], por exemplo, é muito fácil consultar o preço e os detalhes de um CD de música, mas não há como saber se o produto está na loja. Por meio da tecnologia de rádio RFID é possível monitorar a presença do produto na loja. Essas coisas são muito rápidas e fazem a empresa ganhar tempo. É impossível viver sem esta tecnologia. A indústria não consegue mais atuar sem essa tecnologia. Não é mais possível trabalhar sem o código. O código existe desde a década de 1930, mas o uso comercial dele veio mais tarde.
RMF: Quem inventou o sistema?
Couto: Foram os belgas, apesar de os norte-americanos dizerem que já tinham algo parecido. O nome é European Artical Number (EAN) - um número do artigo conforme o padrão europeu. Hoje o código é vital porque ele economiza tempo. Para um distribuidor é simplesmente um facilitador; para o varejista é a mais importante informação porque, por meio dele, a empresa sabe a quantidade certa de produtos em suas gôndolas e prateleiras. E o consumidor sempre tem o produto lá. Na Alemanha existem prateleiras inteligentes que possibilitam, quando um produto é retirado, empurrar outro ao mesmo lugar em seguida. Existe um aparelho leitor que vê isso e informa o sistema quando a mercadoria sai do mercado e passa pelo caixa. Hoje, como são lidos quase 5 bilhões de linhas de código de barras por dia, é fácil imaginar como essas tecnologias facilitam a vida das empresas. Sem essas inovações, ficará inviável ler e gerir esse mundo de informações.
RMF: Quantas empresas estão associadas à GS1?
Couto: São 55 mil no Brasil; no mundo, mais de 1,3 milhão. As 110 GS1 no mundo são associações não lucrativas: cobramos mensalidade para manter a entidade, realizar cursos nos vários setores e sobre os novos produtos. Além disso, temos diversos parceiros, como a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abatd). Uma entidade sem fins lucrativos move muito interesse. Era de se supor que em um universo capitalista, as empresas não partilhassem e não investissem em conhecimento comum, mas, sim, centralizassem conhecimento e ampliassem as vantagens em relação aos concorrentes. A função da entidade, segundo seu estatuto, é facilitar toda a cadeia de suprimentos, oferecendo os padrões GS1, reconhecidos em todo o planeta - padrões que são interpretados da mesma forma no mundo inteiro. Por isso, entre outros segmentos, atuamos em: algodão, atacado e distribuição, brinquedos, calçados, carne, defesa (Exército Brasileiro), têxtil, material de construção, food service, embalagens, móveis, saúde, frutas, legumes, verduras, alimentos e varejo.
Hoje temos um problema no Brasil, em que alguns mercados foram fechados por terem exposto mercadorias com prazo de validade vencido. Atualmente, é utilizado o Databar - um código no qual se lê a validade do produto. Se esse dispositivo está implantado no supermercado ou em qualquer outro ponto de venda, ele acusará o vencimento da mercadoria quando o cliente passar no leitor do caixa.
RMF: No Brasil isso já está sendo usado?
Couto: Ainda não, mas estamos trabalhando para isso com dois grupos: um da Abras - para que eles entendam e nos ajudem - e outro da Abatd. É importante estar próximo dessas entidades para nos ajudarem e dizerem que temos a solução tecnológica e que podem evitar o fechamento de um supermercado ou prejuízos na imagem da empresa. A solução técnica para isso é muito barata.
RMF: Como são os canais de venda desses serviços?
Couto: O supermercado teria que vir aqui e solicitar o serviço. Colocar o código nos produtos que ele maneja. São duas etapas: a primeira é a mais fácil de ser implementada nos principais produtos do supermercado e integrar o sistema. Assim, os produtos não sairão vencidos do supermercado. Mas a conversa também tem que acontecer com órgãos ambientais, de saúde pública, Procon, para que a fiscalização seja adequada a esses novos instrumentos.
RMF: Essas soluções reduzem custos?
Couto: A não-adoção dos nossos produtos pode diminuir a rentabilidade das empresas porque a imagem de um supermercado é algo importante. E associar o nome de um estabelecimento à venda de produto vencido é muito prejudicial à imagem de qualquer empresa.
RMF: Quantas pessoas trabalham na GS1 Brasil e no mundo?
Couto: No Brasil são cerca de 70 os nossos colaboradores, incluindo nossos funcionários especiais, que fazem parte do nosso quadro fixo; no mundo são pouco mais dois mil. A GS1 é multissetorial, oferece soluções multissetoriais. No setor vinícola, temos um projeto de rastreabilidade. Pegamos uma garrafa de vinho com um código que nos permite saber onde a uva foi plantada, em que ano, em que barril e por quanto tempo o vinho envelheceu, a safra etc. Isso é muito importante. Na Alemanha já é possível fazer isso por meio do celular. Isso é muito bom para o consumidor final e também para o produtor, que tem o seu produto reconhecido, com mais qualidade. E isso vai ser uma exigência cada vez maior dos mercados daqui por diante.
RMF: Qual o custo das empresas para fazer parte da GS1 e usufruir dessas inovações?
Couto: São quatro as categorias elencadas por faturamento. Pequenas e médias empresas pagam até R$ 200 por ano. As de maior porte contribuem com R$ 800. As intermediárias gastam em torno de R$ 400 e R$ 600. Com isso, a entidade garante receitas de cerca de R$ 10 milhões ao ano no Brasil.
RMF: Sobra quanto para investir em pesquisa tecnológica?
Couto: Tudo é investido para o associado. Estamos colocando no planejamento de 2012 um showroom totalmente automatizado, que mostrará a cadeia pela qual passa um produto no supermercado. O associado terá noção de como funcionam esses novos processos, que já podem ser utilizados.
RMF: Qual o critério de escolha para os dirigentes da GS1?
Couto: A associação tem uma diretoria consultiva, formada por executivos da indústria e do comércio; uma diretoria formada por presidente e vices; um CEO escolhido a dedo. Todos os profissionais da GS1 são selecionados pela qualidade de sua formação e por sua experiência, uma vez que não temos muitos profissionais em nossos quadros. Os associados escolhem quem compõe o corpo diretivo. São três anos com possibilidade de uma recondução. Existe a alternância entre um profissional da indústria e outro de comércio. Isso é uma recomendação da matriz para as demais. No caso do CEO, foram procurados headhunters [uma espécie de caça-talentos] para preencher a função executiva.
RMF: Como é feito o marketing da GS1 para disseminar as novidades no meio empresarial?
Couto: O marketing é feito de várias maneiras. O departamento vai completar cerca de 300 eventos neste ano. Ampliamos nossa presença em todo o território nacional e o marketing tem missão de divulgar e explicar como a entidade é importante para a modernização da gestão, especialmente para a cadeia de suprimentos. Nós utilizamos mídias especializadas, assessoria de imprensa, muitas ações em outras entidades setoriais no Brasil inteiro. Nosso objetivo é disseminar cada vez mais os nossos padrões e a eficiência deles. O que nos move é o fato de sermos agilizadores: explicamos como funciona, fazemos parcerias com instituições e capacitamos pessoas.
RMF: Qual a tarefa da GS1 em Bruxelas?
Couto: Participamos de um grupo que nos ajuda a ter acesso às mais novas tecnologias. Esse global office coordena a disseminação das novas tecnologias. O Brasil é o país que conseguiu abrir mais setores para a entrada dos códigos de barras no mundo.
Veículo: DCI
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