Tecnologia
11/10/2011 08:55 - No Brasil, internet vira brincadeira de criança
Depois de ganhar um netbook de aniversário, em agosto, João Vitor Sonni vai passar o dia das crianças fazendo o que mais gosta: navegando na internet. Aos oito anos de idade, o menino tem um perfil nas redes sociais desde os seis, acessa a web para jogar videogame e usa serviços de mensagem instantânea para conversar com os amigos.
Pode parecer precoce, mas crianças com o perfil de João Vitor são cada vez mais comuns no Brasil. Com acesso fácil a produtos eletrônicos, esse público faz de celulares e computadores ferramentas para brincar e se comunicar com a família e os colegas. Para eles, é algo tão usual quanto a TV e o rádio foram para gerações anteriores.
De acordo com dados do Ibope Nielsen Online, 5,2 milhões de crianças entre 2 e 11 anos navegaram na internet em suas casas, em setembro, contra 4,3 milhões no mesmo mês do ano passado. Em relação ao total de internautas com acesso residencial - cerca de 37,9 milhões de pessoas -, a participação das crianças passou de 13,4% para 13,7%.
Em média, o público infantil passa 17 horas e 34 minutos na internet por mês. O tempo médio de acesso à web em residências foi de 39 horas e 25 minutos por pessoa. "É um número considerável, se pensarmos que as crianças geralmente têm o tempo de uso na rede restrito pelos pais", afirma José Calazans, analista de internet do Ibope Nielsen Online.
Nas principais redes sociais - Facebook, Orkut e Twitter -, o número de usuários infantis aumentou em 500 mil, para 3,5 milhões de crianças, no mês passado frente a setembro de 2010. Do total de internautas mirins, 67,9% acessaram pelo menos uma dessas redes. As crianças brasileiras, diz Calazans, usam mais as redes sociais que as de outros países. Aproximadamente 11% do total de meninos e meninas de 2 a 11 anos usam esses sites no Brasil, quando a média em outros países não ultrapassa 7%.
O que tem atraído tanto o público infantil às redes sociais? A pedido do Valor, a TNS Research International fez uma pesquisa qualitativa com 600 famílias de diferentes classes sociais, distribuídas nas sete maiores capitais do país. "O que chama a atenção é o fato de que os comportamentos e hábitos são muito similares em todas as classes sociais", diz Juliana Honda, gerente de atendimento da TNS.
De acordo com o estudo, 89% do público infantil (entre 6 e 12 anos) usa as redes sociais para trocar mensagens com os amigos. Participar dos jogos sociais é uma motivação para 86% do público, seguida pela visualização dos perfis dos amigos.
Entre as crianças com perfil nas redes sociais, a preferência é pelo Orkut, do Google, usado por 89% do público, seguido pelo Facebook (70%) e o Twitter (30%). Entre as famílias entrevistadas, as crianças passavam em média 11 horas por semana nas redes sociais, com um total de 16 horas na web.
Enzo Shiraishi, filho da empresária Samanta Shiraishi, tem seu perfil no Facebook desde 2009. "Ele foi atraído pelos aplicativos de jogos, mas atualmente usa o bate-papo para conversar com os amigos sobre trabalhos escolares", afirma Samanta. Aos 11 anos de idade, Enzo também usa o celular para acessar as redes sociais e mantém um blog com um grupo de amigos.
O interesse das crianças pelas redes sociais tem estimulado empresas brasileiras a criar conteúdo específico. Criada em 2008 por profissionais com passagens por empresas como UOL e Yahoo, a rede social Migux tem hoje mais de 3 milhões de usuários e a expectativa é superar 4 milhões até o fim do ano. Anna Valenzuela, uma das fundadoras do site, diz que a criação do Migux foi motivada pela carência de produtos digitais voltados a esse público.
O mesmo cenário impulsionou o lançamento, em abril, do Mundo do Sítio, rede social com os personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo criada pela Editora Globo e a TV Globo. Atualmente, 750 mil usuários navegam pelo site, que oferece jogos educativos, recursos de bate-papo e animações. "Temos uma média de 12 mil novos assinantes a cada dia", diz Saulo Ribas, diretor de entretenimento da Editora Globo.
A Maurício de Sousa Produções e a Digital 21, que já produziam conteúdo para o público infantil, também começaram a investir em aplicativos. Nesta semana, lançaram um aplicativo para o iPad, da Apple, com jogos e histórias para crianças. Até o fim do ano, será lançado um jogo para o Facebook, com os personagens da Turma da Mônica. As empresas também desenvolvem em conjunto jogos para smartphones.
"A criança de hoje tem um grande interesse por dispositivos digitais. É quase impossível um pai que tenha o iPad não ter um jogo instalado para o filho usar", diz Rodolfo Patrocínio, sócio diretor da Digital 21. A expectativa da empresa é atingir 1 milhão de downloads no prazo de um ano. No portal da Turma da Mônica, a média de acessos é de 2,5 milhões de páginas vistas por mês.
Explorando conceitos de rede social, a Log On Multimídia lançou no fim de semana o o Clube DX TV, um serviço de vídeo on-line. Em teste desde o fim de 2010, e mesmo sem investimento em divulgação, o serviço reúne 37 mil usuários. "Crescemos apenas no boca a boca das próprias crianças. Com o lançamento oficial, nossa previsão menos otimista é chegar a 100 mil assinantes até o fim de 2012", diz Eduardo Mace, presidente da Log On.
Veículo: Valor Econômico
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