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28/01/2010 10:27 - Falha no Natal ajuda lojista a brigar por custo menor

Meios de pagamento: Com abertura, momento é propício à negociação

 

A pane nos sistemas da Redecard na véspera do Natal vai servir de moeda de troca para a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) brigar pela redução das taxas de desconto e de locação das maquininhas (POS) cobradas pela adquirente. Além de pedir compensações pelas vendas supostamente perdidas em 24 de dezembro, quando comerciantes de algumas regiões ficaram por horas sem conseguir receber pagamentos com cartões das bandeiras MasterCard e Diners, a entidade quer ampliar o diálogo para diminuir os custos dos lojistas de uma maneira mais sistemática. O mesmo tipo de negociação foi iniciado com a Cielo, segundo o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Júnior.

 

"Em julho acaba a exclusividade de Visa e Cielo e isso, por si só, vai acirrar a concorrência no mercado de adquirência", diz. "Nós temos o SPC (Serviço de Proteção do Crédito) Brasil, que interessa aos dois lados, e 800 mil pontos de venda associados." Pellizzarro teve uma reunião preliminar com Roberto Medeiros, presidente da Redecard, na semana passada, e a percepção que ficou desse encontro é de que há disposição da credenciadora para reparar de alguma maneira os prejuízos dos lojistas numa das datas mais relevantes para o faturamento do comércio. "De 30% a 35% dos portadores de cartões não carregam mais de uma bandeira na carteira e já não têm também o hábito de usar dinheiro ou cheque."

 
 
A CNDL sugeriu que a compensação viesse na forma de redução das tarifas de aluguel e das taxas de utilização da rede da companhia. Para tanto, uma nova reunião está programada para a primeira quinzena de fevereiro, ocasião em que a Redecard prometeu apresentar um mapeamento com as regiões e horários em que seu sistema ficou efetivamente fora do ar. Segundo Pellizzaro, a explicação que ouviu de Medeiros para a falha foi que, depois de a Redecard identificar a queda na sua rede principal, a transferência para os sistemas de contingência não foi feita a contento.

 

Procurada, a Redecard, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não responderia à reportagem por estar em "período de silêncio" - a empresa divulga as suas demonstrações financeiras do quarto trimestre e o consolidado de 2009 nesta sexta-feira.

 

Um ex-funcionário da empresa conta, porém, que no passado a credenciadora costumava a trabalhar na chamada "Operação Natal" a partir de setembro, para fazer inúmeros testes na sua rede, identificar possíveis falhas de fornecedores e verificar se os sistemas de contingenciamento seriam capazes de cobrir eventuais panes. "Os sistemas têm que ter robustez para enfrentar situações adversas, que não são controláveis", diz. "Você até 'desliga tudo da tomada' regularmente para simular determinada situação e garantir que os sistemas de proteção serão ativados quando necessário." Mesmo com esse esforço preventivo, essa fonte diz que pode sempre ocorrer o imponderável, mas o que chamou a atenção foi o tempo em que a Redecard ficou fora do ar. Segundo Medeiros explicou ao Valor na ocasião, cerca de 80% dos POS tiveram falhas entre meio dia e 16h40, tendo deixado de processar algo próximo de 2,8 milhões de transações com cartões de crédito e débito.

 

Para o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Luís Augusto Ildefonso da Silva, a maior prejudicada pela pane foi mesmo a Redecard. No período do Natal, as vendas nos shoppings cresceram 11,3% em relação a 2008, segundo levantamento realizado em parceria com a Deloitte. "Houve habilidade dos comerciantes para substituir a forma de pagamento e vontade dos consumidores para comprar." A entidade reúne 150 empresas que representam cerca de 6,3 mil lojas e, de acordo com Silva, de 60% a 70% das transações com cartões de débito e crédito são realizadas nesses centros de compra, ficando o comércio de rua apenas com uma pequena parcela.

 

De qualquer forma, o representante da Alshop considera que a abertura do mercado vai criar um ambiente mais favorável para os lojistas, que terão condições de negociar taxas e preço de aluguel de POS. Nesse cenário, a entrada do Santander em parceria com a GetNet no ramo de credenciamento é vista como um divisor de águas para o setor. "Quem está no mercado hoje nada de braçadas e esse novo 'player' já nasce grande, entra para brigar em igualdade de condições", conclui Silva.
 

 

Veículo: Valor Econômico

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