Sem a presença das gigantes do setor de máquinas, a Agrishow vira palco de reivindicações de vários segmentos do setor. A demanda mais urgente parte dos produtores de laranja que acusam as principais indústrias do setor - Cutrale, Louis Dreyfus, Citrosuco, Citrovita e Bacitrus - por formação de cartel. Até agora, 74% dos citricultores ainda não possuem contrato de comercialização para a próxima safra.

Segundo Flavio Viegas, presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), a atual crise financeira preocupa e a indústria toma medidas preventivas, mas a depreciação dos preços no mercado de citrus ocorre em razão de prática ilegal. De acordo com ele, há muitos anos as indústrias operam com três faixas de preços e, atualmente, para aqueles produtores que eles querem eliminar do mercado no curto prazo o preço varia de R$ 6 a R$ 7 a caixa de 40,8 kg, muito abaixo do custo de produção. "Há ainda produtores que eles querem dar fôlego até obterem uma oferta suficiente. Para esse, a faixa intermediária é de R$ 12. Os produtores-parceiros, que têm um nível de produtividade maior conseguem negociar acima de R$ 15", disse Viegas.

"Falar que a crise afetou é mentira. O Departamento de Citrus da Flórida divulgou dados das exportações do setor mostrando que as vendas do Brasil caíram apenas 0,5% de julho de 2008 a março deste ano", completa o especialista. O líder dos citricultores afirma ainda que os preços, apesar da queda, apenas retomam os patamares de 2007 e que o consumo de suco na Europa não está em queda. "Eles [exportadores de suco de laranja] querem ter controle sobre a oferta da matéria-prima e têm investido sistematicamente nos últimos anos em pomares próprios e de parceiros", afirmou Viegas. A Associtrus estima que hoje as indústrias já tenham autossuficiência em até 50% da sua produção.

A primeira vez que os produtores denunciaram a prática de cartel por parte das indústrias foi em 1994, mas na época houve um acordo que suspendeu as investigações. Em 1999, houve nova denúncia que foi homologada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em 2006, houve o início da chamada "Operação Fanta", na qual só agora os documentos de todas as companhias envolvidas foram entregues á Justiça. As empresas exportadoras de suco de laranja estão ainda sob investigação de dumping, acusadas pelas indústrias de suco de laranja da Flórida.

Outra demanda dos produtores que pode estar mais perto de ser obtida é a indenização por árvores erradicadas em razão do greening. Em reunião com o governador do Estado de São Paulo, José Serra, no último dia 22 de março, os citricultores saíram com a promessa de um melhor levantamento da safra e dos delitos econômicos ligados ao setor.

Máquinas

Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), afirmou que as demissões nas empresas do setor após a crise mundial podem somar 60 mil até setembro deste ano. O setor ensaia uma recuperação, mas a situação geral ainda é crítica. Na comparação com 2008, o faturamento do mês de janeiro caiu 45% em 2009. No primeiro bimestre recuou 35% e no primeiro trimestre, 20%. "Toda máquina e equipamento que sai, eu oriento [o fabricante] a pôr quatro rodas e pintar de branco para se encaixar em automóvel ou geladeira", disse Aubert em uma referência à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para esses produtos.

De acordo com a Abimaq, o índice de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) sobre o PIB no Brasil deve ser de 17,6% em 2009, ante 19% em 2008. O índice é composto por 55% de investimentos em máquinas e equipamentos, 38% na construção civil e 7% por outros investimentos, diz. O levantamento apresentado mostra ainda que a média da FBCF na última década é de 34% nos três países do Bric (Rússia, Índia e China, exceto o Brasil). Mesmo com um cenário nebuloso, Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e da Agrishow, aposta na manutenção do volume de negócios na feira na ordem de R$ 800 milhões.

Veículo: DCI