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10/10/2016 11:36 - Femsa busca negócios que vão muito além do refrigerante

Engarrafadora da Coca-Cola quer trazer lojas de conveniência e farmácias ao país




MONTERREY (México) - Depois de desembolsar R$ 3,5 bilhões para ficar com a engarrafadora gaúcha Vonpar, em setembro passado, a mexicana Femsa, principal acionista da Coca-Cola Femsa, quer comprar mais empresas no país. Estão na mira farmácias, laticínios e engarrafadoras de bebidas não alcoólicas. A desvalorização do real frente ao dólar, nos últimos anos, tornou o Brasil “um paraíso para compras”, dizem executivos da empresa. A companhia também quer trazer ao país modelos de negócios com os quais já opera no México, como as lojas de conveniência Oxxo. A crise econômica preocupa, mas a aposta dos mexicanos no país é de longo prazo.

— A retração da economia brasileira nos preocupa, mas não nos assusta. Fazemos planos para o Brasil pensando nos próximos 25 anos, quando a situação da economia já terá melhorado — disse ao GLOBO o presidente do Conselho de Administração da Femsa, Jose Antonio Fernándes Carbajal, que afirmou que a empresa respeita a posição de cada governo, sem entrar no campo ideológico.

No ano passado, as vendas totais de bebidas da Coca-Cola Femsa no Brasil caíram 3% com a retração do consumo. Mesmo assim, o resultado não foi considerado ruim, diz Jose Ramón Martínez Alonso, diretor de Assuntos Corporativos da Coca-Cola Femsa, que nos últimos quatro anos esteve no Brasil dirigindo a operação brasileira.

— A crise econômica nos impactou proporcionalmente menos que a outros setores. E há segmentos em que atuamos, como o de sucos e de chás prontos, que ainda crescem 10% a 15% ao ano — disse o executivo.

A Coca-Cola Femsa também é dona de marcas de sucos como a Del Valle; de chás, como a Leão Fuze e da AdeS, bebida à base de soja, entre outros produtos.

Se no Brasil, a imagem da empresa está muito associada à Coca-Cola, nos outros dez países da América Latina onde está presente, além das Filipinas, a Femsa já é reconhecida por atuar em setores tão diversos quanto varejo, postos de gasolina, logística, plásticos e comida pronta. Tem fábricas de refrigeradores comerciais, uma delas na cidade de Itu, em São Paulo, e já planeja abrir a segunda unidade no Nordeste.


A Femsa é a segunda maior acionista da Heineken, com uma fatia de 20%. No México, a companhia possui 15 mil lojas de conveniência da marca Oxxo, que vendem de comida de gato a parafernálias eletrônicas. A cada dia, três lojas são abertas em território mexicano e dez milhões de transações são feitas diariamente. O modelo já chegou à Colômbia e ao Chile e pode chegar ao Brasil. A Femsa estreou, há pouco tempo, na Colômbia e no Chile, no ramo de farmácias.

— No Brasil, existem muitas oportunidades de aquisição de redes de farmácias regionais — disse o diretor de Relações com Investidores da Femsa, Gerardo Lozoya, sem detalhar quanto a empresa tem para investir e qual o prazo para realizar os negócios.

BRASIL SERÁ O MAIOR MERCADO

A estratégia de aquisições pela América Latina faz parte do dia a dia da empresa e agrada aos investidores. Em onze anos, o valor de mercado da Femsa, que tem ações na Bolsa de Nova York, saltou de US$ 8,6 bilhões para US$ 30,9 bilhões. Nos últimos cinco anos, segundo levantamento da Bloomberg, a Femsa e sua unidade de engarrafamento, a Coca-Cola Femsa, fizeram ao menos 19 aquisições (sem contar a Vonpar) avaliadas em US$ 6,2 bilhões. A maior parte delas aconteceu na América Latina.

— Em nossas expansões, buscamos negócios em áreas que já atuamos. Não precisamos sair para setores distintos de bebidas, sucos, água, varejo. Dar um duplo salto mortal, diversificando em países e em produtos oferecidos, é muito mais perigoso — afirmou Carbajal.

Mesmo assim, no México, com a reforma energética promovida pelo governo que permitiu a grupos privados a participação na venda de gasolina, abriu-se uma nova frente de oportunidades para a Femsa. A empresa já tem mais de 300 postos de combustível no país e segue comprando outras unidades. Carbajal observa que a maioria não integra uma rede. Com isso, existe a possibilidade de consolidação no setor.
- Divulgação

Mas o negócio de bebidas seguirá como o motor da empresa, diz Jose Ramón. De volta ao México há pouco mais de 45 dias, ele participou das negociações da Vonpar e diz que a compra foi “a cereja do bolo” para a Coca-Cola Femsa no Brasil, que fincou sua bandeira no país há 17 anos. A negociação durou quatro meses e ainda deverá ser avaliada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que regula a concorrência no país. Quando for concluída, o Brasil será o maior mercado da companhia, com 80 milhões de consumidores, e 49% das operações da Coca-Cola no país. No México, onde a empresa nasceu, a Femsa tem 63 milhões de consumidores e 50% da operação da Coca.

— Entrar nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina com a compra da Vonpar nos traz muitas sinergias, já que atuamos no Sudeste e no Mato Grosso do Sul. Poderemos rebalancear as malhas de distribuição. Ao menos 54% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil são gerados no território em que estamos agora — afirma Jose Ramón Martínez Alonso, lembrando que, em três anos, a Femsa comprou a Spaipa, que atua no Paraná e em São Paulo, por US$ 1,86 bilhão, e a Cia. Fluminense de Refrigerantes, por US$ 448 milhões e ele não descarta novas compras.



A empresa já deu o primeiro passo no Brasil no setor de lácteos. Comprou, no fim do ano passado, a mineira Verde Campo, líder em produtos lácteos, como queijos e iogurtes, sem lactose e dona da marca Lacfree.

— A dúvida é se criamos uma marca potente ou compramos marcas regionalmente. Dá para crescer — resume Ramón.

*O repórter viajou a convite da Femsa




Veículo: O Globo - RJ

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