Geral
01/03/2016 14:29 - Indústria subirá preço mesmo com demanda interna retraída
As indústrias de bens de consumo vão continuar repassando para os preços os aumentos de custos em 2016. Apesar da retração na demanda doméstica, segundo executivos do setor, a prioridade é recuperar as margens de lucro sem prejudicar o volume vendido.
"As grandes empresas como a Ambev, a BRF e a Hypermarcas dominam o mercado interno e conseguem, com mais facilidade, elevar os preços sem perder um volume significativo de vendas", observa o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira.
No ano passado, foram os reajustes de preços que levaram a BRF a manter a rentabilidade dos negócios. A companhia pretende manter a estratégia em 2016. "Vamos aumentar o preço sim, quando acharmos que for necessário, que cabe e com inteligência", disse o diretor presidente global da BRF, Pedro Faria, na última sexta-feira (26).
O executivo espera que a concorrência seja menor neste ano, o que deve facilitar o reajuste de preços sem perda de mercado. Isso porque, na visão dele, as rivais da BRF terão um ambiente ainda mais difícil em 2016.
A Ambev também prevê aumento de preços, afirmou o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da companhia, Ricardo Rittes. "Vamos repassar aumentos de impostos em âmbito estadual e federal e a inflação", declarou ele, em teleconferência com jornalistas na última semana.
Em 2015, a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu mais de 10%. Para este ano, o mercado estima alta de 7,6%, conforme o Boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central. Em 2017, a estimativa é de uma inflação de 6%.
Apesar da perspectiva de aumento de preços, os executivos sabem que o movimento não será suficiente para garantir crescimento de receita. Eles devem explorar novas estratégias para não continuar perdendo vendas, como ocorreu com BRF e Ambev que tiveram queda de 3,2% e 1,6% em volume, nessa ordem.
"Tentamos focar em garantir que os nossos refrigerantes sejam os mais baratos possíveis para os consumidores, com a oferta de latinhas em tamanhos diferentes, por exemplo", comentou Rittes, da Ambev. A companhia também aposta em embalagens retornáveis como alternativa de menor preço ao consumidor e linhas de produto menos tradicionais cuja participação no negócio vem crescendo.
Já a BRF espera melhorar os ganhos a partir de um mix de maior valor agregado e lançamento de produtos, estratégias que vêm sendo aplicadas pela empresa nos últimos trimestres.
Saúde e Beleza
A Hypermarcas, gigante em higiene e medicamentos, também espera elevar os preços de remédios, mas está atenta aos ajustes da demanda. "Acreditamos o aumento de preço terá elasticidade relativamente pequena [em relação a demanda], por ser um setor de primeira necessidade, mas temos que ver como isso irá se comportar nos próximos meses", contou o presidente da Hypermarcas, Claudio Bergamo, para analistas.
Bergamo projeta leve alta no volume comercializado pela companhia, mas afirmou que trabalha com cenário de manutenção da participação de mercado que a empresa tem hoje.
Silveira, da Nova Futura, destaca que nem todas as empresas de grande porte têm espaço par aplicar reajustes sem perder espaço no mercado nacional.
A Natura, por sua vez, vai avaliar reajustes de acordo com cada categoria de produto. A fabricante de cosméticos tem visto o volume de vendas e participação de mercado diminuir a cada trimestre, pressionada pela maior concorrência em um setor que, até 2014, crescia em ritmo acelerado.
"A Natura tem tido alguma dificuldade para manter o market share nos últimos anos, mas o caminho para crescer agora é ganhar participação. E o preço é um elemento chave para o sucesso em 2016", afirmou o presidente da companhia, Roberto Lima, em teleconferência.
Investimentos
Lima explicou que vai cortar gastos em 2016 para fazer frente a queda nas vendas. "Há uma redução de capex (investimento em bens de capital), uma vez que foi encerrado um grande esforço de investimento, principalmente em infraestrutura de fabricação e distribuição [nos últimos anos]. Mas queremos manter o fluxo de inovação".
Na avaliação do economista da Nova Futura, a redução do capex nas companhias brasileiras era esperado e pode ser atribuído a três fatores. "As empresas estão se ajustando a queda da demanda e enfrentam um cenário de restrição ao crédito, o que afeta a rentabilidade. Com a necessidade de manter a geração de caixa e reduzir endividamento, elas estão reduzindo aportes, movimento que deve se prolongar pelos próximos dois trimestres", estimou ele.
Já a Ambev vai cortar investimentos em 2016 sobre 2015, pois não vê necessidade de elevar capacidade nos próximos anos devido ao cenário atual.
Na M. Dias Branco, os aportes de R$ 456,9 milhões no ano passado foram destinados à expansão e manutenção da estrutura produtiva. O aumento da capacidade de produção em um momento no qual a demanda no setor está menor, entretanto, fez o nível de utilização da capacidade produtiva da empresa cair 0,5 ponto percentual ante 2014.
"Além do aumento da capacidade de produção, o início da operação de novas linhas de produção, que ainda não estavam em sua plena atividade ao longo de 2015, influenciando na redução do nível de utilização", informou a M. Dia Branco.
Já a calçadista Grendene decidiu descontinuar os investimentos na A3NP, seu negócio de móveis, neste ano e reconheceu perda total dos aportes feitos até então. O diretor financeiro da empresa, Francisco Schmitt, garantiu que a calçadista vai continuar reforçando suas marcas com um "marketing mais agressivo". A empresa vendeu 12% menos no último ano.
Veículo: Jornal DCI
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