São Paulo - Cresce a cada ano a participação de mulheres em escritórios de contabilidade. Em 2004, elas ocupavam apenas 29% dos cargos da área, hoje o número já subiu para 42%, com expectativa de que a paridade seja alcançada dentro de poucos anos. Para isso, entidades setoriais investem em ações que contemplem a diversidade de gênero.

"Precisamos que as mulheres deixem de ser apenas funcionárias e abram seus próprios escritórios", defende a presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (CRCPR), Lucélia Lecheta. A organização é vinculada ao Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que agrega profissionais de todo o País.

O órgão é responsável pelo Encontro Nacional da Mulher Contabilista, evento anual que chegou à décima edição em 2015, após realização em agosto, na cidade de Foz do Iguaçu (PR). Coube à Lucélia - dona de um escritório na Região Metropolitana de Curitiba, onde mais de 80% do quadro é composto por mulheres - a coordenação do simpósio.

"Mostramos às participantes experiências de mulheres capazes de fazer a diferença", explicou a profissional que, por sua vez, também rompeu alguns paradigmas: foi ela a primeira pessoa do sexo feminino a chefiar o conselho estadual da área em terras paranaenses. Em âmbito nacional, seu caso não é exceção. "Já temos mulheres nas presidências regionais de oito estados, entre Rio de Janeiro, Distrito Federal e Amazonas", conta Lucélia.

O cenário deve ficar ainda mais favorável para elas no futuro, uma vez que as mulheres também são a maioria dentro das universidades. "Hoje somos 69% das estudantes. Em breve demos atingir uma igualdade na profissão", conjectura a presidente do CRCPR, que também credita o avanço ao salto de qualidade atravessando pelas ciências contábeis de maneira geral.

"Muitos homens também foram atraídos, mas a força de trabalho feminina se sobrepôs", completou Lucélia. "Não queremos competir com eles: queremos mostrar nosso talento e, por que não, um pouco do nosso charme".

Educação

"Quando comecei com meu escritório, há 20 anos, o cliente me chamava e pedia para falar com o meu chefe", conta a sócia e diretora do escritório tocantinense Planej, Vânia Labres. "Hoje já não sinto isso. Diria até que muitos dos escritórios têm preferido nos contratar", relata.

Para Vânia, os motivos da predileção são conhecidos: as mulheres são normalmente mais minuciosas e cuidadosas, o que torna a prática contábil mais fácil para elas.

"Algo que também é mais inerente nas mulheres é a questão do trabalho voluntário", opinou Vânia, que coordena o programa Voluntariado da Classe Contábil (PVCC), outra iniciativa inclusiva do CFC.

Entre as ações do grupo estão a arrecadação de fundos para instituições de caridade através de deduções fiscais e ações de educação financeira junto a comunidades carentes - cursos estes onde as mulheres também são maioria.

A principal iniciativa do PVCC, contudo, é a realização de auditorias independentes realizadas pela sociedade civil em prefeituras de 15 estados. Responsáveis pelo trabalho desde 2008, os Observatórios Sociais devem chegar a São Paulo em breve.

De acordo com Vânia, as ações ficariam longe de sair do papel se não fosse a participação das profissionais do sexo feminino no programa de voluntariado. "Nossa presença no programa é bem maior. A comissão nacional do PVCC conta com nove pessoas, das quais apenas dois são homens. No caso dos coordenadores estaduais do projeto, cerca de 85% são mulheres."

Ascensão

Ainda assim, tanto Lucélia quanto Vânia concordam que avanços em alguns pontos ainda são necessários. "Ainda não alcançamos os homens quando o assunto são cargos de chefia", explica a contadora do Tocantins. Para a representante do Brasil no International Federation of Accountants (Ifac), Ana Maria Elorrieta, o quadro está para mudar. "Estamos longe dos 50%, mas muitas mulheres já são sócias. Hoje em dia não é algo tão raro", explica a profissional.

Ana Maria cita a própria experiência como exemplo: após ingressar na consultoria PWC como trainee, há 35 anos, a contadora chegou a ocupar a posição de sócia. "Comecei no escritório da Argentina, onde a participação de mulheres em cargos de liderança também tem crescido bastante, até que surgiu a oportunidade de trabalhar no Brasil", explica.

Por aqui, a executiva trilhou carreira de sucesso e chegou a ocupar o cargo de presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). "Com o passar do tempo vamos mostrando nossas competências e crescendo muito, inclusive na área de auditorias", afirma ela, antes de pensar melhor e completar. "Estamos crescendo em todas as profissões, para falar verdade."

Veículo: Jornal DCI