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17/09/2015 12:41 - Pesquisar preço no supermercado pode render mais de R$ 2 mil por ano

                                 Levantamento nacional da Proteste em 1.258 lojas encontrou no Estado do Espírito Santo a cesta mais barata (R$ 425,23); a mais cara foi a de Santa Catarina (R$ 470,84)




O consumidor pode poupar cerca de R$ 2 mil por ano, quantia suficiente para adquirir à vista um smartphone 4G ou quatro pares de tênis de corrida, por exemplo, se optar pelo supermercado mais barato antes de fazer as compras do mês. Com o avanço da inflação e o orçamento apertado, nos últimos tempos o hábito de pesquisar preço ficou mais frequente entre os brasileiros, já que o gasto com despesas de supermercado representa um terço do orçamento doméstico. E a associação de consumidores Proteste calculou quanto é possível economizar ao final de um ano fazendo compras nos estabelecimentos que oferecem produtos mais baratos.

O Rio de Janeiro foi a cidade onde se constatou ser possível obter a maior economia em 12 meses ao escolher a loja com itens mais em conta em relação ao estabelecimento comercial mais caro: R$ 2.119,43. Em seguida está Florianópolis, com R$ 1.747,27, e São Paulo, com R$ 1.703,93 (veja quadro ao lado).

Para chegar a essas cifras, a associação reeditou o levantamento nacional de preços nos supermercados que faz anualmente desde 2005. A pesquisa é realizada a partir de uma cesta com 104 produtos de marcas líderes, entre alimentos, bebidas e itens de higiene e limpeza, além de carne, frutas e legumes. O valor da cesta pesquisada, que passa muito longe da cesta básica, pois inclui azeite de oliva, cerveja e iogurte, por exemplo, foi coletado em 1.258 lojas espalhadas por 20 cidades, localizadas em 13 Estados e no Distrito Federal. Os pesquisadores foram a campo em abril e tiveram o cuidado de levantar preços de produtos idênticos fora dos dias de promoção.

O menor valor médio da cesta no País foi R$ 425,23, encontrado no Estado do Espírito Santo, e o maior em Santa Catarina, com R$ 470,84. Em São Paulo, o custo médio da cesta foi de R$ 440,86; no Rio de Janeiro, R$ 451,47 e em Brasília, de R$ 452,61.

“O que chamou atenção na pesquisa deste ano foi a grande diferença de valor da cesta na mesma cidade e até na mesma rua”, observa a estatística Natália Dias, técnica da Proteste. No Rio, por exemplo, constatou-se variação de 44,5% no valor da mesma cesta entre lojas diferentes. Em São Paulo, a pesquisa registrou numa mesma avenida da zona leste da cidade uma variação de 22% na cesta vendida por duas lojas diferentes. As lojas estão separadas por um quilômetro.

Diferenças. A grande diferença de preço entre as cestas se repete no caso de itens isolados, o que reforça a recomendação de pesquisar preço antes de comprar, dada pela Proteste. Entre o máximo e o mínimo, constatou-se, por exemplo, uma diferença de 164% no preço do hambúrguer congelado bovino vendido em duas lojas em Porto Alegre (RS). A partir de hoje, está disponível no site da Proteste (www.proteste.org.br) um simulador que ajuda a escolher a loja que oferece o melhor preço, conforme o perfil e a localização do consumidor.

O presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, explica que, em épocas de inflação em alta, a dispersão de preços, isto é, a diferença entre a cotação de um mesmo produto entre lojas diferentes, aumenta por conta das negociações fechadas especialmente pelas grandes redes, que têm maior poder de barganha pelo fato de comprar grandes volumes, e também pelas promoções mais agressivas. “Vejo com naturalidade o aumento da dispersão porque não somos um setor que age em cartel”, observa.

Foi exatamente para buscar o preço mais em conta que a cabeleireira Clislaine Oliveira, 22 anos, que mora em Vitória, no Espírito Santo, onde o levantamento encontrou a cesta mais barata do País, incorporou a pesquisa de preço no seu dia a dia. “É preciso estar sempre atenta aos preços e pesquisar para conseguir economizar. Trocar marcas famosas por outras de menor preço também é uma saída para gastar menos.” A cabeleireira conta que, com essa estratégia, chega a economizar R$ 170 por mês. Isso equivale a um pouco mais R$ 2mil por ano, a mesma cifra apontada pela pesquisa para a cidade do Rio. Para Vitória, onde Clislaine mora, o Proteste calculou que a economia anual é de R$ 975,30.

Diferenças à parte, o que pesa no bolso do consumidor neste ano é o forte aumento da inflação que deve fazer o setor supermercadista encerrar 2015 com queda de 0,30%, a primeira retração nas vendas em nove anos, segundo a Abras.

A pesquisa da Proteste mostra, por exemplo, que a inflação da cesta de produtos subiu em 12 meses até abril muito acima da inflação de 8,17% acumulada no período pelo índice oficial de inflação, o IPCA. Dos 13 Estados pesquisados mais o Distrito Federal, só no Rio de Janeiro e no Espírito Santo a cesta variou abaixo da inflação. Isto é, 6% e 8%, respectivamente. Nos demais Estados as altas foram bem superiores, chegando a 21% no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul, 18% no Rio Grande do Norte e 17% em Pernambuco.

Atacarejo. Além de apontar as lojas com a cesta mais em conta, a pesquisa revela também qual é a rede varejista que cobra o menor preço na maioria das cidades. Pelo segundo ano consecutivo, o Atacadão, bandeira de atacarejo (formato que mistura atacado com varejo) do Grupo Carrefour, foi a rede varejista com a cesta mais barata na maioria das cidades pesquisadas. Em oito de vinte cidades, o Atacadão foi a rede com preços da cesta mais em conta.

Segundo o diretor-presidente da empresa, Roberto Müssnich, o preço menor oferecido pela rede varejista é muito mais fruto da eficiência da empresa do que da negociação com os fornecedores. “O nosso modelo de negócio é enxuto.” Ele explica que o porcentual de descontos varia de loja para loja do Atacadão, atualmente 117 em todas as regiões do País. Quanto aos preços ao consumidor, ele explica que a rede varejista procura trabalhar com a mesma cotação do produto dentro de uma determinada região. Por exemplo, todas as lojas de Recife (PE) têm os mesmos preços. Isso também é válido para São Paulo e outras regiões.

Por vender itens com preços mais em conta do que os dos supermercados tradicionais, as lojas de atacarejo, como as do Atacadão, têm como clientes pessoas jurídicas, isto é donos de restaurantes, lanchonetes, por exemplo, e pessoas físicas. “Nos últimos meses, percebemos um aumento de clientes de consumidores finais”, conta Müssnich. Ele diz que ainda não é possível mensurar esse crescimento. “As lojas estão mais cheias e estamos crescendo em receita e em volume de vendas.”

Para ilustrar esse avanço, ele cita a pesquisa da consultoria Nielsen, que aponta um crescimento de 9% nas vendas do atacarejo neste ano. Müssnich observa que a sua empresa está acompanhando o desempenho do mercado. “Nos últimos anos crescemos muito, tanto no mercado como dentro do grupo.” Do faturamento de R$ 37,9 bilhões obtido pelo Carrefour no Brasil no ano passado, mais da metade veio do Atacadão. / COLABOROU LUCIANA ALMEIDA, DE VITÓRIA, ESPECIAL PARA O ESTADO



Veículo: Jornal O Estado de S.Paulo

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