Geral
25/08/2015 10:43 - A agenda Brasil da Unilever
Com investimentos de R$ 1,1 bilhão em produção local, a companhia quer ajudar o País a desenvolver fábricas mais sustentáveis e a exportar para a África. O desafio é manter o ritmo acelerado de crescimento dos últimos anos
O holandês Paul Polman, o todo-poderoso CEO da Unilever, a gigante anglo-holandesa de bens de consumo, que fatura € 48,4 bilhões por ano , dedicou, neste mês, mais de uma semana para uma visita ao Brasil, a primeira em 2015. Na quinta-feira 13, ele teve um encontro com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Como era de se esperar, pelo histórico de 86 anos de sua empresa no Brasil, Polman reafirmou, durante a conversa de uma hora e meia, o compromisso da Unilever com investimentos de longo prazo nas operações locais. Outros temas menos óbvios, no entanto, estiveram na agenda. Polman, um dos executivos globais mais respeitados quando o assunto é sustentabilidade, cobrou do País uma postura mais participativa nas discussões que ocorrerão na COP21, a Conferência sobre a Mudança do Clima da ONU, que acontecerá em novembro, em Paris. “O Brasil, com o tamanho e importância que tem em questões ambientais, precisa se posicionar”, afirmou o executivo, que também preside o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável e é representante dos empresários no Pacto Global da ONU. O CEO destacou, ainda, que o País não pode ter uma economia que importa mais do que exporta. “As exportações não devem ser só para a América Latina”, disse. “Falei com a Dilma sobre a África, que terá um mercado consumidor de dois bilhões de pessoas e a metade da população com menos de 20 anos de idade no mundo.”
O interesse pelo Brasil não se resume à filantropia. Também não é só um simples desejo de colaborar para que um país amigo tenha um futuro digno. A Unilever possui planos de longo prazo por aqui e conta com o desenvolvimento local para ampliar os seus resultados. Afinal, o brasileiro é o seu segundo maior mercado consumidor, entre os 190 em que atua, atrás apenas dos EUA. No ano passado, sua operação local faturou R$ 16,7 bilhões. Não por acaso, a subsidiária comandada pelo executivo argentino Fernando Fernandez está investindo R$ 1,1 bilhão em duas fábricas. A primeira foi inaugurada na quarta-feira 19, também com a presença de Polman, na pequena cidade de Aguaí, no interior de São Paulo. Com investimentos de R$ 500 milhões, ela será a 15a unidade e dará origem ao 10º complexo industrial da Unilever no País, aproveitando sua proximidade com os mercados consumidores de São Paulo e Minas Gerais. Com expectativa de empregar 250 funcionários em sua primeira fase, a fábrica já iniciou a produção de desodorantes aerossóis Rexona e Dove e logo deve receber uma ampliação. “Vamos fabricar aqui também produtos de limpeza e cuidados pessoais”, diz Fernandez.
Em novembro deste ano, será iniciada a construção de uma fábrica em Pernambuco, próxima do Porto do Suape, que vai consumir R$ 600 milhões de investimentos. O empreendimento contará com um Centro de Distribuição e estará voltado para a produção de alimentos. “Independentemente da conjuntura de curto prazo, acreditamos no Brasil”, diz Fernandez. Ao mesmo tempo, a companhia pretende contribuir para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis e o uso mais eficiente dos recursos naturais na indústria. Com esse objetivo, assinou um acordo de cooperação técnica com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, segundo o qual deve compartilhar conhecimentos de manufatura verde com outras empresas nacionais. “Estamos construindo, atualmente, 17 fábricas pelo mundo, que estarão de acordo com a nossa estratégia de produção sustentável”, diz Polman. Na fábrica de Aguaí, por exemplo, a expectativa é consumir 50% menos energia do que o usual, através do aproveitamento da iluminação natural e de geração energética com painéis solares. “Centros de pesquisas como o da Unilever, em Valinhos, além de atraírem empregos de alta tecnologia, para cientistas e pesquisadores, servem de referência para outras empresas”, afirma o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo.
Para ter a capacidade de incentivar os avanços da tecnologia e dos negócios, no entanto, a Unilever precisa que seus investimentos no Brasil tragam retorno. Nos últimos cinco anos, a empresa dobrou de tamanho no País, e, mesmo com uma expectativa atual de desaceleração do ritmo, ainda espera uma expansão de 10% neste ano. Em uma década, o objetivo é duplicar de novo o faturamento, ultrapassando com folga a barreira dos R$ 30 bilhões. A questão é que a fórmula do sucesso do passado recente não poderá ser repetida. Muito do resultado positivo da empresa se deve à ascensão da chamada classe média emergente brasileira, no novo milênio, que migrou para o consumo de artigos como os xampus Seda. Mas é exatamente essa faixa da população a que mais precisou alterar o seu consumo com a crise econômica atual, segundo a empresa de pesquisas Nielsen. “A classe C foi a que mais restringiu categorias em sua cesta de produtos”, diz Sabrina Balhaes, executiva de atendimento da Nielsen. “Por conta da expansão do crédito na última década, ela gastou, por muito tempo, mais do que ganha, e agora está com a renda comprometida.”
A Unilever está ciente desse desafio e pretende ampliar o alcance de seu portfólio. “Nossa companhia tem a capacidade de servir a cada um dos 200 milhões de brasileiros”, afirma Fernandez. “Se o consumo de produtos de beleza cai, introduzimos itens de cuidados para bebês.” Nesse sentido, o redirecionamento começa a apresentar os primeiros resultados. A companhia já expandiu a marca Omo para produtos de remoção de manchas. E está colhendo um bom retorno – visível pelas filas que se formam em suas sorveterias, em São Paulo – com a venda dos sorvetes premium Ben & Jerry’s, marca que ganhou reconhecimento nos Estados Unidos, desde os anos 1970, por seus sabores naturais com nomes irreverentes.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro
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