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05/08/2015 12:52 - Preço dos alimentos usados para fazer tempero dispara e faz consumidor mudar hábitos

                                    Queridinhos dos brasileiros, cebola e alho puxam a fila dos aumentos, com preços médios 99,2% e 29,2% mais altos que há um ano, respectivamente. Ervas finas também não dão alívio



Se você gosta de uma comidinha bem temperada, é bom preparar o bolso. O preço dos produtos que dão sabor aos mais variados pratos, como alho, cebola e até mesmo as ervas como manjericão e salsinha, está cada dia mais salgado. O quilo do alho, por exemplo, pode ser encontrado nas bancas de supermercados de Belo Horizonte por até R$ 35. A cebola, entre R$ 8 e R$ 10. O quilo da cebolinha é vendido a R$ 20,90. O preço das iguarias chega a ser mais caro que o quilo da fraldinha, corte bovino que custa em média R$ 16,08, e o do filé de peito de frango, vendido a R$ 11,97. As ervas finas também são vendidas a preço de ouro. Cinquenta gramas de manjericão desidratado ou de orégano são vendidos por R$ 3 no Mercado Central. O chimi churri, mistura de ervas finas de origem argentina, muito utilizada para temperar carnes, chega a custar R$ 50 o quilo.

A alta nos preços fez com que a aposentada Ivone Araújo, de 60 anos, mudasse os hábitos de consumo das especiarias em casa. Antes da alta, ela comprava uma quantidade maior de alho, cebola, cebolinha e outras ervas finas e preparava potes de tempero que duravam meses. Com os preços mais altos, ela mudou a rotina e passou a fazer o tempero para apenas uma semana. “Não dá para levar grandes quantidades, como antes, e variar no tempero. O preço do quilo do alho está em torno de R$ 25 e o da cebola, R$ 8. Lembro que, no início do ano, eu comprava pela metade do preço ou menos”, lamenta. Ivone afirma ainda que, para não perder o sabor da comida, tem investido em outras ervas, que saem a preços mais baixos que o alho. “Tento colocar um manjericão, uma cebolinha. Mas está caro do mesmo jeito e não deixa o mesmo sabor”, diz.

Dono de uma loja especializada em temperos, André Batista afirma que, em 18 anos de atuação no comércio, nunca viu a cebola ser vendida a preço tão alto. Segundo ele, há dois meses o quilo da cebola chegou a ser vendido a R$ 15 e R$ 10. “Tivemos pouca oferta do produto nos últimos meses, e agora está melhorando um pouco. O preço já caiu, mas não acredito que caia mais que isso. Com a falta de chuvas, a produção diminuiu bastante e o preço de mercado funciona de acordo com a oferta e a demanda”, explica.

Segundo levantamento feito com dados das Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas), o preço médio no atacado pago pelo quilo de cebola no primeiro semestre deste ano, R$ 2,53, é 99,2% mais alto que em 2014, quando a iguaria custava R$ 1,27, em média. Ainda segundo o levantamento, o preço do alho, este ano, está 29,2% mais alto que no mesmo período do ano passado, passando de R$ 6,36 para R$ 8,22. Em seguida no ranking dos maiores preços aparecem o manjericão, cujo quilo era vendido a R$ 8,60 e agora vale R$ 10,46, em média, no atacado: alta de 21,6%. A cebolinha não fica para trás. Custava R$ 8,53 o quilo, e agora é vendida a R$ 10,17, alta de 19,23%.

A dona de casa Sônia Fonseca, de 59 anos, afirma que, antes de fazer as compras, faz uma pesquisa de preço nos principais supermercados. “O alho mais barato que encontrei foi a R$ 20 o quilo, mesmo assim ele não estava tão bonito. A cebola não encontrei por menos de R$ 8. Tudo está muito caro e, agora, até o tempero está mais salgado. É claro que a gente não usa muito, mas, mesmo assim, a diferença, no final da conta, é gritante”, comentou.

Proprietário da loja Rei do Alho, no Mercado Central, Cláudio Miranda afirma que o preço do tempero só tem aumentado desde o início do ano. Antes do aumento, a loja trabalhava com um estoque de mais de 50 caixas de 10 quilos de alho. Hoje, o estoque não passa de 10 caixas. “Estamos comprando a caixa de alho por cerca de R$ 145 e a de cebola, por R$ 120. Não lembro de pagar tão caro assim há muito tempo”, afirma. Cláudio comenta que, mesmo com os preços altos, os mineiros não deixam de consumir os temperos e, por conta disso, a loja registrou no último mês o maior faturamento dos últimos cinco anos. “Não aumentamos as vendas, nem diminuímos, mas, como está mais caro, o faturamento aumentou”, comemora.

TENDÊNCIAS

Segundo especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, a tendência é que os preços continuem subindo por conta da redução da oferta do produto nacional e aumento da importação, o que traz ao preço o impacto da alta do dólar. O alho é a iguaria que deve ter o preço mais afetado pelo câmbio. Mesmo com uma safra para ser colhida a partir deste mês, a produção nacional é insuficiente para atender a demanda e cerca de 60% do que é consumido no Brasil vem da China, Argentina e Espanha. Com a moeda norte-americana valorizada, o consumidor terá de conviver com os altos preços nas gôndolas dos supermercados. “A produção nacional é insuficiente para atender a demanda. A gente importa mais caro e esse aumento é repassado para o varejista, que repassa para o consumidor”, afirma o coordenador de informações de mercada da Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas), Ricardo Fernandes Martins.

No caso da cebola, mesmo que a colheita comece também neste mês, os preços devem continuar no mesmo padrão, segundo a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, já que diminuíram a área plantada e a produção do vegetal no estado. Em 2014, foram colhidas 171,5 mil toneladas de cebola no estado, que é o terceiro do país em produção. Para esse ano a expectativa é colher 163,8 mil toneladas. “Além das condições climáticas desfavoráveis, com a crise hídrica, no ano passado, o preço da cebola não foi tão atrativo para o produtor, que preferiu investir em outras culturas. Com a redução da oferta, mesmo no período de safra os preços não devem sofrer alterações”, afirma Aline.

FALTOU ÁGUA

O produtor e presidente do Conselho Regulador de São Gotardo – maior região produtora de alho e cebola do estado –, Jorge Nobuhico Kiryu, afirma que houve quebra entre 10% e 15% na safra de alho e cebola deste ano por conta do clima atípico e das dificuldades para promover uma irrigação eficaz na lavoura. “Com a falta de produto para abastecer o mercado, o preço para o produtor costuma aumentar entre 10% e 20% e, claro, esse valor é também repassado para o consumidor final. Mas, quando há oferta demais, o preço cai na mesma proporção. Se hoje está caro, pode ser que daqui a um mês ou dois esteja muito mais barato. Depende de como o mercado vai se comportar”, lembra.



Veículo: Jornal Estado de Minas

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