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01/06/2015 12:45 - Após tropeços, Sanofi tenta retomar crescimento no País
Comprada a peso de ouro em 2009, por R$ 1,5 bilhão, a farmacêutica Medley garantiu ao grupo francês Sanofi a liderança absoluta em medicamento genéricos e o título de maior laboratório do mercado brasileiro. Essa aquisição também abriu a temporada de um longo e intenso movimento de consolidação do setor no País. Tudo parecia conspirar a favor da Sanofi, uma das maiores farmacêuticas do mundo, mas o que se viu nos anos seguintes foi uma sucessão de atropelos, que agora, sob nova gestão, a companhia pretende estancar.
Nos últimos dois anos, a empresa trocou duas vezes de presidente – Heraldo Marchezini, cria da Sanofi, foi demitido em meados de 2013, e Patrice Zagamé, ex-Novartis, que o substituiu, não chegou a ficar um ano no cargo. Nesse período, a farmacêutica perdeu a liderança na venda de medicamentos totais para a nacional EMS e encerrou 2014 na terceira posição, atrás da Hypermarcas. Em genéricos, foi também ultrapassada pela EMS e já está com a vice-liderança ameaçada.
O desafio de reverter esse cenário está nas mãos do executivo suíço Pius Hornstein, que chegou em janeiro para assumir a presidência da companhia no País. Pela frente, ainda enfrentará os impactos da desaceleração da economia no setor. A receita global da multinacional foi de A 33,7 bilhões em 2014. O Brasil está entre os cinco principais países em faturamento, com vendas brutas em torno de R$ 9 bilhões, incluindo saúde humana e animal.
Em entrevista ao Estado, Hornstein garante que está preparado para colocar a companhia na rota de crescimento novamente. A Sanofi, que atua em várias frentes de negócios – medicamentos com e sem prescrição, genéricos e doenças raras, vacinas e saúde animal –, tem hoje menos de 10% de seus produtos protegidos por patentes. “O grupo está ampliando o portfólio de produtos inovadores, que promete garantir receita”, diz.
Hornstein cita dois medicamentos que já estão em avaliação de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): um que atua no combate a diabetes e outro para tratar alta taxa de colesterol no sangue. Até 2020, há expectativa de lançar 18 produtos que estão em desenvolvimento.
Já nos remédios sem patente, o grupo se prepara para lançar novas categorias de similares e genéricos, além de produtos isentos de prescrição (OTC), muito consumidos no Brasil. “Nos próximos meses, ainda vamos colocar no mercado a vacina contra a dengue (leia mais ao lado)”, completa Hornstein.
O executivo reconhece o avanço dos concorrentes nacionais – que adotam postura agressiva de preços, principalmente em genéricos – e as dificuldades de distribuição de produtos, devido ao tamanho do País. Para simplificar a logística atual do grupo, a Sanofi vai investir A 200 milhões na construção de um grande centro de distribuição em Guarulhos (Grande São Paulo). Os aportes serão feitos ao longo dos próximos cinco anos para a construção de um complexo de 36 mil metros quadrados. “É o equivalente a quase cinco estádios de futebol”, diz.
Fragilidades. De acordo com fontes ouvidas pelo Estado, foram erros estratégicos que fizeram a Sanofi perder participação no mercado. No caso da Medley, de genéricos, a companhia trabalhava com um estoque alto, de seis meses, enquanto a média do setor gira em torno de dois meses, afirmaram as fontes.
A estratégia agressiva de preços de concorrentes, que concedem pesados descontos para os genéricos, comprimindo margens, também contribuiu para queda de participação da companhia. Em 2012, o grupo tinha 31,2% de participação nesse mercado e encerrou o ano passado com 15,14%, de acordo com a consultoria IMS. A EMS segue líder, com 29,62%, e a Hypermarcas, com 14,08%.
Caio Moreira, analista especializado em farmacêutica do Banco Fator, lembra que desde 2012 a Hypermarcas vem investindo na unificação da distribuição e consolidação de seus negócios em Anápolis (GO). A Hypermarcas tem altos gastos com marketing, o que a fez avançar no setor. A Medley passou por problemas internos afetando seus resultados.”
Segundo fontes, uma auditoria de desempenho feita a pedido da matriz da Sanofi entre 2012 e 2013 colocou em xeque a gestão de Marchezini, então presidente do grupo. Hornstein diz que não quer especular sobre o passado e que prefere olhar para frente. Há três meses no País, o executivo, que está há 17 anos na Sanofi e passou por vários países pela companhia, diz ter planos de longo prazo para o País. “De janeiro a março deste ano, as vendas da companhia começaram a crescer.”
Esse avanço pode ser um bom sinal. Mas Hornstein ainda tem muito trabalho pela frente. Além de arrumar a casa, está focado também em melhorar a relação com os clientes no varejo. “Claro que market share (fatia de mercado) é importante, mas cada competidor tem estratégias diferentes. Acredito que os próximos anos para o grupo no País serão bem melhores que os anos anteriores.”
Veículo: O Estado de S. Paulo
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