Geral
24/03/2015 12:02 - Setor tem dificuldade para repasse de custos
Rizicultores do Rio Grande do Sul estão focados no avanço da colheita, mas remuneração do produto não paga aumento no desembolso; tarifa de energia elétrica afeta irrigação e secagem
O aumento de pelo menos 15% nos custos de produção do arroz já afeta toda a cadeia. Entretanto, representantes do setor ouvidos pelo DCI dizem que há dificuldade no repasse de preços ao varejo, fato que tem sustentado valores elevados em plena colheita, mas que ainda não cobrem os desembolsos da safra.
Na última semana os produtores de arroz associados à cooperativa de crédito Sicredi passaram a ter acesso ao Financiamento para Estocagem de Produtos Agropecuários Integrantes da Política Geral de Preços Mínimos (FEPM) para a próxima safra.
"Os recursos serão utilizados para a compra de insumos, para quando surgir alguma oferta, principalmente, de defensivos, visto que os investimentos foram reduzidos diante da baixa remuneração dos rizicultores", explica o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que o preço mínimo em vigor para o arroz em casca do Rio Grande do Sul - principal estado produtor - está em R$ 22,68 por saca de 60 kg. No mercado, Dornelles conta que os preços estão sendo praticados entre R$ 35,50 e R$ 36 por saca de 50 kg, enquanto o ideal, de acordo com os custos de produção, seria entre R$ 37 e R$ 38.
"A safra vai para 40% da área colhida. Seguramente, o custo de produção aumentou 15%. O arroz do Rio Grande do Sul é 100% irrigado, o que pesou mais foi o acréscimo nas tarifas de energia para irrigação, secagem e armazenagem. Solicitamos até uma audiência pública com a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] para tratar desta questão", enfatiza.
Em linha com as expectativas da Conab, a projeção da Federraroz é colher entre oito e 8,3 milhões de toneladas do grão gaúcho na safra 2014/2015, diante de 8,1 milhões de toneladas na temporada anterior. Para o País, a estimativa de produção da companhia nacional é 12,15 milhões de toneladas.
Mercado
"Do ponto de vista da agroindústria, a comercialização está muito lenta com dificuldade grande de repassar os novos custos ao varejo e o produtor está sendo bastante prudente na oferta. Consideramos isso positivo, caso contrário iria promover uma queda generalizada nos preços", avalia André Barbosa Barretto, presidente da Federação das Cooperativas de Arroz do Rio Grande do Sul (Fearroz) e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz).
Mesmo com estas medidas de contenção por parte do setor produtivo, a queda nos valores não foi completamente contida. A análise mais recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indica que houve recuo por seis semanas consecutivas nos valores do grão e, na última semana, estabilidade.
"Na parcial deste mês, o Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa acumula queda de 1,1%. A média mensal, de R$ 35,86 por saca de 50 kg, está 4,83% inferior à de fevereiro", informa o instituto, em nota.
Para Barretto, há um descompasso entre o varejo e os demais elos da cadeia, visto que as margens do comerciante são mais elevadas ante os lucros do produtor e da indústria. Neste cenário, se o rizicultor começar a ter grandes perdas, surge a possibilidade de redução na área de plantio, fato que ainda não está previsto para a próxima safra.
"Por outro lado, uma das questões que trava a diminuição de plantio é que, no Rio Grande do Sul, cerca de 67% dos produtores da cultura não são proprietários das terras e trabalham através do sistema de arrendamento. Sendo assim, o agricultor que optar pela redução de área corre o risco de ser substituído", diz o executivo da Fearroz.
Agora, o setor pleiteia a liberação de recursos para o programa de Aquisição do Governo Federal (AGF) como uma ferramenta de auxílio no escoamento da produção. Diante da qualidade da safra, cogita-se também o envio a exportação, uma vez que a demanda interna deve ser atendida.
Veículo: DCI
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