Geral
26/12/2014 11:14 - Orgânicos ganham a mesa do brasileiro
Brasil já é o 10º maior produtor do mundo. Mercado, que vai de frutas e legumes a produtos industrializados, deve crescer 25% em 2014 e faturar R$ 2,5 bilhões
“Comer orgânico é um luxo no Brasil. Eu, que defendo os orgânicos, não os consumo em grande escala” Sylvia Wachsner Coordenadora do projeto Centro de Inteligência de Orgânicos
O país já é o 10º maior produtor de alimentos orgânicos no mundo, e vendas movimentam R$ 2,5 bilhões por ano. Preço é, em média, 20% maior do que nos demais alimentos.
Expansão. Mercado de orgânicos, sem agrotóxicos ou adubos químicos, cresce no país: potencial de R$ 10 bilhões
Se as previsões se confirmarem, o mercado de produtos orgânicos deve movimentar R$ 2,5 bilhões em 2014. É um crescimento de 25% em relação a 2013 e que deve se manter nos próximos anos, atingindo a cifra de R$ 10 bilhões até 2020. O ritmo é impressionante, segundo especialistas da área, considerando que poucos anos atrás os orgânicos estavam restritos a lojas de produtos naturais ou a feiras de pequenos agricultores. Hoje, eles estão nas prateleiras de grandes redes de supermercados, como Pão de Açúcar e Walmart, em entrepostos comerciais como o Ceagesp, em São Paulo, e em grandes feiras especializadas nesse segmento. Um levantamento da Federação Internacional de Agricultura Orgânica apontou o Brasil como o 10º maior produtor de orgânicos em área plantada.
— Antes, o Brasil só tinha frutas, verduras e legumes orgânicos. Hoje, já existem produtos industrializados como cereais, sucos, geleias. A cadeia de produtos desse segmento está crescendo rápido — diz o coordenador executivo do Instituto de Promoção do Desenvolvimento ( IPD) e gestor do projeto Organics Brasil, Ming Liu, que reúne números sobre o segmento, já que ainda não há estatísticas oficiais sobre os orgânicos.
Para ele, a regulamentação do mercado brasileiro, a partir da Lei dos Orgânicos, sancionada em 2011, fez que o segmento crescesse na casa dos dois dígitos ano a ano. Liu avalia que a explosão de consumo de orgânicos verificada nos Estados Unidos em 1999, quando o país criou uma legislação específica, deve se repetir no Brasil. Naquele ano, o mercado de orgânicos movimentava US$ 1 bilhão nos EUA e 14 anos depois chega a US$ 35 bilhões.
— Com um mercado regulado, os investimentos crescem e a cadeia se expande. Ninguém investe alto sem ter escala. Além disso, a busca por qualidade de vida e saúde estimula a produção de alimentos livres de aditivos químicos — diz Liu, que lembra que o país já exporta cerca de R$ 500 milhões em produtos orgânicos.
MERCADO DE US$ 64 BI
No mundo, o faturamento global com orgânicos chegou a US$ 64 bilhões em 2013, crescimento de 8% em relação ao ano anterior, segundo a Federação Internacional de Agricultura Orgânica. Os EUA lideram, seguidos por Alemanha ( US$ 7 bilhões) e Canadá (US$ 4,4 bilhões).
Há quem diga, entretanto, que o mercado de orgânicos só vai deslanchar no Brasil se alguns gargalos forem corrigidos. Sylvia Wachsner, coordenadora do projeto Centro de Inteligência de Orgânicos, cita, por exemplo, a falta de incentivo fiscal e de organização de dados básicos pelo governo, como os de importação, exportação e produção. Ela diz que na França o governo desonera em cerca de 30% os produtos orgânicos, que geram menos impacto ambiental. E explica que a falta de incentivo prejudica a expansão da oferta o que, inevitavelmente, eleva o preço.
— Comer orgânico é um luxo no Brasil. Eu, que sou coordenadora de uma instituição que defende os orgânicos e sei os benefícios desse tipo de alimento, não os consumo em grande escala. Consumo apenas algumas verduras e legumes — admite.
EM MÉDIA, 20% MAIS CAROS
Em média, os produtos orgânicos são 20% mais caros do que os tradicionais. Mas a diferença de preço pode chegar a 45%. Segundo Sylvia, outros países da América do Sul, como Argentina e Peru, estão mais adiantados que o Brasil na compilação de informações.
— Há um mercado potencial enorme no Brasil, mas é preciso organizá- lo. Saber o que produzimos, quanto vendemos, exportamos, importamos. Poderíamos atingir o tamanho do mercado americano, mas estamos bem longe disso por enquanto — critica.
De acordo com o Ministério da Agricultura, o Brasil tem hoje 10.558 produtores agrícolas de orgânicos registrados no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Ao ano, a pasta registra crescimento superior a 20% no volume de cadastros. Mas não são só pequenos produtores agrícolas que crescem acima de dois dígitos. A Jasmine Alimentos, que fabrica, em Curitiba, produtos naturais e orgânicos, como cereais, adoçantes e bebidas, viu seu faturamento crescer 26% em 2013, para R$ 124 milhões, depois de ter registrado evoluções parecidas nos anos anteriores. A velocidade de expansão chamou a atenção do grupo francês Nutrition et Santé, que comprou em agosto deste ano as operações da companhia.
— O brasileiro quer cada vez mais produtos nutritivos, que sejam saudáveis, sem abrir mão do sabor. E a Jasmine está incluída nesse contexto — diz Liza Schefer, gerente da Jasmine Alimentos, que tem ampliado o leque de produtos orgânicos ano a ano.
No Rio de Janeiro, surgiu, há dois anos, o primeiro supermercado on-line de produtos orgânicos ou naturais. Em 24 horas, frutas, legumes, iogurtes, produtos de limpeza e vinho são entregues na porta de casa, em caixas climatizadas. Em julho, a operação do Organomix chegou a São Paulo depois de várias parcerias com fornecedores. A ideia nasceu da falta de um local que reunisse o maior número possível de produtos orgânicos.
— Oferecemos mais de quatro mil itens. Houve boa aceitação e crescemos quase três vezes. O faturamento saltou de R$ 500 mil para R$ 1,4 milhão, este ano. Para 2015, a meta é atingir os R$ 3 milhões — diz Leandro Dupin, diretor de marketing.
Grandes redes supermercadistas, como o Pão Açúcar, também estão de olho nesta tendência de consumo. Sandra Saboia, gerente comercial do Pão de Açúcar, diz que nas gôndolas da rede já há cerca de 600 produtos orgânicos. O grupo começou a vender esses itens há 20 anos.
Veículos: O Globo
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