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29/10/2014 11:30 - Varejo espera ter canal de diálogo com governo Dilma

Os varejistas esperam do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff a criação de um canal permanente de diálogo para que sejam discutidos os problemas do setor. Além disso, o segmento aguarda o cumprimento das promessas de campanha petista de redução tributária, mas avalia que a confiança das empresas retornará com a formação do novo ministério, dependendo, sobretudo, do nome que comandará a Fazenda.

As empresas do setor ainda estão avaliando os investimentos a serem feitos em 2015, mas, de maneira geral, creem que o próximo ano será melhor do que o atual, contrariando a avaliação de muitos economistas.

"Em 2015, não teremos tantos problemas [na economia]. Pelo que estamos acompanhado com a indústria, com o comércio, de uma maneira geral, está todo mundo com um expectativa positiva, achando que 2015 será melhor do que 2014", afirmou o vice-presidente de operações da Via Varejo, Jorge Herzog. "Pelo que ela mesma [a presidente Dilma] falou depois de ganhar a eleição, o governo vai reavaliar e trabalhar mais próximo das entidades. Temos uma boa possibilidade de que coisas boas aconteçam", acrescentou.

Dona das redes de eletroeletrônicos Casas Bahia e Ponto Frio, a Via Varejo abriu cerca de 70 lojas em 2014 e deve encerrar o ano com um total de mil pontos de venda, aproximadamente, em todo o país. O martelo ainda não foi batido, mas para 2015 a expectativa é de que sejam abertas outras 70 unidades. Reuniões entre a companhia e seu controlador, o grupo francês Casino, devem ocorrer em dezembro. O anúncio de abertura de lojas está programado para janeiro.

"Há céticos que acham que 2015 será pior. Se você se prepara para o ruim, vai ser ruim; se você se prepara para o bom, há grande possibilidade de que seja bom. Essa é a nossa regra", disse Herzog.

O presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, espera que Dilma cumpra as promessas de campanha e faça uma reforma fiscal que beneficie consumidores e empresas. De acordo com ele, a confiança das empresas será retomada com a formação do novo ministério.

"O ministro da Fazenda precisa ser escolhido a dedo, reconhecido pelas empresas e, principalmente, pelos investidores internacionais", afirmou ele.

Sahyoun afirmou que 2015 deverá ser um ano "difícil", mas que as vendas de shopping devem crescer nominalmente entre 7% e 8%. Estão previstas aberturas de 20 a 25 shoppings pelo Brasil no próximo ano, com o acréscimo de 4,5 mil lojas no mercado. Atualmente, existem 688 shoppings no país.

"Precisamos é de um choque de credibilidade para que o empresariado volte a investir. Esse choque de credibilidade passa por um ministério com mais credibilidade", afirmou ele. "Lula deu uma satisfação de que o PT contribuiria para o crescimento do país, colocando empresários no ministério. Vamos ver se a Dilma entende essa linguagem e passa a dar uma abertura", complementou.

Na avaliação de Sahyoun, as dificuldades vão gerar oportunidades de negócio. O presidente da administradora de shoppings Aliansce, Renato Rique, concordou.

"[Aos lojistas] digo: não deixem se desanimar por uma onda generalizada. O país pode estar com sua economia estabilizada, mas uma cidade, ao mesmo tempo, pode crescer 30%. Essas épocas, em que muitos se retraem, é o momento de boas ideias", disse Rique.


No Sul, planos mantidos apesar da frustração


Sem esconder a frustração com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, executivos de grandes empresas de varejo disseram ontem que pretendem manter suas estratégias de expansão em 2015 apesar da expectativa de um cenário mais difícil para o setor. Em seminário promovido pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, eles cobraram mudanças na política macroeconômica no próximo governo, com foco na redução dos gastos públicos, dos juros e da inflação, mas não chegaram a apontar para um cenário de desastre à frente.

O presidente executivo da rede Quero-Quero, Peter Furukawa, disse que espera abrir "pelo menos" dez lojas em 2015, sem contar eventuais aquisições. A varejista de materiais de construção, móveis e eletrodomésticos controlada desde setembro de 2008 pela gestora de fundos Advent, possui 238 pontos nos três Estados do Sul e pretende adquirir uma rede de maior porte para ganhar musculatura, mas devido aos preços "exorbitantes" e aos "esqueletos" embutidos nas empresas prospectadas o avanço tem se concentrado na compra de pequenas lojas, disse o executivo.

Focada nas pequenas cidades do interior, a Quero-Quero não revela o faturamento, mas segundo Furukawa o crescimento dos últimos anos tem sido "consistente" e "melhor do que o esperado". A inadimplência (considerando atrasos superiores a 180 dias) está na mínima histórica de 1,6% e as vendas em mesmas lojas devem avançar 6% nominais em 2015, projetou. Mesmo assim, ele fez um comentário amargo sobre a política macroeconômica do próximo governo: "Sempre pode ficar pior. Se não tivermos cuidado, nossa democracia pode virar uma ditadura da plebe."

O presidente do grupo Boticário, Artur Grynbaum, confirmou que a taxa de crescimento das vendas em 2015 deverá ser menor do que os 16% previstos para este ano, que por sua vez já é uma revisão para baixo da projeção inicial de 18%. Ele afirmou que não é possível fazer uma estimativa mais precisa até que se conheça quais serão os principais "atores" da equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma. "Ela poderia falar já", cobrou o executivo, que mesmo diante do cenário mais "duro" afirmou que o mundo "não vai acabar" em 2015.

Segundo Grynbaum, os investimentos de R$ 650 milhões nos últimos três anos, incluindo a fábrica inaugurada em setembro em Camaçari (BA), provam que o grupo vê o futuro com otimismo. Mesmo assim, o empresário deu algumas sugestões de como o varejo deve se comportar nos próximos dois anos para enfrentar uma tendência de vendas estáveis com despesas crescentes: aumentar a produtividade com controle de custos e não usar capital de giro para financiar expansão de lojas, mas recorrer a linhas de financiamento de longo prazo e custos mais baixos, como as do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Conforme o diretor-presidente da Lojas Renner, José Galló, a estratégia de crescimento da empresa não será alterada porque ela foi feita para cenários "bons e não tão bons". "O que você faz é ajustes operacionais", afirmou. Questionado se planejava reduzir o ritmo de abertura e novas lojas em 2015, o executivo disse que não há nenhuma decisão tomada a este respeito e que o orçamento para o ano que vem ainda está em elaboração.

Para Galló, o consumo no país "não tinha como seguir crescendo" como nos últimos anos, depois que a demanda reprimida dos "35 milhões a 40 milhões" de brasileiros que tiveram ganhos de renda e entraram no mercado foi atendida. Segundo ele, agora o consumo voltou a um padrão de "normalidade" e o varejo que não apresentar um modelo de negócios competitivo "vai ficar pelo caminho".



Veículo: Valor Econômico

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