Por Katia Simões

A consciência dos pequenos e médios empresários sobre a necessidade de oferecer produtos diferenciados levou designers a entender que não basta conceber um produto para ser premiado e, sim, para atender as necessidades do consumidor. Tiveram ainda de desenvolver design para artigos populares. Eram poucos os profissionais que, tempos atrás, pensavam produzir cabides assinados, banheiras de bebê com conceitos de ergonomia e praticidade ou, ainda, kits de cozinha e banheiro funcionais e a preços acessíveis.

"Hoje, esse tipo de demanda faz parte da nossa rotina", afirma Julia Ângela de Mendonça, da mineira Voglio Design, responsável pela criação de um jogo americano, que pode ser usado como tabuleiro ou peça de decoração. Para ela, a função do design é mais ampla do que as pessoas entendem, passa pela otimização do uso dos produtos, longevidade e escolha de materiais adequados, além da funcionalidade, praticidade e estética.

Fugir do lugar comum em um mercado de produtos triviais foi a proposta do empresário Marcos Toma, fundador da Poly Play, empresa nascida, em 2004, na incubadora de Santa Bárbara do Oeste (SP). O primeiro produto era um prendedor de roupa colorido, que por três anos não achou espaço no mercado. Era mais um. Com a ajuda do Instituto ParqTec de Design, de São Carlos, a empresa concebeu os primeiros artigos com funcionalidade - dois suportes de varal e a linha de prendedores divertidos, com investimento de R$ 15 mil por produto, 50% desse valor subsidiado pela incubadora. "Para nós, design virou sinônimo de bons negócios. O faturamento quadruplicou em três anos", afirma Toma.

O mix de produtos, feitos 100% de polipropileno reciclável, saltou para 70, destes, 26 assinados por designers de escritórios como Farné, QuesttoNo e Visken. A média de lançamentos é de seis novidades por ano, distribuídas em importantes redes de varejo do país, como a Tok & Stok e Etna. Recentemente, a empresa mostrou suas criações em uma grande feira de utilidades domésticas em Chicago (EUA) e participou de rodadas de negócios no Canadá. Entre as atrações estão os cabides Zig Zag, que não deformam camisetas, e o Quará, que dribla a falta de espaço no varal e facilita a passagem das roupas. O resultado foi além do esperado, com perspectivas de comercialização nas lojas do Grupo Casino e Home Depot.

"No início de setembro, receberemos em Santa Bárbara D'Oeste os representantes da inglesa Joseph&Joseph, uma das mais badaladas fabricantes mundiais de utilidades domésticas com design, que deseja colocar alguns de nossos produtos em seu catálogo", comemora. Toma diz ter ficado surpreendido com a pequena quantidade de empresas desenvolvendo produtos com design para o dia a dia, mesmo no exterior. Com uma produção de 10 toneladas/mês, a Poly Play espera para este ano um faturamento de R$ 3 milhões.

A transformação vivida pela Poly Play retrata de forma clara o novo momento do consumo e a busca cada vez maior do consumidor por algo que fuja do lugar comum. "Antes, qualidade era diferencial, hoje é obrigação. Não há mais produtos ruins, sejam os de alta tecnologia, sejam aqueles adotados no cotidiano", diz Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&MD. "Nesse contexto, o design é a ferramenta capaz de agregar valor em propostas que permitam ganhar competitividade, conquistando o consumidor pela funcionalidade e também pela estética".

O empresário Luis Illanes, sócio da Freso, de São José dos Pinhais, (PR), foi pioneiro, nos anos 90, na produção de casas de bonecas, escorregadores e gangorras em polipropileno linear, conhecido como plástico rígido, resistente e prático, capaz de ser usado ao ar livre e lavado com água e sabão.

"Sozinho era difícil pensar no dia a dia da empresa e em produtos diferenciados", declara Illanes. "O designer faz isso por você, além de oferecer soluções capazes de multiplicar o portfólio de produtos apenas com pequenas modificações. A história da Freso mudou a partir dos anos 2000 quando procuramos o, então, Centro Paraná de Design para dar continuidade à linha inicial criada por designers italianos".

Com 200 produtos no portfólio, destes 12 assinados, a Freso conta com 450 clientes em carteira e exporta para o Paraguai, Uruguai e Estados Unidos. A última novidade é o Fraldário Cocoon, um produto versátil e prático, capaz de ser usado em residências e espaços públicos. Em forma de concha, com profundidade suficiente para que a criança não caia, o trocador foi lançado em abril deste ano, depois de ter mais de mil unidades testadas. "Ele tem os mesmos recursos do produto importado encontrado na maioria dos fraldários, mas agrega outras facilidades como o cabideiro acomplado na base para que a mãe pendure a bolsa do bebê", diz Illanes. "Mas o principal diferencial é mesmo o design, que se transformou na ferramenta estratégica da Freso".

Na visão de Tânia Savaget, diretora de estratégia e branding da Tátil Design, a ferramenta agrega valor a itens básicos, mas isso só acontece quando o produto é pensado de acordo com o que é necessário para o usuário.

Veículo: Valor Econômico