Geral
26/08/2014 12:41 - Na Índia, a Pepsi aposta em novo sabor: o caju
Quando começa a colheita de caju, os pomares nas exuberantes colinas do distrito de Ratnagiri, Índia, ficam cobertos por um brilhante tapete amarelo, laranja e vermelho que surge depois que os agricultores retiram a castanha e jogam o restante no chão. Ali, as frutas apodrecem rapidamente – exceto por algumas usados na preparação de uma aguardente local, chamada feni, muito popular no estado vizinho de Goa.
Nesta estação, porém, o tapete será mais fino – pois a Pepsi está apostando que o doce suco dos cajus pode ser a próxima água de coco ou suco de açaí.
"Os sucos de coco, romã e limão são populares, mas a acessibilidade está se tornando um grande problema", diz V.D. Sarma, vice-presidente de contratos globais da PepsiCo India. "Assim, estamos sempre buscando novas fontes de suco locais para ajudar a reduzir os preços para nós e para os consumidores".
O exigente grupo demográfico conhecido como a geração do milênio, além de novos consumidores entre a classe média emergente do mundo todo, possui uma sede insaciável que vem levando empresas alimentícias a experimentar em grande escala sabores e ingredientes cujo apelo, até recentemente, era estritamente local.
A quinoa, um grão rico em proteína que era a base da dieta pré-colombiana nos Andes, está atualmente em falta, graças à demanda global. A chia, semente rica em ácidos ômega-3, pode ser encontrada em tudo – de vitaminas a bolinhos.
A partir do próximo ano, o suco de caju entrará numa bebida mista de frutas vendida na Índia sob a marca Tropicana, substituindo sucos mais caros como maçã, abacaxi e banana. Eventualmente, a empresa espera acrescentar o caju em bebidas no mundo todo.
"Há muito que ser dito sobre o caju: é exótico e atraente, e o vemos como um produto diferenciado", argumenta Anshul Khanna, gerente sênior de sucos da PepsiCo India. Os agricultores locais estão um pouco perplexos com o interesse da Pepsi pelo caju. Embora a castanha de caju adorada mundialmente, o pseudofruto onde ela cresce é quase sempre deixado no chão ou jogado fora, onde começa a fermentar 24 horas após a colheita. E o suco em si, apesar de altamente nutritivo, é rico em taninos que lhe conferem um sabor acre.
AO REDOR DO MUNDO
"Achei um pouco estranho eles quererem comprar os cajus, mas não quis questionar uma nova fonte de dinheiro", diz Sanjay Pandit, que junto a seu pai, Hanumant Pandit, cultiva cerca de 300 cajueiros na aldeia de Kondye.
Atualmente, os brasileiros são os maiores consumidores dos frutos amarelos e vermelhos, que foram retratados nas propagandas da FIFA para a Copa do Mundo. Mas o Brasil, uma enorme fonte global de castanhas de caju, processa apenas 12% de sua colheita de caju anualmente – devido aos desafios impostos por sua curta vida na prateleira, segundo uma pesquisa da African Cashew Alliance, grupo industrial que também estuda maneiras de lucrar com o pseudofruto.
Cada quilo de castanhas deixa um descarte de 5 a 6 quilos de caju. Agora, cada quilo desse descarte vale de 2,5 a 3 rúpias. - Prashanth Vishwanathan/The New Uork Times
suco de caju também aparece em diversos produtos ao redor do mundo, como o Cashewy, na Tailândia, que é divulgado por seu produtor como "a bebida dos deuses". Sites de nutrição e saúde exaltam seu rico conteúdo de vitamina C, e se diz até que ajuda a queimar gordura e a melhorar o desempenho sexual.
A Pepsi descobriu a fruta no Brasil há alguns anos, quando Mehmood Khan, seu chefe global de pesquisa e desenvolvimento, trabalhava para promover a divisão de água de coco da empresa. Um fornecedor local o levou a um pomar de cajueiros, onde ele viu os frutos coloridos e imaginou como eles poderiam ser usados.
O grande obstáculo a qualquer uso comercial, segundo a Pepsi descobriu, era a rápida fermentação da fruta. "Isso é um risco para nós – a linha Tropicana não pode ter álcool em sua formulação", explica Sarma.
Para ajudar a aprimorar o plantio, a colheita e o rápido processamento dos cajus, a Pepsi procurou a Clinton Foundation, que havia expressado interesse nos esforços da empresa para incorporar pequenos agricultores em suas cadeias globais de abastecimento. Pequenos produtores abastecem a empresa com grão de bico, na Etiópia, e milho e girassóis no México.
"Nós trabalhamos com eles para aprimorar o cultivo e a produtividade, e lhes oferecemos preços melhores por suas castanhas – além de criar um mercado para o restante do caju", afirmou Govind Ramachandran, gerente geral da Acceso Cashew Enterprise, empresa estabelecida pela Clinton Foundation em dezembro passado para conduzir o programa na Índia.
No século 16, os portugueses introduziram cajueiros na região de Goa para conter a erosão do solo, que estava sendo arrastado por fortes chuvas. Hoje a Índia é um dos maiores produtores mundiais de caju. Cerca de três quartos de quase 600 mil toneladas de castanhas produzidas, vêm de pequenos agricultores com pomares de 1 a 2 hectares.
AUMENTO DE RENDA
Os agricultores fazem suas colheitas entre final de janeiro e abril, e geralmente armazenam as castanhas e as vendem à medida que precisam da renda, transformando as frutas no equivalente ao dinheiro. Historicamente, porém, eles recebem apenas uma fração do valor final das castanhas, graças a um sistema de distribuição cheio de intermediários.
A Acceso está substituindo parte dessa rede, comprando castanhas a preços mais altos e criando um mercado para o que, até agora, era basicamente lixo – o caju. Aproximadamente 500 pequenos produtores locais participaram do programa da Acceso, vendendo suas frutas à empresa por 2,5 a 3 rúpias por quilo (cada quilo de castanhas deixa um descarte de 5 a 6 quilos de caju).
Na estação passada, os agricultores colheram cerca de 100 quilos da fruta por dia, que precisavam ser coletados imediatamente de pomares remotos e muitas vezes em barrancos íngremes. Os cajus foram levados à Exotic Fruits Pvt. Ltd., instalação de processamento na cidade de Ratnagiri, onde foram lavados, prensados e espremidos para produzir o suco.
Os agricultores no programa participaram de um workshop de dois dias, onde foram apresentados à Vengurla 4 e Vengurla 7, duas variedades novas e mais produtivas de cajueiros desenvolvidas por pesquisadores do governo indiano. Eles também aprenderam técnicas e práticas para ajudar a aumentar a produtividade das árvores existentes, muitas das quais são variedades nativas. Os produtores podem, por exemplo, cavar valas ao redor de seus cajueiros e criar plataformas para capturar e distribuir as chuvas de monções – que, sem isso, simplesmente correriam colina abaixo.
Diversos produtores entrevistados afirmam que as vendas do caju na estação passada aumentaram suas rendas em até 20%. Um deles, Ravindra Agare, disse ter conseguido comprar livros escolares para seus filhos. Os dois filhos de outro agricultor, Harshad Mukadam, estão tomando aulas de inglês que ele nunca havia conseguido pagar. "Poder fazer isso por eles me deixa feliz", declara Mukadam.
O potencial para rendimento extra também incentivou agricultores como Pravin Shirke, que não participou do programa, a adotar algumas das novas técnicas.
Shirke cavou valas ao redor de várias de suas árvores e começou a capinar e podar. Após adotar tal técnica, conseguiu vender 200 quilos de caju para a Acceso, recebendo mais de 400 rúpias – parte usada para pagar os homens que cavaram as valas. O restante será investido em mais cajueiros, afirmou ele.
Nem todos aceitaram o plano. Segundo Pandit, diversos vizinhos que cultivam caju que passaram pelo pomar de demonstração, criado pela Acceso em um de seus lotes, manifestaram preocupação.
"Alguns deles tentam me assustar, dizendo que a Acceso vai tomar minhas terras ou que não vão me pagar", conta ele. "Eu explico que minha produtividade aumentou e que estou ganhando mais dinheiro, mas alguns deles ainda não estão convencidos".
Veículo: Diário do Comércio - SP
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