Folhas perdem mercado para cartões de crédito e débito



As facilidades e os menores riscos trazidos pelos cartões de crédito e de débito estão colocando em questionamento a utilização de folhas de cheque para compras no varejo. Ao mesmo tempo que o número de operações com o papel cai a cada ano, o índice de inadimplência está crescendo - puxado pela conjuntura econômica atual - e pode piorar, caso a tendência de aumento do desemprego se concretize.

Levantamento feito pela Serasa Experian, divulgado na semana passada, apontou que o percentual de cheques sem fundos, medidos pela empresa, atingiu o maior patamar da história para o mês de julho - do total de folhas movimentadas, 2,24% foram devolvidas, uma alta de 10,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

Na medição da Boa Vista, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), a quantidade de cheques sem fundos no mês de julho ficou em 2,15% do total - alta de 8% em relação ao ano passado. Já o levantamento da TeleCheque, serviço do grupo Multicrédito, apontou inadimplência de 3,36%, em julho deste ano.

Balanço da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), entretanto, mostra que o número de cheques depositados caiu nos últimos anos. Enquanto, no primeiro semestre de 2013, 422 milhões de cheques foram compensados, no mesmo período deste ano foram 378 milhões, em queda de 10,4%.

Para o economista da Serasa, Luiz Rabi, o aumento da inadimplência se deve ao excesso de endividamento da família, complementado pela conjuntura econômica atual, que une baixo crescimento, inflação e altas taxas de juros. "Agora, já está se falando em demissões, principalmente na indústria. O desemprego sempre foi uma questão crucial para a inadimplência. Se ele continuar a crescer, e esse cenário se alastrar para os outros setores, a tendência é que no segundo semestre a inadimplência seja ainda maior", afirmou Rabi.

De acordo com Rabi, a maior parte dos cheques devolvidos por falta de fundo ainda é passado pelas pessoas físicas. Enquanto os consumidores foram responsáveis por 70% dos cheques sem fundos, segundo medição da Serasa, as empresas ficaram com 30% da fatia.

Na avaliação do economista Flávio Calife, da Boa Vista, apesar da conjuntura econômica, a inadimplência está crescendo a baixos patamares. "Há uma maior restrição ao crédito. Por conta do endividamento, o consumidor está cauteloso em tomar empréstimos e os bancos estão mais seletivos", analisou. De acordo com o especialista, a taxa de cheques sem fundos deve se manter no patamar de 2%.

Segundo o educador financeiro Marcelo Rea, da DSPO Educação Financeira, além de trazer uma facilidade maior para o cliente, os cartões trouxeram menos riscos para os lojistas, o que diminuiu o uso de cheques. "Hoje, somente alguns médicos e comerciantes que têm clientes de confiança estão aceitando cheque. E, no caso do consumidor, somente aqueles que já estouraram o limite do cartão estão usando cheque", observou.

Rabi lembrou que, em 2005, um terço das negativações na Serasa - pessoas que ficavam com o "nome sujo" - ocorria por causa de cheques sem fundos. Hoje, somente 7% são por causa das filhas. Para ele, a tendência é que o cheque caia cada vez mais em desuso e passe a ser utilizado apenas em operações com grande montante de dinheiro.

"O cheque sempre foi muito superdimensionado. Antes, as pessoas passavam cheque para qualquer compra, até as de valor baixo, para se protegerem da superinflação - não valia a pena andar com dinheiro, pois ele poderia se desvalorizar a qualquer momento. Era melhor deixar aplicado. Hoje, com a valorização do Real, o cheque está voltando a servir para grandes operações, que é seu real propósito."

 
Veículo: DCI