Por Gustavo Brigatto e Beth Koike




Quem entrar hoje no site brasileiro da Amazon vai se deparar com uma novidade há muito esperada pelo mercado: a compra de livros físicos. A princípio o catálogo será formado por 150 mil títulos em português de editoras como Record, Companhia das Letras e Novo Conceito. Esse volume representa praticamente todo o catálogo de obras nacionais ativas.

Segundo o Valor apurou, a Amazon adquiriu um estoque relevante de livros para atender os pedidos dentro do prazo prometido. Em algumas regiões da Grande São Paulo, as compras feitas até as 11h da manhã, entre segunda e sexta-feira, serão entregues em 24 horas. A varejista comprou das editoras pelo menos uma unidade dos 150 mil títulos, sendo que o estoque das obras mais procuradas é maior. "Só lançamos uma loja quando achamos que estamos prontos. E atingimos esse ponto", disse Alex Szapiro, presidente da Amazon no Brasil.

O executivo não deu detalhes sobre os preços que irá praticar neste início de operações. Hoje, livros físicos custam, em média, 30% a mais do que os títulos em formato digital, que não têm custos com distribuição e armazenamento. "Eventualmente o físico pode ser mais barato, dependendo da promoção", disse Szapiro.

A Amazon é mundialmente conhecida por sua estratégia comercial agressiva e normalmente absorve margens para ganhar mercado. "Em um primeiro momento, a Amazon é só mais um concorrente no setor. Mas no longo prazo, há o risco de monopólio porque a varejista americana tem uma plataforma tecnológica extremamente eficiente", destacou o consultor Carlo Carrenho, da PublishNews, site especializado em mercado editorial. A Amazon é dona de um inteligente sistema que acompanha e traça o perfil do cliente indicando produtos com base nas informações das compras anteriores.

As editoras brasileiras firmaram contratos com a varejista americana nas mesmas condições estabelecidas com as livrarias que já operam no país. Os contratos não têm cláusulas limitando o percentual de abatimento a ser concedidos pela Amazon. Nos Estados Unidos, tradicionais redes de livrarias como Barnes&Noble e as editoras viram sua rentabilidade despencar porque a Amazon podia controlar o mercado.

Com esse histórico em outros países, a gigante americana enfrentou dificuldades para entrar no mercado brasileiro há quase dois anos. Por aqui, a Amazon começou com livros digitais e as editoras não aceitaram negociar descontos de 70%, como ocorreu nos Estados Unidos.

O início das vendas de livros físicos no Brasil acontece no momento em que a Amazon enfrenta uma batalha publica com a editora americana Hachette, a quarta maior do país. A editora se negou a conceder descontos maiores à varejista em livros digitais e, em retaliação, teve suas vendas suspensas. O episódio reacendeu a discussão sobre o poder de pressão que a Amazon conquistou no mercado de livros e irritou autores prejudicados com o congelamento.

No começo do mês, um grupo que já conta com 900 adeptos - entre eles Stephen King e John Grisham -- iniciou uma campanha pedindo a leitores que escrevam ao fundador da Amazon, Jeff Bezos, pedindo que a companhia pare de usá-los como reféns em suas negociações. Questionado sobre a revolta nos Estados Unidos, Szapiro não quis responder sobre seus possíveis reflexos no Brasil. No site readersunited.com, a companhia argumenta que os livros digitais devem custar menos que os valores praticados atualmente - entre US$ 14,99 e US$ 19,99. "Nós queremos e-books mais baratos. A Hachette não", diz a varejista.

Em um cenário de forte concorrência no comércio eletrônico brasileiro, a Amazon vai oferecer frete grátis para as compras acima de R$ 69. As entregas serão feitas pela Directlog, empresa de encomendas expressas do Grupo Tegma. O estoque ficará armazenado em um centro de distribuição, localizado em Itapevi (SP), da Luft, segundo fontes do setor.

A Amazon também vai oferecer aos compradores um recurso que permite ler uma prévia em formato digital do título adquirido antes de recebê-lo em casa, o "Leia enquanto enviamos".

De acordo com Szapiro, não está prevista nenhuma ação específica para promover o início das vendas de livros físicos. Quando chegou ao Brasil com o leitor de livros digitais Kindle, a Amazon montou quiosques em shoppings para promover o produto e sua marca no país. "Vamos continuar fazendo o que temos feito, divulgando no mundo on-line", disse o executivo.

A expectativa agora é sobre quando a Amazon iniciará as vendas de produtos como eletrônicos. Como sempre faz, Szapiro evita uma resposta direta. "Não falamos sobre o futuro. Mas a gente gosta de lançar coisas", disse.




Veículo: Valor Econômico