No Rio de Janeiro, a Saara, outra área de comércio popular, tenta entrar na web


por Ana Paula Ribeiro / Nice de Paula



SÃO PAULO e RIO - Ir às compras na Rua 25 de Março, em São Paulo, maior centro de comércio popular da América Latina, exige uma certa preparação física e mental. O jeito mais prático para chegar ao local é de Metrô (estação São Bento), mas as facilidades acabam aí. Ao descer a Ladeira Porto Geral, caminho obrigatório para chegar às lojas que vendem de linhas para tricô a equipamentos eletrônicos (originais ou não), o consumidor terá que enfrentar uma multidão ávida por consumir, principalmente se a visita for perto de datas comemorativas, como Natal ou Dia das Mães.

Pensando no consumidor que não tem paciência para aglomerações ou mora em bairros afastados, ou em outras cidades, algumas lojas da região estão vendendo seus produtos pela internet. Na loja Atacadão do Artesanato, as vendas online já representam 30% do faturamento da empresa. Além de consumidores do interior de São Paulo, há um volume grande de remessas para o Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

— A maioria dos clientes compra produtos para a festa do filho ou lembrancinhas. Para quem está longe, não compensa o investimento de vir até a 25 de Março — conta a proprietária, Cristiane Jorge Estrutti.

Para tornar a loja conhecida rede, ela tem investido em anúncios no Google. O cliente, porém, terá que se contentar com uma gama de produtos menor do que na loja física. Apenas 60% e 70% do que existe no estoque está no site, porque, segundo Cristiane, nem sempre há tempo hábil para cadastrar todas as mercadorias. Peças de difícil reposição também estão fora do ambiente virtual.

A M. Camicado, rede de artigos para festas, oferece leque menor de produtos na loja virtual. O gerente Rodrigo Takao explica que certos itens não podem ser enviados pelos Correios, como vidros e peças de isopor, comuns na área de decoração, uma das especialidades da loja.

— O preço praticado na loja e na internet é o mesmo. Já tentamos cobrar mais, mas a loja virtual também é uma vitrine para a loja física. Um preço maior poderia afastar o consumidor que vem aqui — disse.

Similar carioca da 25 de Março, o centro de comércio popular Saara, também tenta entrar do ramo de vendas on-line. A iniciativa, porém, ainda se restringe a poucas lojas. Segundo Ênio Bittencourt, presidente da Saara, das cerca de 1.200 lojas da região, menos de 15 vendem pela internet. Uma delas é o Palácio das Velas, que envia produtos para todo o país. O peso das vendas online no faturamento da empresa ainda é muito pequeno.

— O site vende sempre, mas não tem como comparar com a loja física. A variedade de produtos na internet também é menor — contou o subgerente Érico Barbosa.

A falta de sucesso é atribuída à própria cultura dos lojistas e clientes, à necessidade do consumidor de tocar o produto para avaliar a qualidade e ao baixo valor dos artigos. Muitas vezes o frete custa mais do que o produto.

Bittencourt, que também é proprietário da loja GMB Sports, que há oito meses também vende na web, acredita que o comércio da região vai ganhar mais espaço na rede.

— As vendas online do Saara ainda estão começando e vão crescer. O comércio em geral está muito fraco, precisamos procurar outros meios para vender e a internet é um deles — disse.

Veiculo: O Globo - RJ