Por Cibelle Bouças | De São Paulo

Após divulgar os resultados financeiros do segundo trimestre, as companhias de varejo de moda apresentam neste mês as coleções de primavera e verão. E fazer deslanchar as vendas será uma tarefa desafiadora. A maioria das companhias do setor com ações negociadas na BM&FBovespa fechou o segundo trimestre com estoques mais elevados, resultado da economia mais fraca e do número menor de dias úteis devido aos feriados da Copa do Mundo de futebol.

Neste ano, varejistas deram início às liquidações de inverno em julho, para antecipar a desova de estoques. Em teleconferências com analistas, as companhias disseram esperar uma recuperação a partir da segunda quinzena de julho. O Indicador Serasa Experian de Comércio apontou alta de 6,2% no movimento de consumidores nas lojas do país em julho frente ao mesmo mês de 2013, compensando a queda de 3,2% apontada em junho. Mas o ritmo voltou a desacelerar nos primeiros dias de agosto. Entre 4 e 10 de agosto, o movimento recuou 0,7% frente aos primeiros dias de agosto de 2013.

Não é possível ainda saber se as varejistas foram bem-sucedidas em seus planos para reduzir estoques. Em shopping centers nas capitais, as liquidações de inverno ainda não foram encerradas.

Entre as companhias abertas, a Alpargatas teve alta de 20,1% nos estoques no fim de junho em relação a 2013, para R$ 627,3 milhões. Em teleconferência com analistas, Márcio Utsch, presidente da Alpargatas, disse que a companhia optou por antecipar em 45 dias a coleção de sandálias para o verão e pagou por essa estratégia com aumento de estoques. Ele também associou o aumento ao número menor de dias úteis em junho, que baixou de 25 para 16.

"Em julho, o crescimento de vendas já foi 29% maior que em julho do ano passado. Se havia uma perda antes por causa da Copa, agora não há mais", disse, durante a apresentação.

As rivais Arezzo e Grendene também registraram aumento nos estoques no período. A Grendene elevou estoques em 24,4%, para R$ 205,7 milhões. No caso da Arezzo, a alta nos estoques foi de 568,7%, para R$ 18,1 milhões.

As companhias fizeram reajustes de preços acima da inflação nos 12 meses até junho, com elevações de até 16%. Em um cenário de economia mais fraca, as empresas precisam reavaliar as políticas de preços. No segundo trimestre, Grendene e Alpargatas tiveram queda no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), indicador para avaliar a capacidade de geração de caixa das companhias. No período, o Ebitda da Alpargatas caiu 43,9%; no caso da Grendene, a queda foi de 21,4%. A Arezzo apresentou crescimento de 5,4%.

No varejo de moda, a economia fraca e os estoques da coleção passada preocupam parte das empresas. No fim de junho, a Lojas Marisa apresentava um aumento de 21,3% nos estoques, para R$ 507,7 milhões. A Restoque registrou aumento de 5,1% nos estoques, no total de R$ 194,3 milhões, e a Renner, alta de 4,7%, para R$ 568,3 milhões. Já a Guararapes (dona da marca Riachuelo) fechou o trimestre com redução de 1,8% nos estoques, para R$ 167,8 milhões.

A Hering também encerrou o período com estoques 3,8% menores, de R$ 384,4 milhões. Ontem, a companhia lançou a nova coleção de linha básica. Luís Bueno, diretor de marca da Hering, disse que a nova linha terá preços de entrada até mais baixos que do segundo trimestre, para estimular as vendas. No segundo trimestre, a Hering fez campanhas agressivas de preço para desovar estoques, o que comprometeu seu lucro líquido.

Veículo: Valor Econômico