A fabricante francesa de ração premium pretende transformar o Brasil em seu segundo maior mercado em cinco anos


Por: Fabrício Bernardes



A francesa Royal Canin, fabricante de rações premium para cães e gatos, está, literalmente, com o apetite aguçado para os negócios no País. Mesmo disputando o concorrido mercado pet com um produto 40% mais caro que a média dos seus concorrentes, a empresa prevê dobrar até o ano que vem a capacidade de produção da sua fábrica, em Descalvado, no interior paulista, além de transformar a operação brasileira, em cinco anos, na segunda maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Atualmente, o Brasil ocupa a quarta posição em um ranking de 92 mercados.

A expansão das vendas no País dará condições para a subsidiária brasileira substituir a Argentina como principal fornecedora dos mercados no Chile e no Uruguai. Globalmente, a marca, controlada pela gigante americana de alimentação Mars, faturou mais de U$S 1 bilhão no ano passado. Tanto otimismo no mercado local se justifica. O Brasil deve movimentar R$ 16,6 bilhões com o incremento das indústrias de produtos para pets, em 2014, e possui a segunda maior população de cães e gatos do mundo, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).

E o que é melhor: há muito terreno para crescer nessa categoria. De acordo com a Abinpet, apenas 50% dos 106 milhões de animais de estimação existentes no País são alimentados com ração. E mais: os alimentos super premium, segmento no qual a Royal Canin concorre com marcas como Premier e Pro Plan, representam apenas 5,3% do volume de vendas nacional. Na sexta-feira 1º, a Mars anunciou a compra, na América do Norte e na América Latina, de outras três marcas que atuam no segmento: Iams, Eukanuba e Natura, que pertenciam à americana P&G.

A Royal Canin cresce a dois dígitos há oito anos e fatura mais de R$ 100 milhões no Brasil, segundo o presidente da empresa no País, Vladmir Maganhoto. “Nós fabricamos a ração com a melhor solução nutricional possível”, diz o executivo. Para garantir a fama de produto de qualidade, o que compensaria seu preço acima da média, a empresa colocou em prática uma série de estratégias aprendidas com a matriz na França. Aqui como lá, a Royal Canin decidiu ignorar as gôndolas dos supermercados e vender seus produtos apenas em pet shops ou lojas especializadas.

“Nos pet shops, há profissionais que entendem das necessidades nutricionais de cada raça”, diz Maganhoto. “No supermercado, o consumidor vai comprar pelo preço.” A empresa, desde seus primeiros tempos, mantém um relacionamento próximo com profissionais que atuam no ramo dos bichos de estimação. Criada em 1968 pelo veterinário francês Jean Cathary, a Royal Canin é fruto da necessidade de seu fundador de tratar cachorros com carência de vitaminas e sais minerais na dieta. Por isso, sempre esteve bastante próxima a profissionais como veterinários e nutricionistas.

Na semana retrasada, em seu estande na Fippa, feira de marcas da indústria de pets que acontece anualmente em São Paulo, a Royal Canin patrocinou um seminário sobre diabetes em cachorros. Ao mesmo tempo, do outro lado do estande, a companhia anunciou o lançamento de uma ração para o tratamento da doença. “A Royal Canin atingiu um status próprio devido ao apoio que tem dos profissionais”, diz José Edson França, presidente da Abinpet. A marca também se beneficia de uma mudança comportamental do brasileiro nos últimos anos.

“Hoje é normal gastar muito com a saúde dos animais de estimação”, diz França. “Eles são parte da família.” As boas perspectivas para a marca no Brasil contrastam com as dificuldades enfrentadas mundialmente no ano passado, após ser flagrada patrocinando uma rinha de cachorros e ursos na Ucrânia. O vídeo com o logotipo da Royal Canin nos troféus do torneio vazou na internet e causou comoção internacional. Embora a filial brasileira não esteja autorizada a se pronunciar sobre o assunto, Maganhoto afirma que o episódio foi um caso isolado.

Além das ações junto a pet shops e clínicas, a Royal Canin aposta na interatividade da internet para fidelizar novos consumidores. Em seu site é possível escolher a ração correta para o cachorro ou gato por meio de um questionário. O dono responde a perguntas como idade, raça e necessidades específicas e tem como resposta o produto mais indicado – tamanha a especificidade dos alimentos oferecidos. “Também temos uma linha de ativos especiais que só veterinários prescrevem”, diz Maganhoto. “Ao lado dos profissionais especializados no bem-estar animal, crescemos.”

Veículo: Revista Isto É Dinheiro