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03/07/2014 08:34 - Varejo on-line já sente ritmo menor de vendas

Flávia Milhassi

SÃO PAULO

O varejo eletrônico (e-commerce) começa a sentir os efeitos na retração do comércio no Brasil. A intenção de adquirir bens de consumo nesse canal de venda apresentou queda de 5,2 pontos percentuais no terceiro trimestre - caindo de 89,9% para 85,3% - na comparação com o mesmo período do ano anterior. Na comparação com o segundo trimestre desse ano, a queda foi de 1 ponto percentual, segundo pesquisa realizada pelo Programa de Administração do Varejo (Provar) em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA).

Para o diretor geral do e-Bit, Pedro Guasti, a intenção menor de compra no período deve-se ao movimento de antecipação de compra de algumas categorias, impulsionada pela Copa do Mundo. "Tivemos uma alta de 20% no primeiro semestre na venda de televisores e smartphones, logo, o consumidor que faria alguma aquisição no comércio eletrônico fez no começo deste ano", explicou ele.

Guasti enfatizou que, mesmo com o cenário de enfraquecimento da economia e a preocupação maior do consumidor em cortar gastos, as vendas antecipadas ajudaram no aumento do tíquete médio de compras, no volume vendido e claro, no aumento do faturamento das lojas virtuais que comercializam as duas categorias mencionadas. "Superamos a expectativa de crescer 20% no primeiro semestre", disse ainda o especialista.

A ressaca pós-Copa, como definiu Guasti, também é influenciada por outros fatores como, poucas datas sazonais e o Black Friday, que vingou no Brasil, mas não apresentará mais o mesmo índice de crescimento visto em 2013, quando a sexta-feira negra de novembro atingiu alta de 300% na comparação com uma sexta-feira anterior. "No primeiro semestre tivemos algumas ações específicas, como o Dia do Consumidor, em que as lojas virtuais deram descontos aos compradores, mas para o segundo semestre, teremos apenas o Black Friday, que impulsiona muito as vendas, mas não apresentará os mesmos índices do ano passado."

Na edição de 2013, as empresas de e-commerce e as lojas físicas, que aos poucos têm aderido à data promocional, movimentaram financeiramente, em um único dia, mais de R$ 740 milhões, o que significa vendas nove vezes maior do que em um dia comum.

Na opinião do presidente do conselho do Provar, Claudio Felisoni, na atual conjuntura da economia - menor rendimento salarial, maior endividamento e menor otimismo do consumidor - nenhum setor do comércio está ileso à desaceleração. "O Brasil tem muito potencial de crescimento do consumo, mas o governo já não consegue ferramentas eficazes para que ele cresça", argumentou Felisoni.

A nova prorrogação da isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para automóveis e móveis, para Felisoni, será apenas uma forma de manutenção e não de alavancagem das vendas. "Isso vai apenas evitar uma queda maior e já era esperado que o governo prorrogasse a isenção."

Segundo as estimativas do Provar/FIA até o final do ano o crescimento do setor, como um todo, será extremamente enxuto. "Em 2012 o varejo cresceu 7,8%. No ano passado, esse crescimento foi de 3,7% e para esse ano, estamos entre 1,5% a, no máximo, 2%", disse ele ao DCI.

Ainda segundo o presidente do Provar, fatores como a queda do Brasil - de 5° para 7° - posição em relação a capacidade de atrair investimentos e os empresários do País sendo os mais pessimistas frente aos americanos e europeus, por exemplo, ajudam nesse desânimo atual.

"As projeções estão todas baseadas em um ano em que o País é sede da Copa do Mundo e terá eleições, elementos esses alavancadores da economia. Imagina o que teremos de enfrentar em 2015 quanto não tivermos nada disso?", indagou Felisoni a traçar um ambiente econômico tão complexo quanto o atual.

Novos investidores

A perspectiva de um cenário mais lento para o varejo eletrônico, no entanto, não tem afastado novos investidores. A rede Loja das Torcidas, por exemplo, mesmo sabendo das dificuldades, lançou recentemente esse novo canal de venda e esperar aumentar o seu faturamento em 20%, conforme explicou o sócio da rede, Samadhi Müller. "Estamos cautelosos com essa nova ferramenta de venda, pois não queremos que o nosso franqueado a veja como um concorrente", disse.

Com investimento de R$ 1 milhão, a loja virtual veio para fechar uma lacuna deixada pela franquia. "A loja virtual atende àqueles consumidores que não têm acesso a nossas lojas. Pelo que analisei das vendas, os pedidos, em sua maioria, vieram de locais mais distantes", argumentou.

Para o sócio fundador da Loja das Torcidas, o maior problema hoje do e-commerce está na infraestrutura. "Muita gente investe no setor achando que não precisa de muito mas precisa, sim. Você tem que ter espaço para estocagem dos produtos e conseguir atender o consumidor de forma rápida e evitar problemas como a não entrega do produto", explicou o executivo.

A opinião é compartilhada pelo diretor-geral da e-Bit, Pedro Guasti. "Os empresários do setor têm se preocupado mais na forma de atendimento ao consumidor on-line. Eles têm investido em treinamento de equipe e em ferramentas que tragam comodidade a esse usuário", explicou. A mesma regra se aplica ao varejo físico. O diretor executivo do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Sérgio Nóia, explica que, em momentos de crise, o atendimento diferenciado é o que fará com que o consumidor entre em sua loja e volte a comprar outras vezes. "O consumidor quer ser bem atendido e as empresas familiares são as que conseguem fazer isso bem, pois os donos conhecem seus clientes diretamente", explicou. Para Nóia, o que salvará o varejo é o entendimento de quem é seu consumidor.




Veículo: DCI

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