Geral
22/04/2014 08:49 - Empresário cauteloso reduz planos para 2014
A persistência da inflação em patamar maior do que o desejável deve afetar diretamente o desempenho do varejo ao longo deste ano. A redução dos investimentos em abertura e reformas de lojas, contratação menor de mão de obra e o volume enxuto de vendas são as principais consequências da atual política econômica, segundo analistas ouvidos pelo DCI.
Para o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Altamiro Carvalho, a inflação impacta diretamente o comércio, pois a alta dos preços começa pela cadeia produtiva. "O varejista sente que os produtos estão mais caros na hora de fazer as compras e abastecer os estoques. Por mais que eles tentem segurar o repasse, em algum momento isso comprometerá demais as margens. O repasse é inevitável."
Carvalho explicou que enquanto alguns segmentos são menos afetados - supermercados - outros sofrem mais com as vendas mais fracas. "Nos supermercados você tem a migração de categoria, pois a população precisa se alimentar. Mas quem atua com bens semiduráveis [vestuário e calçados] e bens duráveis [linha branca e material de construção] definitivamente serão os mais impactados", disse.
Para o assessor econômico, como a renda da população fica comprometida com gastos maiores na alimentação, o consumidor corta os gastos menos urgentes, como comprar roupas e sapatos, ir ao salão de cabeleireiro e até mesmo contratar crédito. "No caso de bens duráveis, que dependem de financiamento, além do preço mais alto, o consumidor enfrenta uma taxa de juros muito alta. Por esses dois motivos o brasileiro vai contratar menos crédito para fazer suas compras. E lembrando que o crédito é considerado o agregador de renda de muitos", explicou Carvalho.
Questionado sobre uma onda menor de investimentos dos empresários do comércio por conta do cenário de instabilidade econômica, o especialista foi enfático: "O efeito negativo é para todos os empresários, do pequeno ao grande. Nesse momento, como eles estão com estoques altos, vendas baixas e inflação a pressionar o preço, muitos vão deixar de investir esse ano".
Carvalho explicou que os empresários de menor porte - a maioria do varejo -, vai preferir esperar os juros ficarem mais amenos para investir. Já os grandes players do setor podem preferir investir o capital de giro, que seria utilizado para uma expansão. Devem deixá-lo render e só mais para frente gastarão esse montante. "A demanda está menos aquecida, então os que têm dinheiro em caixa podem aplicar esse valor na poupança ou em investimentos de renda fixa. Assim, no futuro, terão um valor maior para investir."
A opinião é compartilhada pelo professor de Finanças do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), Marcos Piellusch. "A inflação afeta as duas pontas. O empresário que não vai investir e sim aplicar, se puder, o seu capital de giro e o consumidor, que vai parar de consumir", disse. Para o especialista em finanças, a aplicação do dinheiro pode ser algo mais proveitoso para o próximo ano. "Se as coisas melhorarem, aí veremos novos investimentos", argumentou.
Mas não serão só os investimentos que terão de ser freados nesse momento. A contratação de mão de obra no setor pode ser revista também. No começo do ano a Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC) divulgou dado positivo sobre a contratação no comércio: enquanto em 2013 foram gerados 292 mil postos de trabalho, a perspectiva para este ano é de 351,5 mil. Contudo, na análise de Piellusch não há demanda que justifique novos postos de trabalho. "Podemos até ver uma movimentação maior em setores como o da alimentação fora do lar durante a Copa do Mundo, mas nada que traga a necessidade de novas contratações. O empresário está pressionado demais pelos custos fixos de sua operação [aluguel, água, luz e afins]. Não tem como fazer novas contratações", disse. Ao que concluiu: "Além disso, os dissídios de algumas categorias do setor cresceram acima da inflação, aumentando mais os gastos do empresário".
Commodities
Para passar ileso tanto da pressão do preço das commodities quanto da inflação, o presidente da rede de franquias Espetinho Mimi, Fausto Martins Borba, afirmou ter ampliado o mix de produtos ofertados, além de ampliar os formatos de franquias oferecidos pela marca. "Por trabalharmos com uma commodity já sentimos a maior dificuldade em encontrar matéria-prima, uma vez que as exportações dificultam a compra no mercado interno. A inflação foi só mais num influenciador no aumento dos preços", disse Borba.
Do ano passado para cá, o empresário afirmou ter reajustado três vezes os preços dos produtos vendidos. "Não é o ideal a se fazer, mas quando começa a comprometer demais as margens o repasse é inevitável", explicou.
Para que o consumidor não deixasse de comprar na rede, Borba resolveu que era hora de agregar mais produtos além do carro-chefe da marca, que são os espetos de carne bovina e suína.
"Passamos a oferecer salgados, pães industriais e retiramos algumas categorias, após análise de desempenho de vendas, no nosso portfólio de produtos", explicou. Com a adoção de todas essas iniciativas na empresa, a perspectiva de crescimento da rede de franquias não teve de ser revista. "Em nenhum momento pensamos em rever os nossos planos de expansão. Apenas não conseguimos fazer a contratação de novos funcionários", declarou.
Com 85 unidades em operação, para esse ano o presidente da rede Espetinhos Mimi quer chegar a 120 unidades. "Temos atualmente 85 espaços abertos e 16 lojas a serem implementadas até a Copa do Mundo. Além disso, até outubro serão outras nove operações a serem inauguradas", enfatizou. O faturamento, mesmo com o consumidor comprando menos, não cairá, prevê. Em 2013, a marca faturou R$ 70 milhões e os franqueados R$ 20 milhões. Para este ano, a marca chegará a R$ 80 milhões de faturamento.
Veículo: DCI
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