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19/02/2014 08:13 - Copa do Mundo: Varejistas visam lucro no mercado financeiro

A seleção canarinho só entra em campo no dia 12 junho, mas a Copa do Mundo de 2014 já começou para o mercado financeiro. De olho nas partidas do Brasil, mas também na bolsa de valores, analistas fazem suas apostas para quem deve ganhar e quem deve perder antes e durante o torneio.

Em uma consulta feita pelo Valor, nomes como Ambev, CVC, Pão de Açúcar, Magazine Luiza, Grendene e Alpargatas aparecem no grupo de eventuais vitoriosas, enquanto empresas como Lojas Renner, Arezzo, Hering, BRMalls e Sonae Sierra são apontadas como potenciais derrotadas do torneio. Companhias como Cielo, Localiza e Gol dividem opiniões. Não há uma aposta seca nas ações exclusivamente por conta da Copa, mas o fato é que analistas têm considerado em suas estratégias o possível reflexo do torneio sobre o desempenho das empresas.

Carlos Eduardo Rocha, o Duda, sócio responsável pela gestora do Brasil Plural, considera que o efeito desta Copa é amplificado por se tratar de uma espécie de pré-Olimpíada do Rio e também pelas próprias condições do Brasil, o que inclui temperaturas mais elevadas neste ano, carnaval postergado para março e eleição presidencial.

Para Duda, a Cielo é a principal empresa diretamente beneficiada pelo evento, em função do aumento dos gastos. "A Cielo tem o melhor recebível do mundo, do lojista, que representava menos de 10% do lucro da empresa há três anos e que acreditamos que pode ser responsável por mais de 20% do lucro", afirma. "Acreditamos num crescimento de 15% da receita da empresa, porque o negócio está crescendo e, amplificado pelo evento, pode aumentar 20%."

Em relatório apresentado a clientes em dezembro, o Holt, uma divisão de análise do Credit Suisse, rebalanceou uma cesta de 22 empresas - 17 brasileiras, duas chilenas, uma mexicana, uma europeia e uma americana - cujas operações poderão se beneficiar da Copa, ainda que em diferentes graus.

No grupo das 12 ações de empresas beneficiadas diretamente pelo evento estão Cielo, Grendene, Localiza, Arteris, Smiles, Pão de Açúcar, Iguatemi, BRMalls, Alpargatas, Gol, CCR e Ultrapar.

Na lista dos papéis indiretamente atingidos pelo evento, em meio ao fortalecimento da atividade econômica, o Holt menciona Eztec, Porto Seguro, Kroton, Banco do Brasil e JBS. E as cinco companhias estrangeiras se reúnem num terceiro grupo, de empresas com receita ou ativos no Brasil.

Já Elíseo Viciana, vice-presidente da Mapfre Investimentos, cita Ambev, Tractebel, Gol e CVC entre as companhias que devem se beneficiar com a demanda no período de Copa. A Gerdau entra na lista pelo lado de oferta de matéria-prima para obras de infraestrutura.

Um estudo da Fator Administração de Recursos (FAR), feito a pedido do Valor, mostrou que, nos eventos esportivos realizados em outros países, o maior impacto positivo sobre a cotação das empresas se deu não nos dias do evento, mas nos que se seguem ao anúncio do país sede, o que para esta Copa ocorreu em 2007. Se todos os planos forem concretizados, o país também pode se beneficiar de uma imagem positiva nos anos seguintes, diz o diretor-geral da gestora, Fabio Moser. Já durante o evento, a redução de dias úteis pode pesar sobre alguns setores.

Entre as empresas com potencial para ganhar com os jogos, acredita Moser, estão as ligadas à venda de alimentos e bebidas, como Ambev e Pão de Açúcar, assim como os hotéis, com o aumento de ocupação, segmento em que cita BHG. Companhias que vendem eletrodomésticos, como Magazine Luiza, também podem ter a demanda reforçada pela procura de itens como geladeiras e televisões.

Já as empresas aéreas, considera Moser, podem ter o efeito Copa neutralizado pela redução de passageiros que viajam por motivo de negócios. Varejistas como Lojas Renner, Arezzo, Hering, Marisa e Alpargatas e o segmento de shopping centers, com BRMalls, Sonae Sierra e Iguatemi, estão do lado das que podem perder consumo por conta dos feriados, ainda que algumas já tenham pensado em estratégias para antecipar coleções.

E mesmo no setor financeiro, há incertezas com relação à extensão do impacto. Reportagem do Valor mostrou em janeiro que o fluxo de turistas atrás das partidas deve trazer um "bônus" de, no mínimo, R$ 5,9 bilhões em compras com cartão para o Brasil neste ano, conforme cálculos do Credit Suisse.

Mas em teleconferência de resultados, o presidente da Cielo, Rômulo Dias, adotou um discurso mais conservador. O executivo disse que o evento traz impactos positivos sobretudo nos setores de turismo, aviação, hotelaria e bebidas, mas disse que o efeito não é o mesmo para outros segmentos, porque a demanda interna no mês de junho tende a ser menor por conta de feriados. Dias ainda questionou se o consumo adicionado pelos estrangeiros seria mais do que suficiente para compensar os feriados. "Na nossa opinião, não", afirmou.

O economista Felipe Miranda, sócio da Empiricus, por sua vez, faz um contraponto à questão da influência da Copa no desempenho de papéis em bolsa, por considerar o tema "sobrevalorizado". "A Copa é um mês e nenhuma empresa se faz em um mês por melhor que seja. O mercado superestima essa análise de impacto."

De forma geral, o economista assinala que o torneio é ruim para a indústria, principalmente a intensiva em capital, diante da redução do número de dias úteis e, portanto, do menor ritmo de produção. Nessa mesma linha, as incorporadoras perdem por ficarem com um calendário de lançamentos muito apertado.

O sócio da Empiricus ainda enxerga um potencial negativo para a Cielo, diante dos feriados. "Mas não quer dizer que não compraria a ação, mas o faria por outras razões", diz Miranda.

A ação da Localiza tem um viés neutro para o economista, dada a experiência prévia na Copa das Confederações, que não exerceu efeito relevante para a locadora de carros. "Ainda que seja com outra proporção, se uma vez não deu certo, seria excesso de agressividade apostar nisso agora", afirma.

Dentre as apostas que considera mais óbvias, Miranda cita Ambev, ação que diz já embutir no preço o potencial de valorização resultante da Copa. Visão semelhante o sócio da Empiricus tem da Alpargatas, pois vê chances de uma trajetória mais benéfica para a concorrente Grendene, com um produto (Melissa) menos acessado no exterior.

Do lado positivo, as atenções recaem sobre Log-in, que pode ganhar com o aumento do transporte de bebidas e eletrônicos, assim como CVC, pelo turismo, e Marcopolo, pelo fornecimento de ônibus. Mas, nesse último caso, Miranda diz que a ação já reflete essa perspectiva. Quando é analisado um prazo maior, que compreende o período da Copa e da Olimpíada, o economista da Empiricus destaca Gerdau.

Em um ano de comemoração, mais do que buscar ativos com potencial de ganho, Duda, do Brasil Plural, ressalta que é importante ter em mente que é preciso fazer gestão de risco para estar investido na bolsa no que é estritamente essencial, já que a renda estará mais comprometida. "O governo principalmente vai ficar mais comprometido, então nessa fragilidade macroeconômica, nessa deterioração, você tem que ter uma defesa nos papéis", assinala.

Nesse sentido, no grupo de empresas de serviços essenciais, o executivo chama atenção para a área de educação, que continua muito incentivada e que, numa estratégia mais defensiva, pode ser uma opção ao investidor. "Numa gestão de risco, é um setor que é preciso ter", diz Duda, que não vê um comprometimento de renda afetando o segmento.

Duda também vê pressão negativa sobre a indústria, especialmente a de bens de capital, que deve perder com a redução de dias úteis. E destaca que o evento tem a inflação como efeito marginal nefasto.

Com uma visão mais ampla na esfera de investimentos, Viciana diz que, na renda fixa, títulos públicos indexados à inflação também são uma boa aposta. Isso porque a demanda de brasileiros e turistas por bens e serviços tende a gerar um processo inflacionário no período, mesmo que seja brando. Foi o que houve, por exemplo, nos jogos da África do Sul e da Alemanha, assinala. Essa taxa de inflação, somada a juros reais hoje por volta de 7%, atraem para a aplicação.

E há ainda uma possibilidade de ganho de capital com os títulos, aponta Viciana, já que o governo deve ter mais margem de manobra para um ajuste fiscal após os jogos, levando a um fechamento de taxas e gerando ganho para quem já tem os papéis em carteira.



Veículo: Valor Econômico

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