O mantra de negócios da Nestlé, "nutrição, saúde e bem-estar" é um manto convenientemente grande sob o qual a companhia suíça de alimentos - a maior do mundo em vendas - coloca uma grande variedade de operações.

Os negócios incluem as rações para animais de estimação Purina, nutrição médica, chocolates, leite em pó e o café Nescafé.

Peter Brabeck, presidente do conselho de administração da multinacional, anunciou a criação da Nestlé Skin Health, empresa que vai abrigar a Galderma, a joint venture da área de dermatologia cujo controle pleno ela assumiu no acordo anunciado anteontem com a L'Oréal.

"Passar de alimentos para nutrição médica é uma coisa. Mas a área de cuidados com a pele extrapola a atual estratégia da Nestlé", disse Robert Dickinson, analista do Citigroup. Mesmo assim, acrescenta, a aquisição "mostra que a Nestlé está mais comprometida em ampliar seus negócios na área de ciências da saúde do que as pessoas pensavam."

A Nestlé vem se voltando para empreendimentos de crescimento mais acelerado para contrabalançar o fraco desempenho das operações com alimentos na Europa. Ela pode afirmar que está no negócio de cuidados com a pele há décadas, por meio da joint venture com a L'Oréal e poderá ampliar a unidade via aquisições - embora Brabeck tenha enfatizado as perspectivas de crescimento orgânico.

Andrew Wood, analista da Bersntein Research, disse que a aquisição da Galderma mostra uma mudança da Nestlé em seu modelo de negócios. "Há um bom tempo acreditamos que o futuro de longo prazo do setor de alimentos está na sobreposição das áreas de alimentos e farmácia, ou entre as áreas de alimentos e beleza... e é possível afirmar que esta transação encaminha a Nestlé para a sobreposição em todas as três áreas."

A compra da Galderma também fornece uma ferramenta conveniente para a Nestlé reduzir sua participação de 29,4% na L'Oréal. Os investidores estavam de olho na companhia para extrair algum valor do investimento.

Um dos 25 maiores acionistas da Nestlé disse: "Vejo isso como algo bem neutro em termo de valor para o acionista. A Nestlé continuará com uma participação estratégica considerável na L'Oréal, enquanto que a última ganha uma fatia maior do bolo".

Magnus Scaddan, do banco de investimento Houlihan Lokey, disse: "É uma transação inteligente - a Nestlé monetizou apenas uma parte de sua participação na L'Oréal, mas em troca do controle de um ativo estratégico na atraente área da dematologia, em vez de receber apenas dinheiro, que a Nestlé já tem muito".

Além disso, a Nestlé sentiu-se obrigada a satisfazer o desejo da L'Oréal de ter mais controle sobre a companhia, e a manter uma boa relação com a família Bettancourt, que agora controla uma fatia de pouco mais de 33% da fabricante de cosméticos francesa.

Scaddan acrescentou: "Esta situação foi elaborada entre a Nestlé e a família Bettancourt e a L'Oréal; não houve o envolvimento de nenhum intruso".

O negócio ainda deixa intactas as opções da Nestlé em relação à L'Oréal, uma vez que ela manteve uma fatia de 23,39%. Dickinson, do Citigroup, disse: "Eles ajudam a L'Oréal a reforçar seu balanço e obtêm um aumento dos ganhos por meio de uma venda acertada. Não acho que seja o começo da saída da Nestlé da L'Oréal."

O negócio também dá mais uma alternativa à Nestlé: aprofundar seu envolvimento no setor de cosméticos, se for esta a direção que a companhia decidir tomar.



Veículo: Valor Econômico