A combinação entre o aumento da renda das pessoas e a maior disponibilidade de crédito na praça modificou o perfil de consumo do brasileiro nos últimos anos. Se no passado o preço dos itens era decisivo na hora da compra, hoje, a qualidade e os diferenciais dos produtos contam muito mais. Para especialistas, essa situação estimula o varejo nacional, criando uma disputa saudável entre os concorrentes, mas, ao mesmo tempo, desafia as indústrias brasileiras a manterem em alta o poder de inovação.

O economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, explica que essas profundas mudanças repercutiram diretamente no comércio varejista do país, que registrou aumento expressivo no nível das vendas. Entre 2004 e 2012, segundo ele, o crescimento médio do setor, ao ano, foi de 7,9%, já descontada a inflação. "Essa elevação foi possível graças ao aumento do potencial de compra dos cidadãos, como também ao nível de exigência por parte dos consumidores", explica.

Bentes reitera que daqui para frente será cada vez mais difícil repetir altos índices de desempenho. Para se ter uma ideia, previsões dão conta de que o crescimento do comércio em 2013 feche em 4,5% sobre 2012. Porém, o economista também lembra que ainda há espaço para a disponibilidade de crédito no Brasil, que hoje gira em torno de 50% do Produto Interno Bruto (PIB), o que fará com que as vendas voltem a subir.

"Existe disponibilidade de crédito no país e isso é bom, pois democratiza o acesso a bens e serviços por parte da população, como temos observado nos últimos anos", avalia. Em alguns países como Estados Unidos, essa proporção passa de 100%.

Esse cenário tem permitido que o consumidor brasileiro se ambiente, cada vez mais, com produtos diferentes, de maior qualidade e até fabricado em outros países. "Com o maior poder de barganha, o consumidor está tendo contato com produtos de maior qualidade e já começa a exigir mais da indústria nacional. Ou ele encontra um produto feito aqui, igual ou melhor, ou manda comprar lá fora. Isso quando ele mesmo não vai", alerta Bentes, fazendo menção às viagens que também já são feitas em grande escala para o exterior.


Competência - Por isso, é importante que a indústria faça investimentos constantes em benchmarking e inovação. De acordo com coordenador de Pesquisas do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), Nuno Fouto, o processo de mudança no perfil do consumo do brasileiro só é interessante para quem é competente. O especialista justifica que todo negócio exige que o empreendedor aprenda e acumule experiência.

"Esse novo modelo exige uma competência maior por parte dos industriais. Não adianta criar um negócio para ter margens grandes e retorno rápido.  preciso focar na qualidade e nos diferenciais dos produtos e serviços", alerta.

Em relação aos impactos para a economia como um todo, Fouto destaca que são positivos, mas precisam ser permanentes. Os empresários, segundo ele, devem saber que se o consumidor exige mais, há mais campo para se diferenciar. Mas esse campo só existe para quem está disposto a investir.

"Trata-se da máxima da demanda qualificando a oferta. Não se cria boas condições somente com competitividade. Há alguns anos o consumidor adotou para si que não importa somente o preço na hora de comprar. A qualidade e os diferenciais dos produtos precisam ser olhados também", conclui.




Veículo: Diário do Comércio - MG