Geral
22/07/2013 11:44 - Investidores se ajustam ao fim do superciclo das commodities
Os investidores estão acumulando perdas à medida que uma década de alta no preço das commodities se reverte em meio à desaceleração dos mercados emergentes, o aumento do suprimento de petróleo e de metais e ao previsto fim da política de estímulo do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, fatores que sustentaram a alta dos preços das matérias-primas.
A reversão abrupta do preço das commodities está solapando uma das apostas mais populares nos mercados financeiros globais: a de que os preços continuariam subindo, alimentados pelo forte crescimento da China e outras economias em desenvolvimento e pela relativa escassez de muitas matérias-primas.
Instituições e indivíduos colocaram mais de US$ 440 bilhões desde 2004 em fundos de índices e fundos negociados em bolsa que monitoram amplos índices de commodity, segundo o Barclays PLC. Isso é muito maior que o fluxo líquido de US$ 25 bilhões em fundos de ações nos EUA ao longo do mesmo período, segundo a firma Morningstar.
O preço das commodities em geral quase dobrou entre 1998 e 2008, segundo o índice Dow Jones-UBS Commodity, com alguns componentes do índice, como petróleo e ouro, multiplicando sete vezes no período, levando muitos a falar sobre um "superciclo" das commodities.
Mas os preços nunca mais recuperaram o seu pico após a crise financeira de 2008 e vêm caindo desde meados de 2011. A tendência se agravou neste ano, levando investidores e analistas a ver o fim do superciclo. O índice caiu 10,5% no primeiro semestre do ano, com as matérias-primas mais desejadas para o crescimento da China - metais industriais como cobre, alumínio e níquel -registrando quedas de até 20%.
Grandes investidores como John Paulson sofreram perdas em apostas no ouro, enquanto gigantes do setor de mineração, incluindo Rio Tinto Group e Anglo American PLC, registraram este ano enormes baixas contábeis à medida que a queda da demanda e dos preços reduziram os retornos projetados.
Há uma debandada de investidores: a carteira global de investimentos em commodities hoje soma US$ 349 bilhões, volume 21% menor que o pico de 2012, informou o Barclays na sexta-feira. A desaceleração da China e a recuperação gradual da economia dos EUA contribuíram para reduzir o entusiasmo. O setor enfrenta o seu terceiro ano seguido de queda, segundo o índice Dow Jones-UBS, e os fundos de commodity devem registrar a primeira saída líquida desde a crise.
"Acho que o superciclo acabou", disse Nic Johnson, gestor de portfólio da Pacific Investment Management Co., a Pimco, que administra cerca de US$ 27 bilhões em investimentos em commodities. A Pimco é uma unidade da Allianz SE, da Alemanha.
O Produto Interno Bruto da China, segunda maior economia mundial depois dos EUA, cresceu 7,5% no segundo trimestre no cálculo anualizado, abaixo dos 7,7% do primeiro trimestre e bem inferior à média de 10% dos últimos 30 anos.
A China alimentou por anos o superciclo, em parte porque o país usou o modelo de crescimento baseado em investimentos que consumiram muita matéria-prima em projetos como rodovias e redes elétricas.
Mas agora, em meio a preocupações sobre os investimentos excessivos no setor imobiliário e sinais de estresse no setor financeiro chinês, líderes políticos esperam reorientar o crescimento para um modelo mais baseado no consumo doméstico.
A desaceleração na China reduz a demanda por produtos e coloca uma limitação na economia dos seus parceiros comerciais. O resultado é uma mudança na equação da oferta e da demanda mundial e o fim de uma era.
Em toda a China, fábricas que já trabalharam no limite de sua capacidade agora estão ociosas. Armazéns que estavam lotados estão se esvaziando à medida que gerentes reduzem pedidos de reposição.
Investidores como o ex-gerente de fundo de hedge Stanley Druckenmiller, um ex-pupilo do megainvestidor George Soros que comandou a Duquesne Capital Management LLC até seu fechamento, em 2010, alertam que os países exportadores de commodities são vulneráveis a um recuo chinês.
Outros fatores também estão pesando. O boom na produção de petróleo dos EUA com as descobertas de xisto está ampliando o fornecimento de petróleo e de produtos refinados, uma mudança que muitos analistas acreditam que pode levar a preços menores nos próximos anos. Em muitos mercados de commodities, aumentos na capacidade que resultaram em superprodução estão ajudando a pressionar os preços para baixo. E a presença dos bancos, que antes eram grandes apostadores nos mercados de commodities, está sendo reduzida devido à piora das condições de mercado e o aumento da regulação. O Fed informou na sexta-feira que está revendo sua política de permitir que os bancos participem dos mercados físicos de commodity através da posse de bens que vão de usinas hidrelétricas a armazéns de metais.
Enquanto o mercado de commodities está em baixa, o acionário tem proporcionado retornos mais atraentes.
O período de alta das commodities foi sustentando por uma aposta de que o forte crescimento nos mercados emergentes elevaria os padrões de vida de bilhões de pessoas, estimulando a demanda por diversos produtos. Muitos investidores também viam nas commodities uma forma de mitigar os efeitos da desvalorização do dólar.
Por segurança, alguns gestores não têm reduzido suas alocações em commodities apesar da queda verificada no curto prazo. Eles dizem que a China -e o mundo - continuarão crescendo no longo prazo. "Estamos nos tornando mais ricos e mais ricos como mundo", diz John Brynjolfsson, diretor do fundo de hedge Armored Wolf, que afirma não estar mudando as alocações dos seus investimentos ou suas estratégias devido à desaceleração da China.
A volatilidade dos preços das commodities é outro ponto que piora a situação de muitos investidores. Apesar dos anos de retornos de dois dígitos, nos últimos dez anos a média de ganho foi de apenas 0,3%, tornando o setor uma má escolha para aqueles que adotam a estratégia de realizar um investimento e deixá-lo esquecido por um bom tempo, muito comum no mercado de ações. O índice de ações Standard & Poor's 500 teve um retorno de 0,8% no mesmo período.
Veículo: Valor Econômico
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