Geral
27/06/2013 11:45 - Estrangeiros não intimidam redes nacionais
O varejo ampliado (que inclui automóveis e material de construção) brasileiro teve 74,1% seu faturamento em 2011 - RS 2,1 trilhão - concentrados na mão de apenas 3,4% de empresas que atuam aqui, segundo dados apurados pela Pesquisa Anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em sua maioria, são de capital misto, como o player Grupo Pão de Açúcar (GPA), ou de investimento estrangeiro, como o Carrefour, Walmart, Leroy Merlin, Zara, entre outras empresas.
Mesmo concentrado em uma parcela pequena, não significa que outras empresas do setor percam com a concorrência "monopolizada". Flávio Rocha, presidente da Riachuelo e do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), disse esta semana em encontro com a imprensa que a concorrência, ampliada nos últimos anos devido à formalização de muitas empresas, é favorável ao varejo.
"Encaro a concorrência de uma forma positiva, isso significa que o setor está se profissionalizando e qualificando cada vez mais as suas operações", disse.
O executivo refere-se a questões como informatização do ponto de venda, ampliação de mix de produtos, estoques enxutos, entre outras estratégias efetivas de administração.
Compras coletivas
Uma das soluções oferecidas para que pequenas empresas se mantenham competitivas com os grandes players é a possibilidade de negociar produtos oriundos de fornecedores maiores com empresas intermediárias.
Este tipo de serviço pode ser um aliado para as pequenas empresas terem maior poder de barganha, conforme explicou Júlio Monteiro, sócio-fundador da Ponte de Negócios - site de compras coletivas focado em business to business (B2B) - em entrevista anterior ao DCI."Com o portal, oferecemos preços competitivos de forma que as empresas de pequeno e médio porte, por meio da coletividade, possam efetuar compras como se fossem grandes varejistas."
Segundo o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, que comanda uma rede de vestuário com mais de 150 lojas espalhadas pelo Brasil, o executivo que não se atentar aos custos de sua operação e tentar segurá-lo tem poucas chances de sobreviver no mercado. "É provável que quem não estiver atento aos seus custos não fique aberto por muito tempo".
Uma das formas da Riachuelo fazer frente as bandeiras internacionais Zara e C&A, por exemplo, é dobrar de tamanho até 2016. "Nossa expectativa é positiva para o futuro. Queremos duplicar nossas lojas e área de venda nos próximos quatro anos", disse o executivo.
Ampliar os pontos de vendas, tem sido a estratégia de grande parte das empresas de varejo. A perspectiva do IDV é que neste ano sejam inaugurados, no mínimo, 800 novos pontos de vendas, isso só entre os mais de 30 players (brasileiros e estrangeiros) que compõe a entidade.
Para Rocha, não importa a nacionalidade da empresa e sim que ela integre de forma justa o mercado brasileiro. "Temos um número crescente de empresas a se formalizar e isso é muito importante ao setor. Agora a conta dos impostos é dividida de forma justa e todos conseguem lucrar".
A opinião de que há espaço para todos no País é compartilhada por especialistas no setor, mesmo que três quartos da receita líquida do setor estejam com as gigantes que, ao mesmo tempo, são as que mais empregam no País. Dados do IBGE mostram que estas empresas têm 9,8 milhões de funcionários, que receberam R$ 130,2 bilhões em salários.
Qualificação
Essa concentração da maior parte dos lucros no comércio nas mãos de poucas empresas pode inclusive atrair novos investimentos no setor, de acordo com análises de especialistas.
Em entrevista ao DCI, Fabio Pina, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), afirma que esse fato não pode ser encarado como prejudicial para a o mercado nacional. "Não vejo esse processo como um grande problema, desde que se criem condições para que as pequenas não sejam esmagadas. O importante é analisar quais os efeitos sobre o consumidor, e no Brasil até agora não se pode dizer que foram negativos", disse o analista.
Pina argumentou que embora essa porcentagem seja elevada no Brasil, o mercado nacional é tão concentrado como em outros países da Europa, por exemplo. "É relativamente natural esse fenômeno. Na Inglaterra, por exemplo, o mercado é mais concentrado que o daqui. O mais importante é que essa concentração caiu um pouco se comparada a pesquisas anteriores. Na minha opinião, não vejo um processo de aumento dessa consolidação, me parece que este mercado já está se maturando. Não há um sinal tão evidente de aumento como no final da década de 90 e no começo dos anos 2000."
A presença de empresas estrangeiras, tão visível no comércio e no varejo, também não pode ser considerada prejudicial aos negócios do País, desde que as empresas saibam lidar com o mercado brasileiro. "Atualmente a grande maioria das grandes empresas possuem múltiplos donos. O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, tem como sócio majoritário os franceses mas também possuem sócios brasileiros. O mesmo ocorre com empresas que tem acionistas ou sócios de diversos países", comenta o especialista da FecomercioSP.
"De qualquer modo, sempre se reinveste muito aqui, mesmo que parte do lucro vá para fora. Mas vejo a presença estrangeira como algo muito saudável, ainda mais no Brasil, que depende de investimento internacional", frisou.
Veículo: DCI
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