Geral
14/05/2013 10:58 - Mais enxuta, Dori tenta voltar ao azul
A fabricante de guloseimas Dori passa por ampla reestruturação, após registrar prejuízo nos últimos dois anos. Para reverter as perdas, a companhia vai investir em embalagens menores, intensificar as vendas no varejo em detrimento do atacado, aumentar o valor agregado de novos produtos, reduzir o número de funcionários e fechar contratos futuros para evitar riscos cambiais e inflacionários. A meta é voltar ao lucro em 2013.
Carlos Barion, presidente da Dori, não revela o tamanho do prejuízo em 2011 e 2012, mas diz que a empresa foi surpreendida pela inflação de matérias-primas e mão de obra no ano passado.
O orçamento de 2013 prevê o mesmo nível de produção. Mas há diferenças significativas em formato, canal e portfólio. As embalagens foram reduzidas para aumentar vendas no varejo e obter margens melhores que as de pacotes grandes vendidos no atacado.
A empresa, com sede em Marília (SP), está trocando 22% do portfólio de 260 produtos. São balas, chicletes, amendoins e chocolates com novos tamanhos e sabores. No total, a Dori vai lançar neste ano 15 produtos e embalagens, que devem responder por 5% da receita anual de vendas.
No primeiro semestre de 2012, a Dori estava operando no azul. Contratou funcionários, comprou insumos, aumentou a produção e manteve o orçamento para o segundo semestre, considerando aumento da demanda. A receita líquida cresceu 14% sobre 2011, para R$ 363,2 milhões.
Só que os custos subiram acima do esperado: açúcar, milho, embalagens e amendoim, em especial. Juntos, representam 85% do custo com matéria-prima. O milho - base para xarope de glicose e de amido usados na fabricação de bala, pirulito e chiclete - subiu 40% no ano e foi o maior vilão, diz Barion. O açúcar aumentou 50%.
O gasto com mão de obra subiu 9,5%. Como as projeções da Dori indicavam aumento da demanda, a empresa contratou pessoal para elevar a produção. "Tínhamos certeza tão grande de que as commodities agrícolas recuariam", disse Barion. A Dori chegou a 2,5 mil empregados em junho de 2012. Hoje tem 2,3 mil.
O cenário de aumento na demanda e de queda nos preços, fizeram a direção optar por manter o orçamento e o nível de produção 7% maior em 2012. Em consequência, a Dori fechou o ano com estoque 18% maior do que em 2011.
Barion chama de "receita infalível para gerar prejuízo" o que aconteceu com a operação no ano passado. "O Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] gerado no primeiro semestre correspondeu a 90% da totalidade do resultado do ano". A margem Ebitda foi de 7% em 2012, e Barion pretende subir para 15% este ano. O endividamento líquido chegou a quatro vezes o Ebitda. Hoje está entre duas e três vezes.
Em setembro, a Dori começou a reajustar preço para recuperar margens, mas em ritmo menor do que a elevação dos custos. O aumento médio foi de 15%, e outros reajustes ainda serão feitos. Em novembro, começou a demitir pessoal. Demitiu três dos cinco diretores, reduziu em 30% a equipe de supervisores. "Entramos em 2013 com redução significativa do custo fixo", diz Barion. "Hoje é a realidade. O país não conseguiu fazer a geração de receita prevista."
Em contrapartida, a Dori aumentou a equipe comercial e vai fazer o mesmo com a distribuição, para passar de 70 a 85 distribuidores até o fim do ano. O plano é chegar a cem em 2014.
O conselho de administração também cresceu: passou de quatro para cinco membros. O presidente-executivo da Azul, José Mário Caprioli, ocupa a nova cadeira.
Parte da remodelação foi feita com a consultoria do professor José Pastore, da USP, especialista em relações do trabalho e desenvolvimento institucional. Barion decidiu acumular a diretoria de suprimento e abastecimento, cargo que já ocupou em seus 13 anos na Dori. Outra decisão foi trocar os diretores comercial e de exportação e criar uma nova diretoria, de riscos, jurídico e recursos humanos.
Barion diz que em 2013 a Dori vai ter o retorno das medidas implementadas em 2012. Uma delas foi o fracionamento de embalagens. No ano passado, a companhia usou parte dos R$ 15 milhões captados junto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para comprar máquinas de corte de embalagem. Outra parcela do financiamento foi usada para investir em um centro de inovação que está sendo construído ao lado da rodovia Castelo Branco (SP). Lá, a empresa desenvolve novos produtos, alguns em parceria com alunos da Universidade Mauá.
A Dori também está fechando contratos antecipados para comprar commodities, a fim de evitar surpresas com a volatilidade cambial. A empresa fortaleceu as operações de hedge financeiro e conseguiu estabelecer um contrato com valor fixo para milho, comprou estoque de cacau para o ano e contratou açúcar para os próximos dois anos.
Se tudo der certo, em 2014 a Dori deve aumentar significativamente os investimentos, mirando o aumento de produção para exportação, e abrir um escritório nos Estados Unidos, que, junto com o Canadá, representa 35% das exportações da empresa. As quatro fábricas da Dori (três em São Paulo e uma no Paraná) devem receber investimentos, mas a verba ficará concentrada em alguns produtos, como balas e amendoim. A ideia de Barion é alavancar a companhia com novos empréstimos, mas o plano de investimentos será analisado pelo conselho após o fechamento do primeiro semestre.
Veículo: Valor Econômico
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