Geral
20/05/2011 11:29 - Batata ganha 'status' para disputar varejo
Com embalagem, marca e seleção segundo o cardápio, AgroBeloni expande produção e diversifica
Corria o ano de 1995 quando os Beloni desembarcaram em Patrocínio, no leste de Minas Gerais, para ampliar sua área de plantio. A família começara a produzir batata e grãos quase meio século antes no Triângulo Mineiro, não muito longe dali, e migrara para a paulista Casa Branca, perto da fronteira entre os dois Estados, em 1984. Capitalizada por uma boa safra, acreditou que era possível crescer, adquiriu uma fazenda às margens da rodovia que liga Uberlândia a Patrocínio e fundou a AgroBeloni.
Dezesseis anos depois, as batatas ainda são o carro-chefe da empresa, responsáveis por cerca de 60% de seu faturamento. Mas as vendas, que vêm crescendo 15% ao ano, não teriam totalizado R$ 25 milhões em 2010 se ainda dependessem do único caminhão que atendia o pequeno varejo no coração do Sudeste décadas atrás. A produção aumentou e a logística se sofisticou, e hoje a AgroBeloni aposta na marca SuperBatata para inaugurar uma nova fase em sua longa trajetória.
Recém-lançada e vendida em grandes supermercados de bandeiras do Grupo Pão de Açúcar em São Paulo, Minas e Rio, a marca é mais um exemplo de que mudanças profundas estão em curso na maneira de se comercializar hortifrutigranjeiros no país. Com o crescimento da economia, a renda vem aumentando e o consumidor está mais exigente e disposto a pagar por qualidade diferenciada e praticidade. Quem pode, não quer garimpar produtos sem "machucados" nas gôndolas. E, aos poucos, verduras, legumes e frutas vão ganhando novas roupagens.
A AgroBeloni começou a vender batatas e cebolas ao Pão de Açúcar em 2007. Produtos já lavados e selecionados, mas sem marca. "Estamos em um processo de solidificação dessa estratégia e hoje o varejo representa 20% do nosso faturamento com batatas. Nos casos de batata e cebola, o objetivo é chegar aos 100% no longo prazo, com a entrada em outras grandes cadeias", afirma Fernando Nogues Beloni, sócio-diretor da empresa familiar. A marca SuperBatata ainda responde por um pedaço pequeno das receitas, mas a ideia é investir nela e fidelizar os clientes.
Outro ponto forte da estratégia, além da boa aparência garantida pelos tradicionais processos de lavagem e seleção, é a separação das variedades vendidas conforme o cardápio. Como ensinaria um feirante experiente, dependendo da época do ano, a variedade Annabelle, por exemplo, vai bem ao forno e em purês. Já a Asterix serve melhor a um bom nhoque e às porções de fritas.
Fernando Beloni tem 42 anos, é formado em administração na FGV e lidera a frente comercial da empresa. Ele diz que esse modelo de comercialização de batatas é uma tendência mesmo na Europa, onde o produto é quase um ícone e por séculos foi comprado sujo de terra, o que costuma ampliar sua durabilidade. Daí porque quer diversificar o portfólio nessa direção, com cebolas inclusive. "Nos EUA e na Europa, 80% da venda de batatas já é em pacote".
Pesquisas apontam que nas vendas de batatas soltas nas gôndolas, as perdas dos supermercados variam de 7% a 10%. O custo das embalagens pode elevar o preço final em até 30% - dependendo das frenéticas oscilações da própria matéria-prima -, mas com um ajuste de margens de lucro, a competição é viável. "É possível que até a volatilidade de preços de venda diminua, já que o produto embalado facilita a formação de médias".
Em Patrocínio, o quilo da batata era comprado dos produtores por R$ 1,40 pouco antes da Páscoa, época do ano em que, religiosamente, a demanda aumenta. Nesta semana, valia R$ 0,60. Em março, quando chuvas afetaram a região por 22 dias seguidos, a colheita foi prejudicada e o preço subiu. Quando veio a estiagem, a corrida dos produtores às lavouras derrubou as cotações.
Batatas e cebolas são extremamente suscetíveis a variações do clima, e as oscilações de preços costumam ser bruscas. Não há políticas de estocagem e a cadeia produtiva é desarticulada. No 'packing house' de batatas da sede da AgroBeloni (há outra unidade para as cebolas), o produto que chega do campo é beneficiado e sai para o varejo na frota própria de caminhões horas depois.
Esse 'packing house' foi inicialmente montado em Casa Branca, a partir de investimentos da ordem de R$ 1 milhão, e deu autonomia à empresa na busca de clientes maiores. Foi transferido para Patrocínio em 2007, depois que a fazenda paulista foi arrendada para a produção de cana, em um contrato que está prestes a terminar. Há no radar a possibilidade de a fazenda de 480 hectares ser vendida para ampliar a área de plantio na região de Patrocínio, onde outros importantes produtores de batata, alguns maiores que a AgroBeloni, despontam entre os cafezais que dominam a região.
A empresa conta com dois polos de produção, distantes o suficiente para tornar a produção viável em altitudes diferentes (900 e 1,2 mil metros), o que permite uma rotação de culturas mais eficiente. Na Fazenda Santa Cruz da Vargem Grande, onde está sediada, e em áreas arrendadas ao redor, são mais de 1 mil hectares. Ali a batata é cultivada sobretudo de março a agosto, e cebola, milho e pequenas plantações de café começam a ocupar as "esquinas" não cobertas pelos quatro pivôs de irrigação. O café também terá irrigação, mas por gotejamento. A batata, que tem ciclo produtivo de 120 dias, tem plantio e colheita quase 100% mecanizados; no caso da cebola, o plantio é mecanizado e a colheita é manual.
Carmelo Beloni, irmão de Fernando, é o responsável pela divisão produtiva dos negócios da empresa - que era a preferida do pai, Jeobert Antônio Beloni, que faleceu recentemente. Ele também monitora a Fazenda Horizontina e as áreas arrendadas desse polo (1,6 mil hectares), onde a altitude é menor e entra mais batata de verão (setembro a fevereiro). Há dez pivôs na unidade, o que preserva as plantações mas eleva gastos. Nas áreas irrigadas - são 1 mil hectares nos dois polos -, o processo representa 70% do custo, mas é possível plantar duas ou três vezes por ano. Batata, cebola, feijão, sorgo e trigo são irrigados na AgroBeloni.
Em fevereiro, a empresa tornou-se uma das poucas do país a obter para suas batatas o selo Global GAP de boas práticas agrícolas. A produção própria, que cresceu seis vezes de 1993 para cá, alcança 25 mil toneladas anuais, mas as vendas totais, incluindo as das áreas arrendadas, alcançam 40 mil. Os Beloni já buscam certificações para cebola e café, o que rende vantagens nas negociações com o varejo. A família abriu em 2010 uma filial de comercialização para garantir oferta o ano todo com menos oscilações, montou uma base na capital de São Paulo e agora mira o nicho gourmet, que poderá ser explorado a partir de nova parceria com o Grupo Pão de Açúcar.
Veículo: Valor Econômico

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