Valor do leite estaria abaixo do praticado pelo mercado

O preço do leite nos supermercados gaúchos está levantando debate sobre os limites da concorrência entre empresas varejistas instaladas no Estado. Através de comunicado em tom de denúncia, a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) informou ontem que uma rede supermercadista multinacional, que atua há poucos anos no Rio Grande do Sul (Walmart), estaria prejudicando as demais lojas do segmento vendendo o litro de leite a preços abaixo dos praticados no mercado.

De acordo com o comunicado, a empresa em questão passou a oferecer, na semana passada, o litro do produto por R$ 1,34, enquanto o preço ao fornecedor seria de R$ 1,52, feito conseguido com a encomenda de um alto volume de leite junto ao produtor. Ainda conforme o documento, "a empresa fornecedora remeteu o que era habitualmente adquirido, prevendo o desgaste que teria perante as demais empresas supermercadistas...". Diante da recusa em negociar a quantia extraordinária do produto, a multinacional teria cancelado os pedidos para todas as unidades da rede no Rio Grande do Sul.

O presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, condena a situação, caracterizando como "predatória" a atuação da rede, que estaria ditando ao mercado as condições das negociações. "O foco não é especificamente o leite, mas a preocupação porque o Brasil vive um excelente momento, tendo capacidade de estimular as empresas nacionais", destaca. Ele acrescenta que o ciclo produtivo não pode ficar à mercê de empresas que sejam mandatárias de seus negócios, deixando os produtos sob o risco de perdem competitividade.

"Se uma indústria não atende a reivindicações desse grupo, ele vai cortar pedidos, boicotar, e o concorrente dessa indústria de laticínios vai atender porque quer ganhar mercado", observa o dirigente. "A preocupação é sobre o gigantismo, que pode retirar do consumidor o direito de escolha no momento que tem uma empresa que pode ditar normas", completa.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Elton Weber, compartilha a opinião do presidente da Agas. Weber ressalta que o episódio se torna ainda mais prejudicial, já que o momento é de recuperação no preço do leite. O dirigente alega que, cedo ou tarde, o custo do produto aumenta, sobrando para o produtor o prejuízo da batalha entre os supermercadistas. "Quando uma empresa de laticínios puxa preço pra trás, o mercado vai puxar e quem paga é o produtor", diz.

Já o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Carlos Feijó, acredita que a ocorrência é pontual, mesmo reconhecendo a gravidade do caso. "Entendemos a preocupação do Antônio Longo como líder de classe, para que não deixe isso se protelar, mas entendemos que seja pontual", frisa. O dirigente ressalta que nenhum associado denunciou a prática à entidade, mas que o tema deve entrar em debate na diretoria do sindicado durante as próximas reuniões.

Walmart reage à nota divulgada pela associação

O Walmart Brasil, rede supermercadista que atua no Rio Grande do Sul desde 2005, apresentou um contraponto à declaração divulgada pela Agas. Também por comunicado, a companhia afirma que estranha a opinião emitida pela entidade. Conforme nota da multinacional, o episódio relatado aconteceu no município gaúcho de Bento Gonçalves, onde na última quinta-feira (9/12), um concorrente da rede teria ofertado leite longa-vida a R$ 1,39. Em resposta à ação, a loja Nacional que atua no município reduziu o preço do produto no dia seguinte, sexta-feira (10/12).

"Neste mesmo dia (10/12), as três principais redes do município praticaram valores semelhantes - incluindo o supermercado Apolo, de propriedade de Antônio Cesa Longo. Portanto, trata-se de uma ação promocional pontual, em resposta à concorrência", diz o comunicado divulgado.

De acordo com o Walmart Brasil, a adoção de ações promocionais é prática comum no varejo, ressaltando que segue realizando normalmente os pedidos junto aos fornecedores de leite, em busca do melhor preço para os consumidores.

Veículo: Jornal do Comércio - RS