Benevides (PA) Na semana passada, foi inaugurado um complexo industrial inovador, na Região Amazônica. O Ecoparque, lançado pela Natura, em Benevides, a 35Km de Belém (PA), busca parceiros interessados em implantar empreendimentos sustentáveis, em sistema consorciado, já que ocupa aproximadamente 6% da área equivalente a 172 campos de futebol. O primeiro desses empreendimentos já tem dada para iniciar as operações. A alemã Symrise, fornecedora de fragrâncias e óleos para a Natura, deve inaugurar sua fábrica em outubro.

A empresa agora concentra a produção de sabonetes e de óleos fixos no local, o que deve gerar cerca de 250 empregos diretos e indiretos, até dezembro de 2014. Construído às margens da rodovia PA-391, o projeto é inspirado no conceito de simbiose industrial ao conectar empresas de diferentes segmentos de mercado, desde que tenham interesses comuns e necessidades complementares.

"A ideia é criar uma operação verdadeiramente compartilhada, uma rede de cooperação, em que as indústrias instaladas em um mesmo espaço possam trocar recursos e articular alternativas conjuntas para fomentar a geração de negócios sustentáveis na região. Além de alavancar a demanda por insumos da sociobiodiversidade e o empreendedorismo local", explicou Alessandro Carlucci, diretor-presidente da Natura.

Fazendo um retrospecto, ele destacou que, desde a sua fundação, em 1969, a Natura esteve comprometida com a natureza. No fim da década de 1990 elegeu o uso sustentável dos elementos da natureza como plataforma ambiental. A partir de 2000, transformou essa decisão na linha Natura Ekos. Em 2007 instalou a primeira saboaria no Pará, para aproximar-se da região e alavancar a produção de insumos. O Programa Amazônia, de 2011, concentrou esforços para o desenvolvimento da região. Em 2012, foi lançado o Núcleo de Inovação Natura Amazônia (Nina). O Ecoparque faz a conexão com os centros de produção científica e o fomento às cadeias produtivas.

Denise Alves, diretora de Sustentabilidade do Programa Amazônia, destaca-o como vetor na criação de negócios sustentáveis a partir da ciência, inovação e empreendedorismo, com foco na sociobiodiversidade e na valorização do conhecimento tradicional e cultura. São trabalhados três pilares: a ciência, tecnologia e inovação, estimulando novos negócios; as cadeias produtivas sustentáveis, estruturando, aprimorando e expandindo o ganho de competitividade; e o fortalecimento institucional.

A fábrica inicia atividades com capacidade de produção de mais de 200 milhões de barras de sabonetes e cerca de 400 toneladas de óleos fixos. Além desses produtos, o Ecoparque também absorverá a produção de "noodle", base para fabricação de sabonetes, que anteriormente era fabricada na antiga unidade da empresa, localizada também na cidade de Benevides.

O conceito de sustentabilidade está presente nas instalações e estruturas do empreendimento. Os jardins filtrantes são um tratamento inovador de efluentes a partir de raízes de plantas. Com um processo de fitorrestauração, livre de produtos químicos, bactérias alojadas nas raízes de plantas aquáticas decompõem os poluentes.

Outra forma de poupar recursos ambientais foi a implantação de sistemas de geotermia, nos quais equipamentos captam o ar externo e promovem troca térmica no subsolo para diminuir a temperatura no interior dos edifícios. Reutilização da água da chuva e aproveitamento da ventilação e iluminação natural das instalações também fazem parte das estratégias de operação, assim como o incentivo ao uso de bicicletas e a disponibilização de carros elétricos para a mobilidade dos colaboradores e visitantes dentro do Ecoparque.

O diretor Norte-Nordeste da Natura, Daniel Siqueira, destacou o grau de complexidade em se estabelecer uma cadeia produtiva sustentável em pequenas comunidades amazônicas. "O Bioma Amazônia está no DNA da Natura, o que foi evidenciado com o lançamento de Natura Ekos. A simplicidade contrariava a tendência de glamour que envolvia o setor.

Em 2011, a Natura lançou o Programa Amazônia, com o objetivo de aumentar, de forma sustentável, de 11% para 30% a utilização de matérias-primas cosméticas com origem na região, movimentar R$ 1 bilhão em recursos próprios e beneficiar mais de 10 mil famílias de comunidades fornecedoras. Hoje, são 25 cooperativas envolvendo 2.571 famílias. Mais do que uma relação de compra e venda de insumos, a Natura tem como objetivo estruturar, aprimorar e expandir cadeias produtivas sustentáveis da sociobiodiversidade na Amazônia. Desta forma, contribui para que estas comunidades se desenvolvam e ganhem competitividade e relevância econômica, ao mesmo tempo em que geram riquezas e promovem o desenvolvimento social.

"É muito representativo ter uma empresa que chega a locais de difícil acesso e faz entender que a comunidade pode produzir em parceria e promover o desenvolvimento institucional para que caminhe com as próprias pernas, trabalhando com conhecimento e preservação da natureza no próprio quintal, com ênfase na educação e formação continuadas para o desenvolvimento social, econômico e pessoal. Dos 63 membros da nossa Associação, todos concluíram o ensino médio e 10% já têm ensino superior", disse Adriana Gomes, do Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB). Ela vive na comunidade de Cotijuba, que fornece piprioca e ucuúba para a Natura e discursou ao lado do secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente Roberto Cavalcanti; do governador do Pará, Simão Jatene, de executivos da Natura; e do prefeito de Benevides, Ronie Silva; e cortou a fita inaugural.



Veículo: Diário do Nordeste