A companhia nem lançou o seu plástico verde e já está com quase toda a produção comercializada. Saiba como ela conseguiu essa façanha

Quando a primavera chegar, em setembro, uma equipe de funcionários de todos os níveis da Braskem vai respirar aliviada e comemorar a finalização de um trabalho que consumiu três anos de seu tempo e uma verba de R$ 500 milhões no desenvolvimento de uma inovação: o chamado plástico verde, um material produzido à base de etanol de cana, que, finalmente, começará a ser fabricado industrialmente na unidade de Triunfo, no Rio Grande do Sul.

À primeira vista, pode parecer mais um entre tantos projetos que nascem com a bandeira da sustentabilidade. Não é. Além de ser o primeiro plástico feito a partir do etanol de cana no mundo,  o mercado estima que ele já nasce com potencial para gerar até US$ 500 milhões ao ano para a empresa, cujo faturamento anual alcança R$ 19 bilhões.

Afinal, a produção ainda nem começou e a companhia já tem contratos de fornecimento garantidos para os próximos cinco anos. “Já vendemos grande parte de nossa produção antes de lançarmos o produto”, diz Rui Chammas, vice-presidente do negócio polietileno da Braskem.
 

Detalhe: a capacidade de produção de 200 mil toneladas/ano pode não ser suficiente para atender a demanda. Por isso, a companhia já estuda a construção de uma nova unidade industrial só para fabricar o plástico verde. Entre os clientes que fizeram encomendas estão Natura, Johnson&Johnson, Estrela, Cromex, Tetra Pak e Shiseido.

O que torna esse material diferente dos outros? As grandes vantagens estão na sua matéria-prima: além de a cana ser um recurso renovável, seu cultivo contribui para a captura de gás carbônico da atmosfera – o oposto do que ocorre com o petróleo, insumo tradicional dos plásticos.

Desde que lançou o projeto, em 2007, a Braskem mapeou os possíveis clientes, empresas que trabalham com o conceito de sustentabilidade. A companhia descobriu que havia muito espaço para o produto. O polietileno é a base para a fabricação de uma enorme variedade de embalagens, sacolas, tampas de garrafas, tanques de combustível e até mesmo caixas-d’água.

Mais: de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), representa cerca de 60% dos 180 milhões de toneladas de resinas termoplásticas comercializadas no mundo, um mercado de US$ 180 bilhões por ano. Por enquanto, a demanda por plásticos feitos de matérias-primas renováveis ou biodegradáveis, como os produzidos a partir do milho pela alemã Basf, por exemplo, ainda é pequena aqui, mas muito maior no Exterior.

“O consumo ainda é praticamente inexistente”, diz Nelson dos Reis, presidente da Abiquim. “Mas, em 2020, essas resinas devem representar 10% de um mercado de 250 milhões de toneladas.” E as empresas do setor estão correndo atrás desse negócio bilionário. “Há muitas pesquisas nessa área”, afirma. Gigantes como a americana Dow Chemical e a belga Solvay são algumas das empresas com projetos para fabricar outros tipos de resinas a partir de eteno verde.

Inicialmente, dois terços da produção da Braskem serão destinados ao mercado externo. Um estudo da empresa mostrou que o potencial de consumo, por enquanto, é maior em países do norte da Europa, costa oeste dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul.

“São locais onde a consciência ecológica é mais forte. O público dos produtos verdes é o que tem acesso a itens com diferencial, como o que compra alimentos orgânicos”, diz Chammas. Os itens que tiverem o plástico da Braskem na composição ganharão da empresa o selo “I’m green” (“Sou verde”).

No mercado brasileiro, avalia Solange Stumpf, diretora da MaxiQuim Assessoria de Mercado, o interesse por resinas plásticas renováveis está surgindo somente agora. “O mercado tende a crescer rapidamente nos próximos anos, com a disponibilidade de matéria-prima, desenvolvimento da tecnologia e mudanças de percepção do mercado consumidor”, explica. Prova de que a procura pela matéria-prima está se aquecendo no Brasil são as encomendas feitas à Braskem pela Natura, Estrela e Johnson&Johnson.

A Natura vai utilizar o plástico verde nas embalagens de refis da linha Erva Doce a partir de setembro, na região Nordeste. “Embora seja um plástico mais caro, não vamos repassar o custo para o consumidor final”, diz Guto Pedreira, diretor da unidade de negócios da companhia.

“A empresa considera um dever encontrar soluções sustentáveis”, afirma. A Johnson vai utilizar a embalagem verde na linha de protetores, bloqueadores e bronzeadores Sundown a partir do verão 2011/2012, enquanto a Estrela já aplica o plástico verde no seu Banco Imobiliário Sustentável, desde julho de 2008.

Além de peças feitas com plástico verde fornecido durante a produção experimental da Braskem, o tabuleiro, caixa e cartas são de papel reciclado. “A resposta do mercado foi boa. Queremos ampliar o uso do plástico em outras linhas, à medida que a Braskem aumente a oferta do produto. Aparentemente, isso poderá ser feito já no ano que vem”, diz Aires Fernandes, diretor de marketing da Estrela.

Veículo: Revista Isto É Dinheiro