A publicação, na terça-feira, dos dados sobre aumento de 14% na receita do braço alimentar do Grupo Pão de Açúcar (GPA) de julho a setembro, um dos principais termômetros do setor, levantou questionamentos no mercado sobre a hipótese de reação do segmento, que pode ter, entre 2015 e 2016, o pior biênio dos últimos 15 anos.
 
Varejistas ouvidos não confirmam a existência de sinais claros de recuperação consistente pela alta volatilidade nos números - para algumas redes consultadas, setembro foi pior do que agosto e outubro é incógnita. Mas lojas que passaram por reformas ou são muito agressivas em preços têm ajudado a "puxar" o desempenho. "É preciso esperar a proximidade do fim do mês para ter certeza dos resultados. Há meses fracos seguidos de outros mais fortes. É muito sobe e desce ainda", disse José Barral, presidente do grupo Sonda.
 
Nesse cenário, é esperado, para o quarto trimestre, um lento crescimento nas vendas de alimentos, numa expansão que pode ser "por etapas", avalia o comando da associação dos supermercados (Abras). A entidade prevê alta real de cerca de 0,7% em 2016 (até meados do ano era previsto 0,45%), sendo que até agosto, há alta de 0,8% (incluindo o atacarejo (modelo misto com vendas para empresas e ao consumidor). Em 2015, a queda real foi de 1,9%.
 
Números do GPA publicados na terça-feira, assim como tem ocorrido em redes como o Walmart, refletem um aumento ainda mais acelerado da receita no atacarejo, que passou a responder por uma fatia maior das vendas dos grandes grupos no terceiro trimestre.
 
Como consequência, tem sido verificado um aumento na diferença de desempenho entre supermercados e hipermercados e o atacarejo. O Valor apurou que o Walmart teve alta pouco superior a 30% nas vendas do Maxxi Atacado de julho a setembro, sendo que ao considerar os braços de varejo e atacarejo, a variação cai pela metade. Julho e agosto foram meses melhores, mas outubro voltou a desacelerar. O Sonda apurou alta de cerca de 2% nas vendas no terceiro trimestre.
 
Números publicados pelo GPA na terça-feira mostram vendas das redes Extra e Pão de Açúcar 1,1% superiores ao ano anterior e a rede de atacarejo Assaí com "impressionante" alta, classificou o UBS, de quase 46%. No segundo trimestre, supermercados e hipermercados cresceram 1,4% e o Assaí, quase 37,6%, ou seja, o "gap" era menor. De janeiro a março, foi de 2% e 36%, respectivamente. Como o grupo tem aberto volume grande de lojas no atacarejo, o segmento que mais cresce, isso o ajuda a "descolar" do resto. A operação de atacarejo já responde por cerca de 37% das vendas do GPA (essa fatia era de 29% há um ano), calculou o BB Investimentos em relatório na terça-feira. Consultores estimam que no Carrefour, o Atacadão responda por quase 65% das vendas totais (ante 50% há quatro anos). São os maiores negócios dos dois grupos - e com as menores margens.
 
Após a publicação dos dados trimestrais do GPA anteontem, as ações do grupo caíram 2,72%. Para o BTG Pactual, o avanço do atacarejo indica queda na rentabilidade do trimestre - o índice será publicado em balanço no dia 27. "O mercado já está precificando essa estimativa de impacto na margem do grupo", disse o analista-chefe da Planner, Mario Mariante.
 
Analistas consideraram positivo o aumento nas vendas "mesmas lojas" da rede de hipermercados Extra, de 6%, assim como a alta de 8,9% nessas vendas das redes Extra, Pão de Açúcar e Assaí somadas (o UBS previa 8%). A receita líquida total do grupo de julho a setembro ficou em R$ 15 bilhões, alta de 4,4% (o UBS previa 8%). A receita líquida total do grupo de julho a setembro ficou em R$ 15 bilhões, alta de 4,4% (o UBS previa 2,1%). "O destaque principal é a melhoria sequencial nas vendas "mesmas lojas" para alimentos, após o amadureccimento da nova campanha promocional, um importante gatilho positivo para o estoque", escreveu o UBS em relatório.
 
Fonte: Jornal Valor Econômico