Economia
06/11/2009 09:57 - Ascensão social eleva a renda de 19,5 milhões de pessoas em 7 anos
A população brasileira começou a ascender para faixas de renda per capita mais altas a partir de 2004, movimento que não se observava desde a década de 80. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2004 e 2008, 7 milhões de pessoas ingressaram na faixa de renda média (com renda mensal per capital de R$ 188 a R$ 465) e 11,6 milhões de indivíduos chegaram ao estrato superior de renda (renda per capita maior que R$ 465 mensais).
Em contrapartida, a faixa de renda baixa (inferior a R$ 188 por indivíduo) perdeu 11,7 milhões de pessoas. No período, o aumento da população brasileira foi de 6,9 milhões de pessoas. "Há sinais da volta da mobilidade social no País, o que não se via até a década de 90", afirma o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.
O estudo do Ipea, que como base a Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) de 2008, realizada pelo IBGE, mostra que, com essas mudanças, a participação relativa das camadas de renda evoluiu. Em 2008, segundo o estudo, a faixa mais baixa de renda representava 26% da população, fatia menor do que a observada em 2005, de 32%; a de renda média respondia por 37,4%, ante 34,9% em 2004.
Já o grupo de renda superior cresceu de 31,5% em 2004 para 36,6% no ano passado. O Ipea destaca que esse grupo, que tem renda per capital superior a R$ 465, vinha registrando declínio em sua participação relativa entre os anos de 1998 e 2004, oscilando de 35,3% para 31,5%.
As faixas de renda estabelecidas pelo estudo - muito baixas, considerando que já pertence à faixa superior o indivíduo que tem renda per capital superior a um salário mínimo - refletem a média de renda da população. Pochmann explica que, para fazer o estudo, o Ipea dividiu a população brasileira em 2001 em três grupos iguais e calculou a média de renda per capital em cada um desses grupos. Para atualizar os valores, o Ipea utilizou o INPC.
NATALIDADE. Também é importante destacar que os avanços de renda per capita podem ser explicados, em parte, pela redução da taxa de natalidade média das famílias. Com menos filhos, a renda per capital das famílias naturalmente cresce. Em 1992, segundo Pochmann, a taxa de natalidade média no Brasil era de 2,8 filhos. Em 2008, essa taxa caiu para 1,8 filhos. Se forem consideradas apenas as mulheres brancas com maior grau de escolaridade, a natalidade é ainda menos: 0,9 filhos.
O presidente do Ipea considera que há outras explicações para esse fenômeno da melhora da renda per capita. Crescimento econômico e dinamismo do mercado de trabalho também justificam, segundo Pochmann, a mobilidade social. Isso fica claro quando se observa o perfil dos indivíduos que tiveram alguma ascensão de renda. Entre 2001 (ano base do estudo) e 2008, 19,5 milhões de brasileiros (ou 11,7% da população) registraram elevação real em seu rendimento individual superior à evolução da renda per capital nacional, que foi de 19,8% no período.
Nesse grupo, os que têm carteira assinada foram os que mais evoluíram - o que confirma a tese de que o emprego contribuiu para a melhora da renda, e não apenas efeitos estatísticos ou mesmo benefícios sociais. Segundo o Ipea, dos 13,5 milhões de indivíduos que migraram do estrato inferior para o médio, 55,5% são ocupados (incluindo empregos formais, informais e por conta própria). Já no grupo de 6 milhões de pessoas que evoluíram da faixa médio para a superior, 69,7% estão na categoria de ocupados.
O estudo mostra que a melhora da renda continua concentrada nas áreas urbanas e, especialmente, nas regiões Sul e Sudeste, enquanto que as condições das famílias do Nordeste ainda são mais precárias. Segundo o Ipea, 80% das 19,5 milhões de pessoas que melhoraram sua renda moram na cidade. Dos que mostraram ascensão de renda entre 2001 e 2008, 41% são da região Sudeste (8 milhões de pessoas); 28,2% no Nordeste (5,5 milhões); 3,3% no Sul (2,6 milhões); 9,2% no Norte (1,8 milhão); e 8,2% na região Centro Oeste (1,6 milhão).
De todo modo, quando se olha a estrutura social nas regiões em 2008, é possível observar que, no Nordeste, quase 50% da população pertence à faixa mais baixa de renda. Por outro lado, nos Estados do Sul e do Sudeste quase meta da população tem renda per capital superior.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ
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