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16/09/2008 10:19 - Nervosismo faz Bovespa cair 7,59%; risco País avança 16%

Bolsa tem maior queda desde atentados de 11 de setembro e volta ao nível de agosto de 2007

 

O pânico dos investidores com a quebra de mais um banco americano, o Lehman Brothers, fez o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) despencar 7,59%, a maior queda desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Com o desempenho de ontem, a bolsa paulista voltou aos níveis de agosto de 2007 e fechou em 48.416 pontos. No ano, a desvalorização já soma 24,21% e, em setembro, 13,05%.

 

O mau humor também afetou o risco país - que mede o grau de perigo que um país representa para o investidor estrangeiro. Até as 18h40, o indicador havia subido 16,73%, para 307 pontos. Trata-se do maior valor desde dezembro de 2005. O dólar comercial subiu 1,85%, para R$ 1,814, maior cotação desde dezembro de 2007.

 

O foco do stress surgiu no domingo, com a compra do Merrill Lynch pelo Bank of America e a quebra do Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos. Para piorar o quadro, o setor financeiro ganhou mais uma candidata a ter problemas de liquidez, a seguradora AIG.

 

Com o furacão Ike, a expectativa é de que os pedidos de reembolsos aumentem significativamente nas próximas semanas. A seguradora foi autorizada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para acessar US$ 20 bilhões em capital das subsidiárias para cobrir suas necessidades operacionais.

 

“O sistema financeiro dos Estados Unidos está passando por uma séria crise. Mas todo nervosismo de ontem se deveu às sinalizações do governo americano de que não vai injetar mais dinheiro para salvar outras instituições financeiras”, explicou o economista do Banco Real Private Banking Fábio Susteras.

 

Na avaliação dele, a turbulência no mercado financeiro ainda deve perdurar por algum tempo. “Se o total desse setor é de US$ 1 trilhão, há possibilidade de haver ainda mais perdas. A crise é séria, não acabou nem vai acabar agora.”

 

FUGA DE RECURSOS

 

O cenário da economista da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro também não é positivo. “O mundo está passando por um momento de aversão brutal ao risco. Há um desmonte geral de posições. É o chamado flight to quality”, explica ela, referindo-se ao fenômeno que consiste na fuga de recursos de aplicações de maior risco para aquelas consideradas mais seguras, como é o caso dos títulos americanos. Ontem, por exemplo, o título de 2 anos foi o mais procurado pelos investidores.

 

Alessandra avalia que a incerteza em relação ao tamanho do rombo provocado pelo mercado subprime ainda é muito grande. Por isso, a volatilidade deverá continuar, com alguns suspiros de melhora. Mas o fato é que há uma série de outros bancos com problemas de solvência.

 

“A crise financeira se tornou sistêmica”, afirmou ontem Richard Bernstein, estrategista-chefe de investimentos do Merrill Lynch. “Para a economia, significa que ficou mais difícil tomar empréstimos. É o aperto no crédito. O que se achava que seria crédito bom não é, portanto, o custo dos empréstimos subiu dramaticamente”, acrescentou.

 

Para hoje, a expectativa é de mais turbulência, especialmente por causa da reabertura dos mercados no Japão e na China, que ontem estavam fechados por causa de um feriado.

 

Segundo o Wall Street Journal, várias instituições financeiras japonesas estão entre os principais credores bancários do Lehman Brothers.

 

Lehman se preparava para entrar no Brasil

 

Há pouco mais de um ano, em julho de 2007, executivos do banco de investimento Lehman Brothers entregaram diversos documentos ao Banco Central. Os papéis tinham como objetivo conseguir a autorização para abrir uma subsidiária no País, o Lehman Brothers do Brasil Banco Múltiplo S.A. Desde então, a instituição, que agora corre o risco de ser liquidada nos Estados Unidos, espera a aprovação do governo brasileiro.

 

De acordo com os documentos entregues ao BC, os planos do Lehman Brothers no País eram ambiciosos. A intenção era criar um banco múltiplo, com negócios em várias frentes. A instituição queria oferecer aos clientes brasileiros carteiras de investimento - como fundos - e também produtos no segmento de crédito e financiamento.

 

O pedido previa que o Lehman Brothers do Brasil nasceria com capital inicial de US$ 50 milhões, pouco mais de R$ 90,5 milhões pela cotação de ontem. Apesar de o BC não ter aprovado formalmente o pedido, o processo avançou em Brasília. Em 28 de fevereiro deste ano, o banco norte-americano conseguiu a aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN) para ter 100% do capital nas mãos de estrangeiros. Na ocasião, o texto foi encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sanção.

 

Pelo requerimento, os acionistas da matriz norte-americana - representados pela Lehman Brothers Holding - seriam detentores de 100% das ações da subsidiária brasileira. O documento não prevê nenhum terceiro como sócio do banco no Brasil.

 

Atualmente, a instituição opera apenas um escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Procurada, não atendeu aos pedidos de entrevista feitos pelo Estado. Na América Latina, também tem presença em Buenos Aires, Cidade do México, Montevidéu e San Juan, em Porto Rico.

 

Mesmo com os rumores sobre sua fragilidade financeira, há alguns dias, o banco manteve o discurso sobre a abertura da filial brasileira. Ao jornal Valor Econômico, o responsável pelos mercados emergentes do Lehman, Mohammed Grimed, disse, no início do mês, que o banco já havia contratado 40 pessoas no último ano no Brasil e esperava, apenas, a autorização do BC para iniciar os negócios e dobrar o quadro de funcionários.

 

SÓ PROSPECÇÃO

 

O advogado Guilherme Abdala, da Teixeira Martins Advogados, explica que uma instituição estrangeira sem autorização do BC não pode realizar operações financeiras no Brasil. Assim, um escritório de representação - como o do Lehman na capital paulista - pode, apenas, prospectar clientes. Quando os negócios forem fechados, o cliente brasileiro tem de, necessariamente, fechar o contrato com o banco nos Estados Unidos, diz o advogado.

 

“Na eventualidade de o banco entrar em concordata (no chamado capítulo 11), em tese a vida continua normalmente no escritório brasileiro. Mas o fato é que um escritório significa um ativo e isso pode ser vendido para que o banco faça caixa”, diz Abdala.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo

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