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29/09/2009 11:31 - Entidades empresariais engrossam pressão pela aprovação de Toffoli

Apesar de vencer as principais causas tributárias julgadas nos tribunais superiores nos últimos dois anos e, com isso, sangrar os cofres das empresas em bilhões de reais, o advogado-geral da União, ministro José Antonio Dias Toffoli, conta com o apoio de diversas entidades do setor privado em sua campanha para o Supremo Tribunal Federal (STF).

 

Os senadores estão recebendo pedidos favoráveis a Toffoli da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) e de integrantes da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF). Esse apoio surgiu um mês e meio depois de, sob o comando de Toffoli, a AGU ter imposto às empresas a maior derrota tributária da história do Supremo: a declaração do fim do crédito de IPI à exportação, uma causa estimada em R$ 270 bilhões julgada a favor do governo em 13 de agosto.

 

O Senado sofre uma pressão sem precedentes para aprovar o ministro. A sabatina será realizada amanhã na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, hoje, Toffoli dará continuidade às visitas aos senadores. Eles estão recebendo também um kit com o currículo do advogado-geral e informações a respeito de ministros do STF que não concluíram pós-graduação ou que tiveram militância político-partidária e, depois, se tornaram "expoentes" na Corte. Uma das principais restrições ao advogado-geral de 41 anos é que toda sua atuação, até agora, foi como advogado do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em campanhas eleitorais.

 

Toffoli contratou ainda o grupo CDN de comunicação para fazer assessoria de imprensa e treinamento ("media training"). Contratou também seu assessor especial Adão Paulo Oliveira, que desligou-se da função na AGU para ajudá-lo na campanha pela aprovação. O indicado tem ensaiado respostas aos possíveis questionamentos da sabatina, em especial quanto à sua ligação com o PT, com o ex-ministro José Dirceu e com o presidente Lula. Senadores como Álvaro Dias (PSDB-PR), contrário à indicação, questionarão a condenação de Toffoli em primeira instância da Justiça do Amapá - decisão suspensa por recurso.

 

Toffoli convidou ilustres magistrados para compor a plateia da sabatina, na CCJ. Entre eles estão os ex-presidentes do Supremo Sepúlveda Pertence e Maurício Correa, além de Carlos Alberto Menezes Direito, homônimo e filho do ministro do STF que morreu dia 1º e cuja vaga será ocupada por Toffoli.

 

Os governistas são maioria na comissão: dos 23 titulares, apenas oito são do PSDB e do DEM. A maioria deve votar com o relator Francisco Dornelles (PP-RJ), cujo parecer é favorável a Toffoli. Se aprovada na comissão, a indicação vai ao plenário.

 

Na internet, os apoiadores de Toffoli se articulam e em blogs como "toffolistf.blogspot.com.br" há dezenas de manifestações. Até o fim da tarde de ontem, 134 pessoas haviam assinado a lista de apoiadores, entre eles Ronald Christian Bicca, presidente da Associação Nacional dos Procuradores de Estado.

 

Além do crédito-prêmio do IPI, Toffoli foi vitorioso na cobrança de Cofins junto às sociedades civis (profissionais liberais, como escritórios de advocacia ) e obteve liminar no STF para suspender os processos em que se discutia a cobrança do ICMS na base de cálculo da Cofins. A primeira causa envolve R$ 126 bilhões e a segunda, R$ 80 bilhões.

 

No Senado, as derrotas das empresas não estão gerando queixas do setor privado ao advogado-geral. Pelo contrário, os principais interlocutores entre o Legislativo e o setor empresarial estão elogiando o indicado para o STF. O discurso é o de que Toffoli tem um perfil institucional, que foi um defensor do Estado brasileiro, e não do governo Lula ou do PT. Como titular da AGU, ele assinou várias súmulas para que a União deixasse de recorrer em causas perdidas e essa atuação foi bem vista no empresariado. Assim, o advogado-geral seria um ministro a favor da manutenção de regras claras e seguras para o Estado. Esse discurso se encaixa naquilo que o empresariado precisa com relação ao Judiciário: regras previsíveis para dar a segurança necessária para os investimentos.

 

"O nosso juízo não pode ser meramente corporativo", afirmou ao Valor o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto. Para ele, a indicação do advogado-geral não significa que o STF contará com um ministro pró-Fisco : "As lideranças empresariais que estão ligadas ao ambiente institucional sabem que o ministro Toffoli estará sempre aberto ao diálogo. Ele se revelou uma pessoa equilibrada e serena e um magistrado precisa dessas qualidades."

 

A Fecomércio enviou cartas para os senadores oposicionistas manifestando apoio a Toffoli. "O exercício da advocacia-geral da União, ao lado da discrição e do equilíbrio existentes nas atividades desempenhadas demonstram que ele perfaz todos os requisitos exigidos para ocupar a vaga deixada por seu notável antecessor", escreveu o presidente da entidade, Abram Szajman, em carta enviada ao líder do DEM, senador Agripino Maia (RN).

 

Com relação aos bancos, advogado-geral se manifestou favoravelmente à ação proposta por instituições financeiras no Supremo contra a cobrança de expurgos dos planos econômicos. Nesse caso, os bancos tentaram obter a assinatura de Lula na ação. O presidente recusou, pois a medida afetaria milhões de correntistas e seria impopular. A saída dada por Toffoli foi a de redigir manifestação técnica favorável aos atos tomados por governos anteriores na instituição dos planos econômicos.

 

"Ele convergiu com a nossa posição nos planos econômicos e sempre foi isento e bem fundamentado", disse José Ricardo Alves, vice-presidente de Relações Institucionais da CNF, que engloba a Febraban, a Andima (Instituições do Mercado Financeiro) e a Anbid (Bancos de Investimento), entre outras. Alves lembrou que, no julgamento da cobrança da comissão de permanência no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Toffoli foi contrário aos bancos. "Mas não é alguém que defende cegamente o governo", completou.

 

O movimento das empresas coincide com o que ocorre internamente no próprio STF: antes da indicação havia tanto elogios quanto restrições a Toffoli; depois, todos passam a elogiá-lo por verificar que dificilmente o Senado deixará de aprovar o seu nome.
 

 
Veículo: Valor Econômico

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