Economia
18/08/2009 09:40 - Vendas do Brasil para a União Europeia caem 29%
Redução nas importações de produtos brasileiros ocorreu principalmente nos setores de energia e matéria-prima, em que a queda chega a 60%
As exportações do Brasil para a União Europeia no primeiro semestre deste ano estão entre as mais afetadas pela crise.
Segundo dados divulgados ontem pelo Eurostat, órgão encarregado das estatísticas do bloco, a UE importou 29% menos do Brasil entre janeiro e maio deste ano do que no mesmo período de 2008. Os dados por país referentes a junho não foram divulgados, mas os números gerais sobre importações não indicam reversão significativa de tendência.
Em termos percentuais, o corte só fica atrás da queda nas compras vindas da Rússia, de 43%, e empata com o do Japão.
O movimento se explica sobretudo pelas áreas onde houve maior queda das importações pelo bloco: energia e matérias-primas (ambas com recuo de 39%). Juntos, os 27 países da União Europeia compraram 59% a menos desse setor do Brasil, em relação ao mesmo período do ano passado.
A queda (em valor) reflete sobretudo a derrocada do preço do petróleo no mercado internacional, cujas cotações caíram, em média, pouco mais de 50% nos períodos comparados.
Ainda assim, a balança comercial da UE com o Brasil, décimo parceiro comercial do bloco, fechou os cinco primeiros meses do ano favorável ao país em 2,6 bilhões, com importações pela UE de 10,3 bilhões e exportações de 7,6 bilhões. E, apesar da queda abrupta na comparação com 2008, a trajetória mês a mês foi relativamente estável.
Déficit encolhe
No total, tanto a União Europeia quanto a zona do euro reduziram seu déficit comercial no primeiro semestre.
No caso dos 16 países adeptos da moeda comum, junho trouxe o terceiro e maior superávit consecutivo desde o estouro da crise, em mais um sinal de que a economia do bloco começa a se recuperar -ainda que de forma incipiente e desigual.
Nos dados preliminares do Eurostat, os 16 países registraram superávit de 4,6 bilhões em junho, contra 2,1 bilhões no mês anterior e zero em junho do ano passado.
Embora o saldo semestral continue no vermelho, o déficit encolheu para 1,6 bilhão. Sinal positivo, as importações pararam de cair, e a retração das exportações mês a mês foi de 0,1%, nos números ajustados sazonalmente.
O quadro é menos róseo se tomados todos os 27 países do bloco, mas ainda assim houve redução significativa do déficit para 67,4 bilhões, em relação aos 118 bilhões do mesmo período do ano passado.
De acordo com os dados do Eurostat, a União Europeia teve déficit de 4,3 bilhões em junho -menor, no entanto, que os 7,2 bilhões negativos registrados em maio e os 19,3 bilhões de junho do ano passado. As exportações encolheram 0,3%, e as importações tiveram recuo de 1,4%.
Argentina ainda retém produto brasileiro, reclama exportador
Pressionado pelos empresários brasileiros, o governo argentino anunciou no fim de julho a liberação em massa das licenças não-automáticas de importação de móveis e calçados fabricados no Brasil, mas ainda continua retendo por até 130 dias as guias dos produtos têxteis, enquanto o prazo autorizado pela OMC (Organização Mundial do Comércio) não pode ultrapassar os 60 dias.
Segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), são 160 categorias de mercadorias do segmento que estão encalhadas esperando a boa vontade da burocracia argentina, sobretudo os itens para cama, mesa e banho. A medida, que já vem sendo aplicada há dez meses sob o pretexto da crise econômica mundial, permite às autoridades do país vizinho controlarem os volumes de produtos importados.
"Estamos colocando com clareza para o governo argentino que não existe sentido em continuar penalizando o Brasil por tanto tempo", reclama o diretor superintendente da Abit, Fernando Pimentel. Para ele, os empresários brasileiros tem sido alvo de discriminação enquanto o mercado do maior parceiro comercial do país no Mercosul está sendo tomado pelos chineses.
As vendas de produtos têxteis brasileiros para o vizinho, segundo dados da Abit, caíram 43% nos sete primeiros meses de 2009 em relação ao mesmo período do ano passado, passando de US$ 300 milhões para US$ 169 milhões. Desde 2005, a participação brasileira nas compras argentinas dessas mercadorias recuou de 41% para 23%, ao passo que o crescimento chinês (de 4% para 23%) ocupou essa lacuna e igualou a posição brasileira.
Pimentel avalia que a abertura para a China acabará fragilizando a indústria argentina, em vez de protegê-la. Ele cobrou uma atuação mais dura das autoridades brasileiras para o cumprimento dos prazos legais de liberação. "O governo precisa ser mais incisivo", reforçou.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, reconhece que ainda existem problemas nas liberações de alguns setores, mas afirma que o governo argentino está mais disposto a fazer concessões. Segundo ele, a dificuldade de acordo no segmento têxtil se deve às múltiplas entidades que representam o setor no país vizinho.
Ramalho também negou a hipótese dos produtos chineses estarem sendo favorecidos em detrimento dos brasileiros. "Como o Brasil tem uma participação maior no mercado argentino, proporcionalmente a queda nos embarques também é maior que a de outros países."
Segundo técnicos do ministério, a principal divergência entre empresários argentinos e brasileiros diz respeito ao comércio de lençóis e toalhas, cujo volume de exportações caiu 30% no primeiro semestre deste ano em relação à primeira metade de 2008, de cerca de 3.500 toneladas para 2.400 toneladas. "Outros ramos da indústria obtiveram sucesso primeiro, mas isso não significa que paramos de nos queixar. Continuamos estimulando as negociações", disse Ramalho.
Outro setor afetado por essas barreiras ao comércio com aquele país é a indústria de brinquedos, que calcula um prejuízo de US$ 15 milhões acumulado desde o início do ano passado. "Não sabemos mais o que fazer, pois já faz um ano e meio que não conseguimos entrar na Argentina", afirmou Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, que representa o setor.
Por se tratar de um tema delicado na relação entre os dois países, a embaixada Argentina no Brasil não quis se pronunciar sobre a liberação das licenças. A próxima reunião bilateral entre os setores e os negociadores de cada governo está marcada para os dias 3 e 4 de setembro, em Buenos Aires.
Veículo: Folha de S.Paulo
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