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10/07/2009 14:13 - Financiamentos do BNDES crescem 11% no 1º semestre

Banco desembolsa recorde de R$ 43 bi no período; Coutinho diz que "o pior já passou" - Para o presidente do banco de fomento, o avanço nos investimentos indica que o país está se preparando para crescer quando a crise passar


 

O desempenho geral do BNDES no primeiro semestre deste ano registrou recordes e revelou aceleração no ritmo de investimento em todos os indicadores, o que levou o presidente do banco, Luciano Coutinho, a reafirmar que "o pior já passou".

 

Foram desembolsados R$ 43 bilhões no período, com avanço de 11% em relação a igual período do ano passado, antes do pior momento da crise. Em 12 meses, a liberação de recursos atingiu o pico de R$ 96,6 bilhões, 22% acima do valor liberado nos 12 meses anteriores.
"Não vencemos a crise ainda. Temos de trabalhar na consolidação do crescimento, mas são indícios alvissareiros", afirmou Coutinho. "O avanço nos investimentos indica que o país está se preparando para crescer sem pressão inflacionária quando a crise passar."

 

Alguns dos maiores projetos financiados neste ano são da área de petroquímica -ligados à Petrobras- e de energia elétrica -com destaque para a usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia.

 

Os dados permitem concluir que a romaria de empresários e executivos ao banco em busca de financiamentos também é recorde. As consultas, primeira etapa de qualquer pedido de financiamento, chegaram a somar R$ 111 bilhões neste ano, e R$ 207 bilhões em 12 meses. São taxas 40% maiores em relação a períodos anteriores.
"As consultas estão crescendo em todos os setores, tanto na indústria como nos setores de infraestrutura e de serviços", diz Coutinho.

 

A estimativa do BNDES é que os desembolsos em 2009 fiquem entre R$ 110 bilhões e R$ 120 bilhões. No ano anterior, o total de financiamentos do banco atingiu R$ 91 bilhões.
O setor de serviços foi o que mais avançou na obtenção de crédito do banco: os financiamentos cresceram 32% neste ano, fechando em R$ 5 bilhões. Indústria, infraestrutura e agropecuária cresceram entre 8% e 10%, e levaram, respectivamente, R$ 17,3 bilhões, R$ 16,4 bilhões e R$ 3,1 bilhões.

 

Desde que a crise se acentuou, no quarto trimestre do ano passado, o governo tem anunciado uma série de medidas para atenuar os efeitos da desaceleração econômica. Na área de crédito, o BNDES tem exercido papel fundamental dentro dessa estratégia.

 

Primeiramente, decreto do início do ano assegurou que o banco retivesse parte de seu lucro para reforçar seu caixa, em vez de repassá-lo ao Tesouro.
O Tesouro, por sua vez, autorizou crédito extra de R$ 100 bilhões para que o banco compensasse a queda no crédito do setor privado. Em maio, o BNDES também cortou taxas de juros para financiamento de curto prazo.

 

Na semana passada, o governo anunciou redução na taxa de juros de longo prazo, base para os financiamentos do banco, de 6,25% para 6% ao ano. Também foram prometidos cortes adicionais para linhas de exportação e compra de máquinas. Essas reduções, segundo Coutinho, devem chegar efetivamente ao banco nos próximos dias. "Dependemos da publicação do decreto, que está sendo finalizado hoje [ontem]."

 

Participação de pequenas empresas não avança

 

Apesar dos esforços do BNDES para fazer seus financiamentos chegarem a pequenas e médias empresas, a fatia levada pelas companhias de menor porte entre janeiro e junho deste ano, neste momento em que o banco prevê recorde em crédito, está estacionada no mesmo patamar dos últimos quatro anos: 23%.

 

A marca está longe do melhor resultado obtido, em 2004, quando 31,5% do que o banco emprestou foram destinados a negócios com faturamento de até R$ 60 milhões.

 

Dos R$ 43 bilhões liberados até agora, R$ 9,5 bilhões foram para as empresas nessa faixa de faturamento anual. A estimativa do banco é que os financiamentos totais do banco cheguem a R$ 120 bilhões em 2009, 31% a mais do que no próximo ano.

 

O desafio é tentar aumentar, nesse bolo, a participação dos negócios menores. Essas empresas, que naturalmente enfrentam maior dificuldade no acesso ao crédito nos bancos, sofrem ainda mais com o escassez das linhas de financiamento em períodos de crise.

 

Nos primeiros seis meses do ano, pequenas e médias empresas, além de pessoas físicas, receberam R$ 9,5 bilhões dos R$ 42 bilhões concedidos em financiamentos.

 

Maiores

 

Levantamento feito pela Folha na página do BNDES na internet mostra que negócios e projetos ligados à Vale e aos grupos Votorantim, Vicunha, Andrade Gutierrez e Odebrecht receberam 16% dos R$ 94 bilhões desembolsados entre abril de 2008 e março de 2009 -os dados mais recentes disponíveis.

 

Para o economista Mailson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria, a expectativa é que essa concentração piore neste ano.
"Com a crise, pequenas e médias empresas estão mais empenhadas em sobreviver do que em pensar em investimentos. Não está nos planos delas aumentar a capacidade de produção. As grandes, para quem pensar no longo prazo é estratégico, é que puxarão mais e mais recursos do banco", diz o economista.

 

O economista lembra, por exemplo, que, na área de infraestrutura, os grandes projetos são capitaneados por empresas que entraram na concessão de serviços e, portanto, são obrigadas a manter investimentos -ou por questões contratuais ou para evitar a defasagem tecnológica.

 

Estariam entre esses casos os investidores em estradas, energia elétrica e no setor de telecomunicações.

 

Um especialista em bancos públicos consultado pela Folha, que prefere não se identificar, afirma que reconhece no banco o esforço para que as pequenas empresas tenham acesso ao crédito.

 

Ele ressalta, ainda, o fato de que as grandes corporações têm, em geral, uma cadeia de fornecedores ao seu redor formada por empresas de menor porte, o que as tornaria beneficiadas pelos desembolsos do BNDES às grandes. (SL)

 

Banco diz que facilitará acesso a microempresa

 

O BNDES afirma que pelo menos duas ações em andamento permitirão um acesso maior das pequenas empresas ao crédito do banco nos próximos anos. Além disso, argumenta que as microempresas receberam 22% mais recursos entre janeiro e junho deste ano, em relação ao primeiro semestre do ano passado. Os desembolsos para todos os setores cresceram, na mesma comparação, 11%.

 

Na semana passada, o governo aprovou a criação de um fundo para garantir empréstimos a pequenas e médias empresas. O fundo garante que, em caso de inadimplência, os bancos que repassam dinheiro do BNDES a pequenas e médias empresas recebam 80% da dívida.
"A dificuldade que as pequenas e médias empresas têm para dar garantia em um empréstimo era o maior entrave", afirma o diretor de planejamento do banco, João Ferraz.

 

Outra ação para aumentar o crédito a pequenas empresas é o cartão BNDES. O cartão é uma espécie de linha pré-aprovada para pequenos empresários comprarem máquinas, veículos e computadores. O juro cobrado é de 1% ao ano. "Em um ano e meio, aumentamos a emissão em 393%", diz Ferraz. Hoje, são mais de 200 mil cartões emitidos.

 

Ele alega, ainda, que "as 1.700 maiores indústrias brasileiras respondem por 90% dos investimentos do setor em todo o país. Se, no portfólio do BNDES, as pequenas tomam 23% dos recursos, estamos melhor do que o padrão estrutural da economia".

 

Para este ano, porém, o diretor de planejamento diz não acreditar que seja possível liberar para pequenas e médias empresas mais do que os 23% desembolsados até junho.

 

Veículo: Folha de S.Paulo

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