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27/02/2020 10:33 - Coronavírus pode fazer PIB crescer menos de 2%

Com o primeiro caso de coronavírus confirmado no Brasil, economistas avaliam que o impacto da epidemia na atividade econômica pode reduzir em até 0,3 ponto percentual o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, deixando o país cada vez mais distante do avanço de 2,2% estimado pelo Boletim Focus, que congrega as previsões de mercado.

Com a piora do cenário, crescimento pode ficar abaixo de 2%. Preocupa ainda a visão de que o efeito negativo do surto, que ficaria restrito ao primeiro trimestre do ano, vai se prolongar, podendo afetar o desempenho do ano todo. Com isso, a confiança já vem caindo.

A Tendências estima que o PIB brasileiro pode sofrer redução de 0,15 a 0,3 ponto percentual. Por ora, a consultoria mantém previsão de 2,1%. Com retomada do crédito e renda: Setores como calçados e roupas apostam em alta de até 3% em 2020, mesmo com coronavírus

PIB global menor

Para o PIB mundial, a redução seria de 0,1 ponto percentual - de 3,1% para 3% este ano -, estima a Tendências, enquanto na China a economia deve crescer 5,5%, abaixo dos 5,8% previstos inicialmente.

- Estimamos que o primeiro trimestre será afetado, mas ainda existe o risco de que o segundo também seja e até mesmo o ano todo. Por enquanto é difícil mensurar - diz Silvio Campos Neto, economista sênior da Tendências.

Até aqui, os grandes bancos mantêm suas previsões para o PIB deste ano, sendo Santander com 2%, Bradesco com 2,5% e Itaú com 2,2%.
Mas já surgem revisões. Na última semana, o Banco ABC divulgou projeção de alta de 2%, recuando de 2,5%, sendo um corte de 0,3 ponto percentual devido aos efeitos do coronavírus.

- É uma sequência de más notícias. Não é um problema de demanda brasileira, mas de risco de não ter a oferta de matéria-prima. Temos que torcer para que esse ambiente não aborte a recuperação de consumo, que vinha acontecendo - afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe do ABC.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, reconhece que o avanço do novo coronavírus pode afetar o crescimento do país neste ano. Mas manteve a projeção alta de 2,4% do PIB. A crise global, segundo ele, pode afetar o mercado nacional por meio de três canais: demanda global, menor oferta de insumos e preços de commodities.

Só em 2019, o mercado brasileiro comprou cerca de US$ 35 bilhões em produtos chineses - 98% desse valor em importação de manufaturados.
Tanto Leal quanto José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, comparam possíveis efeitos do coronavírus com a greve dos caminhoneiros de 2018, pela trava na chegada de matéria-prima e insumos.

- É um pequeno choque na oferta. A diferença é que na greve tinha uma participação de decisão do governo. Da China, não, o que eleva o grau de incerteza - conta Gonçalves, que revisou previsões de crescimento do PIB de 2,2% para 1,4% em 2020, sendo 0,2% de impacto do coronavírus. - A gripe é mais um limitador à lenta retomada brasileira.

Para Leal, há o impacto ainda não mensurável na confiança dos agentes econômicos. O índice de confiança do consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV) recuou para 87,8 pontos, o menor patamar desde maio de 2019:

- Vínhamos de um momento de otimismo, agora as notícias são negativas, com a alta do dólar e coronavírus. É o maior risco, algo momentâneo ser mais duradouro por causa da perda de confiança.

Na indústria eletroeletrônica, as empresas já vivem problemas na importação de materiais, componentes e insumos. Pesquisa da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), divulgada na véspera de carnaval com 50 companhias, mostrou que 57% das entrevistadas já relatam essa dificuldade, sobretudo os fabricantes de computadores e celulares. Há 15 dias, eram 52% dos ouvidos.

Hoje, 42% dos itens usados na produção do setor vêm da China, tendo somado US$ 7,5 bilhões em 2019. O presidente executivo da entidade, Humberto Barbato, diz que a pesquisa indica agravamento da situação:

“O momento é delicado, e devemos ter diversas paralisações (de empresas) daqui para a frente. O problema só não é mais grave porque dispomos da produção local”.
Das empresas entrevistadas, 4% já operam com paralisação parcial. Outras 15% programaram fazer o mesmo nos próximos dias. Com isso, 17% das pesquisadas estimam que não devem atingir a produção prevista para este trimestre, que ficará, em média, 22% abaixo do projetado.

Alexandre Ostrowiecki, presidente da Multilaser, fabricante de celulares a aspiradores, diz que os efeitos da epidemia devem chegar logo:

- Vamos ter falta de produtos, mas quão severa vai ser essa falta ainda depende do ritmo das fábricas, que estão voltando ao trabalho.

A Multilaser produz dois milhões de produtos por mês nas fábricas de Extrema (MG) e Manaus (AM), cada uma com cerca de 200 componentes vindos da China.

Impactos diferentes

Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), avalia que o impacto será sentido de formas diferentes, dependendo do setor.

- Os setores dependentes de importação da China já sofrem. O que se agrava com a alta do dólar. O alívio poderia vir do estoque, mas que neste momento é reduzido, por causa da crise. Outra saída é substituir importações, algo que requer algum tempo e que, em alguns casos, não é viável.

Para o comércio, o efeito pode ser até positivo:

- Com a queda da taxa de juros e a inflação lá embaixo, o comércio tende a ganhar. A queda de preço de commodities como soja e milho, melhora o preço desses itens no país. O petróleo mais barato colabora para a redução do custo de frete.       
   

 

Fonte: O Globo 

 

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