Economia
17/02/2020 12:16 - Alta já pesa no bolso
Apesar de nova intervenção do Banco Central que provocou recuo na cotação do dólar ontem, a moeda americana acumula valorização de 7,23% no ano, e essa alta já começa a chegar ao bolso do consumidor. Os preços de vinhos, queijos e outros importados subiram entre 8% e 12%.
Com o segundo dia consecutivo de ação do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, em mais uma operação de US$ 1 bilhão, o dólar comercial recuou ontem 0,79%, a R$ 4,299, encerrando a semana com queda de 0,46%. No ano, no entanto, a moeda americana acumula valorização de 7,23%, e essa alta já começa a chegar no bolso do consumidor. De acordo com a Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), o aumento médio oscila entre 8% e 12% para queijos, vinhos e gêneros alimentícios em geral. O BC ofertou ontem 20 mil contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda de dólar no futuro) no mercado, no total de US$ 1 bilhão. Foi a mesma medida adotada na quintafeira, quando o dólar atingiu R$ 4,38 logo pela manhã. Essas atuações recentes, porém, não são para ditar um novo patamar para a moeda americana. A atuação do BC está relacionada a uma correção em meio aos recentes recordes históricos da moeda americana, disse Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
A oferta de contratos de swap cambial não altera o nível das reservas internacionais, atualmente em torno de US$ 360 bilhões. Nos contratos de swap, o BC só perde se, na data de vencimento, a cotação do dólar subir; caso caia, há lucro. Já as vendas diretas de moeda no mercado à vista reduzem as reservas, pois os recursos saem delas. O BC fez operações de venda no ano passado. Segundo o presidente da Abba, Adilson Carvalhal Júnior, as empresas que trabalham com produtos importados vinham tentando segurar os repasses, até o momento em que o dólar atingiu R$ 4,15:
Depois disso, ficou impossível segurar esses reajustes. O reflexo na gôndola vai depender dos estoques das empresas. O avanço da divisa ultrapassou os limites das empresas, que estavam negociando com os fornecedores desde o fim do ano passado.
USO DE COTAÇÃO ANTERIOR
O Talho Capixaba, com lojas na Gávea e Leblon, na Zona Sul do Rio, negociou com fornecedores o câmbio usado nos últimos contratos, fechados antes do salto recente do dólar, explicou o sócio Daniel Swerts, sem revelar qual é a cotação. Outra estratégia é segurar a margem de lucro.
Estamos tentando alternativas para segurar os preços. Hoje não há espaço para altas, pois é ruim para o consumidor. Por isso, todos estão fazendo esse esforço, varejo e fornecedores, disse Swerts.
O Farinha Pura, na Cobal do Humaitá, também negociou com fornecedores a cotação antiga do dólar para comprar itens como vinhos. Quando percebemos que o dólar estava subindo, sentamos com os fornecedores e negociamos. Estamos em um momento em que todos têm de fazer um esforço para ativar a economia ?disse Licia Vidigal, diretora executiva do Farinha Pura.
Segundo ela, estratégia semelhante foi feita com outros itens não perecíveis, como biscoitos e chocolates: Mas há itens em que não é possível fazer estoque, como laticínios e presuntos. Nesse caso, algum reajuste acaba sendo necessário. Os vinhos europeus tiveram alta entre 6% e 8%, já que o euro oscilou menos que o dólar. Já os vinhos importados de outros países registraram avanço entre 8% e 12%. As cervejas importadas subiram menos também: até 6%, segundo a Abba.
E nem os sapatos escapam. Segundo Haroldo Ferreira, presidente executivo da Abicalçados, se o dólar continuar no atual patamar, o repasse será inevitável. A moeda americana afeta diretamente o custo de matérias-primas do setor petroquímico essenciais à indústria de calçados.
O problema é a volatilidade. Isso atrapalha no fechamento dos contratos e na negociação com os fornecedores. O setor, até agora, vem tentando segurar os repasses porque o consumidor não aceita aumento de preço. Mas a questão é até quanto esse dólar vai subir. Assim, vai ter que ser feito esse repasse, disse Ferreira.
BOLSA RECUA 1,11%
No mercado de ações, o Ibovespa (índice de referência da Bolsa brasileira) caiu 1,11%, aos 114.380 pontos. Na semana, acumulou alta de 0,53%. Pesaram os dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). O indicador recuou 0,27% em dezembro frente ao mês anterior. Um resultado menos animador no fim do ano passado acaba interferindo um pouco nas projeções para a economia em 2020, explicou Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais. Antes, a perspectiva era de avanço na faixa de 2,5% para o PIB neste ano. Agora, a leitura de grande parte do mercado está na faixa de 2%, com viés de baixa. Entre os principais papéis do Ibovespa, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras recuaram 0,97%, a R$ 31,62, enquanto as preferenciais (PN, sem voto) caíram 1,01%, a R$ 29,42. A mineradora Val e teve queda de 2,19%, a R$ 51.
No setor bancário, os papéis ON do Banco do Brasil caíram 1,91%, a R$ 49,85. As ações PN do Bradesco e do Itaú Unibanco recuaram 2,25% e 1,69%, respectivamente. Na Ásia, o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, encerrou em alta de 0,7%. Em Hong Kong, o Hang Seng avançou 0,31%. Mas, em Tóquio, o Nikkei destoou e caiu 0,59%. Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 0,09%, enquanto o S&P 500, mais amplo, teve alta de 0,18%. Já a Bolsa eletrônica Nasdaq, que reúne os papéis de tecnologia, subiu 0,2%.
Fonte: O Globo
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