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21/01/2019 11:26 - Brasil patina na integração à Indústria 4.0, tema do Fórum de Davos deste ano

O tema principal do Fórum Econômico Mundial de Davos este ano é a Indústria 4.0, como tem sido descrito o avanço de novas tecnologias, a exemplo da inteligência artificial, nas linhas de produção. O assunto, no entanto, não será tão confortável para o presidente Jair Bolsonaro. O Brasil é um dos países mais atrasados nessa corrida tecnológica. Ocupa a 39ª posição no mais recente ranking da Unctad, braço das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, dos 70 países com maior emprego de robôs na indústria. Enquanto no Brasil há cerca de 10 robôs para cada 10 mil empregados industriais, na Coreia do Sul, a primeira da lista, há 350.

 

Um estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no ano passado apontou que mais da metade dos segmentos industriais brasileiros tem problemas de competitividade. O trabalho cruzou dados de produtividade, exportação e taxa de inovação de diversos segmentos e comparou-os ao desempenho desses mesmos setores nas 30 maiores economias do mundo. Em geral, a produtividade dos segmentos no Brasil é inferior à média internacional, e há baixa inserção no comércio exterior.

 

— Temos uma economia de baixo investimento desde os anos 1990 e dificuldades de acompanhar as inovações do resto do mundo. No geral, nosso maquinário e bens de capital são relativamente velhos e fora da fronteira tecnológica, o que resulta em menos produtividade e competitividade — avalia Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

 

Riscos da inovação

 

Um terço de duas mil companhias de 26 países ouvidas numa pesquisa da consultoria PwC dizia ter alto nível de digitalização em 2016. Esse percentual deve chegar a 72% até 2021, estima o estudo. A maioria das empresas no mundo espera ter retorno de seus investimentos na indústria 4.0 em dois anos ou menos. Apenas um terço delas acredita que este prazo deve ser mais longo, entre três e cinco anos.

 

Especialistas do Fórum Econômico alertam que os países que não se prepararem agora ficarão para trás nessa corrida tecnológica, colocando em risco a sobrevivência de seus parques industriais. A distância a ser percorrida na era da quarta revolução industrial será bem maior, tendo em vista a velocidade das transformações. O avanço da digitalização também gera riscos que demandam mecanismos de proteção.

 

— Hoje, há cem milhões de telefones fixos no mundo. Mas são dois bilhões de iPhones, e este aumento aconteceu em apenas 11 anos. Cresceram os riscos, como o de ciberataques. Já não é mais se vão acontecer, mas quando. Podemos estar diante de águas desconhecidas — diz John Drzik, presidente de Risco Global e Digital da Marsh, empresa de seguros e análise de risco.

 

O fundador do Fórum, Klaus Schwab, elenca algumas preocupações atuais com o avanço da Indústria 4.0, como possíveis questões de segurança provocadas por mudanças no equilíbrio de poder entre os países e o aumento das desigualdades, o que fragmentaria as sociedades.

 

No Brasil, especialistas apontam a conjuntura de baixo crescimento, investimento retraído e alto desemprego como um obstáculo adicional nessa corrida. A digitalização do setor industrial é um fenômeno recente no mundo, do começo desta década, mas o país acabou prejudicado pela recessão entre 2014 e 2016. O impacto no mercado de trabalho também preocupa, pois o novo modelo exige menos trabalhadores e mais qualificação, outro gargalo brasileiro.

 

— Precisamos de um esforço do governo no apoio a pesquisas de desenvolvimento e inovação e à concessão de crédito para atravessar esse cenário — diz João Emílio Gonçalves, gerente executivo de Política Industrial da CNI. — Aderir à Indústria 4.0 não é mais uma escolha, pois não há como desassociá-la do aumento da competitividade.

 

Embora a disseminação de robôs seja um indicador, a Indústria 4.0 contempla a total interação entre fabricantes, fornecedores, revendedores e clientes por meio de vários instrumentos tecnológicos, como sensores e redes baseadas em nuvens de dados. Nem tudo demanda grande investimento financeiro.

 

— Há projetos de baixo custo para grandes empresas, entre R$ 1,5 milhão e R$ 5 milhões, e pequenas, entre R$ 60 mil e R$ 200 mil — diz Gonçalves.

 

A indústria automotiva lidera investimentos nesse novo conceito. Em Resende, no Sul Fluminense, a MAN, fábrica de caminhões e ônibus da Volkswagen, produz caminhões “sob medida” graças às tecnologias 4.0 desde 2017.

 

— O cliente vai a uma revenda e especifica um caminhão. Essas especificações geram necessidades de componentes, que são enviadas aos nossos fornecedores. Recebemos esses componentes na nossa fábrica e começamos a produzir o caminhão por meio de robôs de solda, de pintura e de manipulação de componentes. Não existe intervenção manual — conta Adilson Dezoto, vice-presidente de Produção e Logística da empresa.

 

 

Fonte: O Globo - Rio de Janeiro

 

 

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